Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4): Por que as aéreas brasileiras não estão entre as preferidas dos analistas na América Latina?

Brasileiras tem mostrado recuperação, mas aéreas do Panamá e do México estão menos alavancadas e têm predileção das casas de análise

Mitchel Diniz

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Com a desvalorização do dólar e uma redução no preço dos combustíveis, a pressão sobre os custos no setor aéreo da América Latina diminuiu e as empresas desse segmento voltaram ao radar dos investidores. O tráfego de passageiros retorna aos níveis de antes de pandemia e a conjuntura se mostra favorável à recuperação de margens. Mas o sentimento de otimismo não é o mesmo para todas as companhias aéreas e, no caso das brasileiras, a cautela permanece.

Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) amargaram as maiores perdas do Ibovespa no mês passado, ainda que ambas tenham mostrado progresso nas negociações de suas dívidas e números operacionais considerados fortes.

Nem mesmo o mais recente balanço trimestral da Gol, elogiado por quem acompanha a empresa, impediu que a área fosse na contramão da Bolsa em julho. No acumulado do ano, contudo, vale ressaltar que as ações ainda registram fortes ganhos.

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Os analistas observaram uma melhora sequencial na rentabilidade da aérea, com um avanço nas receitas e uma contração nos custos. Porém, avaliam que a alavancagem da companhia segue elevada, mesmo após uma redução de sua dívida líquida.

Lidar com o custo do endividamento também é um desafio para a Azul, segundo analistas, empresa que reportará resultados referentes ao segundo trimestre de 2023 no próximo dia 10 de agosto.

Em um recente relatório sobre o setor de transportes na América Latina, o Goldman Sachs afirmou acreditar que Azul e Gol devem se beneficiar de um cenário de combustível mais barato e alcançar margens de antes da pandemia nas próximos anos. Os analistas avaliam que as empresas estão trabalhando de forma racional, repassando parcialmente a queda nos custos para o preço das tarifas.

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Apesar de reconhecer avanços, e elevar o preço-alvo de GOLL4 para R$ 13,50, o banco reduziu a recomendação da empresa para neutra no mês passado. O papel havia entrado na lista de “compras” do Goldman Sachs em 2020 e desde então acumulou queda de mais de 30%, enquanto o Ibovespa avançou mais de 20%.

Para Azul, o banco revisou para baixo as previsões de receita e custo e elevou, ligeiramente, as expectativas de lucro com as operações. O preço-alvo de AZUL4 foi elevado de R$ 19,50 para R$ 22,40, mas a recomendação segue neutra.

Por outro lado, o Goldman Sachs reiterou a preferência pela Copa Airlines, companhia aérea do Panamá, e Volaris, do México. “Estamos mais seletivos na nossa cobertura de aéreas. Nossa preferência é baseada em balanços mais leves [menos alavancados] em um cenário macroeconômico de volatilidade e incertezas globais”, escreveram os analistas do banco.

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Na visão da equipe de análise, a Copa está mais bem posicionada para se beneficiar da queda nos preços dos combustíveis. De acordo com o Goldman, a companhia tem menos necessidade de repassar a baixa no custo do querosene de aviação às tarifas, por conta de sua posição estratégica. No caso da Volaris, os analistas veem um crescimento mais forte de demanda no mercado do mexicano do que no Brasil.

De acordo com os analistas do banco, o México apresentou um crescimento consistente de tráfego, acima do que foi visto no Brasil durante a última década. “Acreditamos que esse impulso ajudou o país a atingir níveis pré-pandêmicos de passageiros transportados mais rápido que o Brasil. Olhando adiante, esperamos que essa tendência continua e que o México siga crescendo mais que o Brasil em termos de demanda”, afirmam.

Ainda de acordo com a equipe de análise, Copa e Volaris correm menor risco de competição e são capazes de crescer sem precisar disputar market share, afirmam os analistas. Eles destacam o modelo de operação de hub da Copa, que reduz a competição para a companhias nas rotas em que ela opera, dando a empresa maior poder para estabelecer tarifas entre os seus principais pares.

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O Goldman Sachs também observa que a estrutura de capital de Gol e Azul tem uma maior parcela de dívida em relação ao patrimônio do que Copa e Volaris, empresas de menor alavancagem. Em termos de valuation, as quatro empresas estão sendo negociadas a múltiplos semelhantes.

O JPMorgan é outro banco que tem se mostrado mais otimista com o setor aéreo na América Latina, diante da queda nos preços dos combustíveis e aumento da demanda. Em junho, o banco revisou para cima as projeções para os principais players da região, incluindo Gol e Azul. Atualmente o preço-alvo do JP para GOLL4  (com avaliação underweight, equivalente a venda) é R$ 12,50 e R$ 26,50 para AZUL4 (ação para a qual possui recomendação neutra).

Os analistas do banco dizem que ainda não se sentem encorajados a lidar com as volatilidades macroeconômicas que rondam as companhias aéreas brasileiras, ainda que acreditem que elas estejam preparadas para enfrentar riscos de liquidez no curto prazo, após avanço nas negociações de suas dívidas.

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Assim como o Goldman Sachs, o JPMorgan também tem a Copa Airlines como top pick, seguida pela Volaris, na lista de preferências. Para os analistas do banco, as duas empresas oferecem uma combinação “interessante” de valuation descontado e balanços relativamente confortáveis em termos de alavancagem.

Na semana passada, em teleconferência sobre os resultados da Gol (GOLL4) no segundo trimestre de 2023, o CEO da companhia, Celso Ferrer, avaliou que o cenário continua volátil para câmbio e preços de combustíveis, variáveis tão caras aos resultados das empresas aéreas.

“O combustível flutuou, obviamente ele baixou, mas continua sendo um dos mais caros do mundo [no Brasil], é 49% mais alto do que o combustível que uma companhia aérea tem acesso, por exemplo, nos Estados Unidos e é mais caro do que todos os países aqui da região”, afirma Ferrer.

O CEO afirma que a Gol tenta manter um modelo de precificação com tarifas “bem baixas” e isso se reflete na quantidade de promoções que a companhia tem feito. “A gente tem expandido tarifas promocionais e isso tem até refletido nos índices de inflação recentemente, mas tudo é feito com cautela porque tem essa montanha-russa [dos preços] e o delay do câmbio e do combustível nas tarifas”.

O executivo acredita que a exposição do setor a essas variáveis faz com que os investidores ainda prefiram se posicionar em outras companhias da América Latina.

No acumulado do ano, até o fechamento de segunda-feira, as ações da Gol subiram cerca de 40%. As da Azul, 71,84%.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados