Greg Becker, do SVB, foi ‘o cara’ do dinheiro do Vale do Silício por 30 anos, até que de repente ele não era

Greg Becker era presença constante em festas privadas, eventos beneficentes e festas do Vale do Silício, mas não conseguiu evitar a onda de resgates

Bloomberg

Greg Becker, CEO do Silicon Valley Bank (Foto: Bloomberg)
Greg Becker, CEO do Silicon Valley Bank (Foto: Bloomberg)

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(Bloomberg) — No início de 9 de março, quando as ações do SVB Financial Group começaram sua ‘espiral de morte’, o CEO Greg Becker pegou o telefone.

Becker começou a ligar para amigos, esperando que parte da boa vontade que ele havia passado décadas acumulando como chefe do banco da comunidade de startups pudesse ser retribuída. Entre os investidores Venture Capital (VC) com quem ele conversou estava Alex Rampell, sócio da Andreessen Horowitz (a16z). Becker queria que a a16z apoiasse o SVB, o banco comercial da empresa, enquanto os outros clientes fugiam, de acordo com uma pessoa com conhecimento da conversa.

Nas 24 horas seguintes, o A16Z e muitas outras gestoras de VC e empresas do ecossistema de empreendedorismo perceberam a situação precária do banco, com alguns  fundadores sendo aconselhados a sacar dinheiro. Na tarde seguinte, o SVB já estava nas mãos da Federal Deposit Insurance Corp (FDIC).

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O colapso do SVB pôs fim à carreira de 30 anos de Becker no banco. Pouco mais de uma semana depois de ele ter pedido calma aos clientes em uma teleconferência organizada às pressas, enquanto o dinheiro escorria de suas contas, a controladora do banco entrou com pedido de falência.

Os órgãos reguladores estão investigando as vendas de ações que Becker e outros executivos fizeram apenas algumas semanas antes de seu colapso, e o presidente dos Estados Unidos Joe Biden pediu ao Congresso que determinasse punições mais duras para os chefes de bancos se a má administração contribuísse para a falência das instituições.

Por meio de seus advogados, Becker não respondeu aos pedidos de comentários sobre esta história, que tem como base conversas com diversos investidores de VC e fundadores. Um representante do SVB também não respondeu e a a16z não quis comentar.

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No Vale do Silício, a saga frenética deixou empresários e investidores questionando seus relacionamentos com o homem com quem faziam negócios há anos.

Um desses investidores, que fazia negócios com o SVB e incentivou muitas de suas startups a fazer o mesmo, disse que achava que o conhecia bem depois de mais de uma década de interações. Agora, ele diz, o fato de Becker ter vendido ações em 27 de fevereiro, com um plano regulado e preestabelecido, tem feito esse investidor repensar a relação com banqueiro.

Caminho para CEO

Becker, 55, cresceu em uma fazenda no nordeste do estado americano de Indiana e, depois de se formar pela Kelley School of Business da Universidade de Indiana,  ingressou na Comerica Inc. em Detroit, no estado de Michigan.

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Durante um inverno brutal em Michigan, onde a temperatura pode ficar negativa durante vários dias, o gerente de Becker pediu que ele fosse para a Califórnia por um curto período, para trabalhar como financiamento para startups. Ele nunca mais voltou.

Becker ingressou no Silicon Valley Bank em 1993, quando o banco ainda estava se recuperando das consequências de uma crise imobiliária comercial da Califórnia. Em seis anos, foi promovido para supervisionar a emergente área de capital de risco da empresa e ajudou a criar seu primeiro fundo de ações direto.

Em 2008, após ser chefe do banco comercial e diretor de operações, Becker foi nomeado presidente do banco. Três anos depois, ele assumiu o cargo de CEO.

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A essa altura, o Silicon Valley Bank já havia se tornado um gigante na indústria de tecnologia, com mais de duas dúzias de escritórios em todo o mundo.

Ryan Breslow, que mais tarde fundou as empresas de pagamentos Bolt Financial Inc lembra-se de ter encontrado Becker em 2014. Breslow tinha acabado de sair da Universidade de Stanford para construir uma startups de carteira de bitcoin.

Naquela época, embora oa criptografia estivesse chamando a atenção de engenheiros, os investidores de capital de risco eram céticos e as instituições financeiras tradicionais, em muitos casos, hostis. Isso porque a tecnologia emergente não era apenas arriscada do ponto de vista regulatório, mas, se bem-sucedida, poderia representar uma ameaça aos bancos.

