Fundos brasileiros que investem em ações estrangeiras “quintuplicam” em 12 meses

Os fundos criados para dar a clientes brasileiros acesso a investimentos estrangeiros por meio de contas em reais tinham R$ 2,93 bilhões em junho, acima dos cerca de R$ 608,9 milhões de 1 ano atrás

Bloomberg

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Os fundos brasileiros que replicam rendimentos de ativos no exterior tiveram um salto de cinco vezes em 12 meses, atingindo um volume recorde, com a desaceleração da economia doméstica e com os mercados locais estagnados antes da eleição presidencial de outubro.

Os fundos mútuos e de hedge criados para dar a clientes brasileiros acesso a investimentos estrangeiros por meio de contas denominadas em reais tinham R$ 2,93 bilhões (US$ 1,3 bilhão) em junho, acima dos cerca de R$ 608,9 milhões de um ano atrás, segundo Alberto Jacobsen, presidente da Risk Office SA, consultoria com sede em São Paulo que possui um banco de dados de 11.000 fundos. Ele estima que outro R$ 1 bilhão será adicionado aos recursos até o final do ano.

Brasileiros ricos estão diversificando seus investimentos para além do país diante da estimativa de analistas de que a economia poderá ter o menor crescimento em cinco anos. O enfraquecimento esperado do real pode garantir retornos maiores aos investimentos no exterior. Eles têm recorrido a esses fundos mesmo depois que o Ibovespa subiu 31 por cento em relação à baixa de março, devido ao otimismo em relação a um possível fracasso da presidente Dilma Rousseff em sua tentativa de reeleger-se em outubro, abrindo espaço para um partido de oposição com políticas menos intervencionistas que poderiam impulsionar o crescimento econômico.

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“Os bancos tentaram criar esses fundos em 2003 sem sucesso porque, na época, o real estava se valorizando e a Bolsa de Valores de São Paulo estava indo muito bem”, disse Jacobsen. “Hoje a situação é diferente porque há um maior risco na taxa de câmbio devido à volatilidade causada pelas eleições, enquanto o mercado de ações no Brasil é menos atrativo e há algumas boas oportunidades para diversificar os investimentos no exterior”.

Retornos superiores
O real deverá se desvalorizar 9,5 por cento em relação ao dólar americano até o final de 2015, a maior queda entre as 23 moedas de mercados e mergentes monitoradas pela Bloomberg, atrás do peso argentino.

Os fundos brasileiros focados em rendimento no exterior registraram um retorno médio de 20,4 por cento nos 12 meses até junho, segundo a Risk Office, superando o avanço de 12 por cento do Ibovespa no período. A análise da Risk Office englobou fundos que compram recibos depositários brasileiros, ou BDRs, que são ações de empresas estrangeiras negociadas localmente, e os contratos futuros do índice da Standard Poor’s negociados na Bolsa de São Paulo. Também incluiu fundos que investem em outros fundos com ativos internacionais.

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Os principais investidores desses fundos são pessoas físicas com recursos entre R$ 1 milhão e R$ 100 milhões, segundo Jacobsen. Entre as pessoas cujo patrimônio supera essa faixa, é maior a probabilidade de manutenção da exposição no exterior em fundos estrangeiros exclusivos, disse Jacobsen. Os fundos de pensão representam cerca de 10 por cento do montante investido em fundos focados no exterior com base local, disse ele.

Disney, Volkswagen
O CSHG Global Equities Fim IE, o maior dos fundos, com R$ 505,4 milhões, do Credit Suisse Group AG, teve uma alta de 6,9 por cento nos últimos 12 meses, segundo dados compilados pela Risk Office e pela Bloomberg. Muitos investidores brasileiros gravitam em direção a ações de marcas que eles reconhecem, como Walt Disney Co., Volkswagen AG e CVS Caremark Corp., disse Artur Wichmann, um gerente de carteira do Credit Suisse Hedging Griffo em São Paulo.

“Esses são nomes que os investidores reconhecem de antemão, porque estão acostumados a eles na vida cotidiana”, disse Wichmann.

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A XP Investimentos, uma corretora com sede no Rio de Janeiro e uma empresa de gestão financeira que administra R$ 10 bilhões para seus clientes, planeja dar início ao fundo XP Global Equity nas próximas semanas para atender a demanda por ofertas desse tipo, segundo um funcionário da empresa que pediu para não ser identificado, citando a política da firma. O novo fundo será o terceiro da companhia focado em retornos ligados ao exterior.

Diversificação natural
Ao longo da última década, os investidores brasileiros em sua maioria desconsideraram oportunidades de investimento no exterior, disse Marcelo Karvelis, diretor comercial da empresa de investimentos Claritas Investimentos, em São Paulo.

Agora, “com o crescimento econômico mundial se recuperando, a economia local esfriando e a moeda com tendência a cair, isso faz sentido”, disse ele, em entrevista por telefone. A Claritas gerencia três fundos que oferecem exposição ao exterior.

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O Bradesco Asset Management, que tem R$ 323,2 bilhões sob gestão, oferece um fundo de R$ 98,4 milhões que compra BDRs, um fundo de R$ 11,6 milhões que monitora os contratos futuros do índice Standard Poor’s e outro fundo que compra ações americanas e europeias.

“É natural que os investidores diversifiquem, e eles se sentem confortáveis para fazer isso por meio de fundos denominados em reais e gerenciados aqui”, disse Joaquim Levy, diretor-superintendente do Bradesco Asset Management e ex-secretário do Tesouro do Brasil, em entrevista por telefone, de São Paulo. “Nós vemos demanda dos nossos clientes para mais investimentos em ativos de países como Chile, Colômbia e Peru”.

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