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Então, quando Breslow conseguiu marcar uma reunião com o SVB, ficou emocionado. Quando entrou na sala e viu o próprio Becker sentado ali com alguns executivos, ele ficou ainda mais surpreso. “Ele fez perguntas difíceis, mas também estava muito aberto”, disse Breslow, que não é muito conhecido por distribuir elogios à elite do Vale do Silício. “Ele parecia progressista, mas também como um CEO de banco sério.”

Nos anos seguintes, o dinheiro inundou o SVB à medida que as startups achavam cada vez mais fácil levantar fundos e recorriam ao banco para tudo, desde depósitos multimilionários a dívidas de risco e hipotecas pessoais. As ações de sua controladora dispararam de cerca de US$ 50 por ação em 2011 para mais de US$ 755 cada uma em seu pico em 2021.

Durante todo este tempo, Becker era um rosto familiar no circuito de jantares privados, eventos de caridade e festas do Vale: os atalhos para fazer negócios em uma indústria conhecida pela formação de ‘clubinhos’.

O SVB patrocinou, regularmente, eventos que reuniam clientes – e potenciais clientes – com VCs, advogados, contadores e auditores, incluindo shows ao ar livre e jogos de futebol americano. Nesse ambiente, Becker aparecia sempre de forma confiável, estabelecendo uma reputação como um importante player no ecossistema de startups.

Enquanto Becker aumentava seu círculo de conexões, os funcionários do SVB aprofundavam as relações com os clientes. Dezenas de investidores de risco e fundadores descreveram os negociadores do SVB em termos elogiosos, às vezes chamando-os de amigos. As mesmas pessoas disseram que gostavam de Becker, mas sabiam muito pouco sobre ele.

O jogo

Entre as panelinhas do Vale do Silício, a máquina que Becker ajudou a construir era quase universalmente apreciada. Seus banqueiros entendiam como as startups funcionavam e nenhuma explicação longa era necessária sobre por que uma empresa em seu estágio inicial ainda não tinha receita, ao contrário de alguns dos bancos maiores.

As startups às vezes quebravam cláusulas de contratos de crédito, de acordo com vários investidores de risco, mas o SVB entendeu que jogar o jogo significaria enfrentar os altos e baixos de uma startup e poderia ter uma recompensa muito maior no longo prazo do que confiscar ativos ou forçar uma empresa a fechar.

Longe do escritório, Becker passava um tempo pedalando com um grupo chamado Over the Hill Bike Club, que podia rodar mais de 160 quilômetros por dia. Junto com sua segunda esposa, a professora da Stanford Law School, Marilyn Bautista, ele foi um doador importante para a Sacred Heart Schools, uma escola particular em Atherton, Califórnia.

Becker também fez contribuições pessoais para o grupo de lobby TechNet, que pressiona por políticas para beneficiar o Vale do Silício e a indústria de tecnologia em geral, e, durante décadas, foi um doador para as campanhas de candidatos do Partido Democrata. Meg Whitman, que concorreu ao cargo de governadora da Califórnia em 2010 e perdeu, foi uma das poucas pessoas do Partido Republicado que ele apoiou.

Em 7 de março, Becker falou em uma conferência do Morgan Stanley no Palace Hotel de San Francisco. Foi uma breve pausa para o CEO, que passou dias se reunindo com banqueiros do Goldman Sachs Group Inc. para discutir o plano do SVB de vender uma grande carteira de títulos. Mas ninguém sabia: ele divertia os ouvintes com histórias de jantares com a Bain Capital e reuniões com empresas em estágio de pré-IPO, e não respondeu a uma única pergunta sobre a posição financeira de sua própria empresa.

No dia seguinte, o anúncio da perda de US$ 1,8 bilhão que assumiria na carteira de títulos – juntamente com um malfadado aumento de capital de US$ 2,25 bilhões – desencadeou a queda das ações e a corrida bancária que engolfou o SVB e levou as autoridades americanas a garantir a segurança dos depósitos do banco.

A crise bancária mais ampla, que agora abrange vários credores regionais dos EUA e o gigante suíço Credit Suisse Group AG, desde então desviou parte da atenção do SVB e Becker. Mas, a portas fechadas, os esforços para salvar o que restou de seu império continuam.

© 2023 Bloomberg L.P.

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