Frio e eventos sociais impulsionam receitas e margens de varejistas de moda no segundo trimestre

Algumas companhias, no entanto, tiveram seus resultados pressionados por piores resultados financeiros em meio a umas Selic mais alta

Vitor Azevedo

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Após a Covid-19 penalizar as varejistas de moda por mais de dois anos, com as pessoas pouco saindo de casa, os ventos agora parecem ter mudado. Se antes um fator não controlado como a pandemia estava prejudicando os resultados, no segundo trimestre algo parecido impulsionou os números – o frio antecipado e a retomada dos encontros sociais levaram os clientes de volta às lojas (e também a fazer compras online).

“O período entre abril e junho apresentou forte desempenho, impulsionado por um inverno antecipado, mais rigoroso, e a necessidade de renovação do guarda-roupa, fruto da retomada dos eventos sociais e da maior mobilidade”, disse a Lojas Renner (LREN3) em seu release, publicado no dia quatro de agosto.

Algo nesta linha apareceu em quase todos os balanços e teleconferências. As companhias, em geral, tiveram suas coleções de Outono/Inverno performando bem, viram suas receitas saltarem e conseguiram, por conta da maior demanda, repassar preços sem maiores problemas.

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“O desempenho da categoria varejo foi impactado pela venda de produtos de inverno em maio, potencializado pela queda de temperaturas, pela boa aceitação de nossas coleções e collabs, e pela maior mobilidade que resultou em fluxo maior nas lojas”, explicou a C&A (CEAB3).

As varejistas, generalizando, trouxeram receita acima ou em linha com consenso. A Lojas Renner, por exemplo, teve um faturamento de R$ 3,17 bilhões, ante projeção de R$ 3,18 bilhões da Refinitiv e com alta de 40,6% no ano.

“A Lojas Renner apresentou resultados muito bons, que ficaram acima das nossas previsões e consenso”, comentou o Credit Suisse sobre o balanço da varejista de moda. “O crescimento das vendas no varejo em relação à linha de base de 2019 mostrou boa aceleração sequencial, de 57%, enquanto as despesas gerais, administrativas e com vendas, que têm sido o principal ponto de preocupação, vieram em boa forma, suportando um ajuste de varejo saudável”.

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Além de impulsionar o faturamento, todo o cenário de volta da mobilidade e de inverno antecipado permitiram as companhias varejistas cobrarem preços maiores de seus produtos e, decorrentemente, melhorarem suas margens através da diluição de custos.

“A receita líquida da C&A cresceu 39% no ano, e 29% frente a 2019, impulsionada pelo desempenho das vendas mesmas lojas, de 34%, pela recuperação do fluxo de clientes em loja, coleções assertivas e um mês de maio mais frio e próximo do Dia das Mães. Em termos de rentabilidade, a margem bruta cresceu 4,5 pontos percentuais, impulsionada pela categoria de vestuário, que foi suportada pela estratégia de preços e benefícios da adoção do push-pull”, explica a XP Investimentos sobre os números companhia.

Para o Grupo Soma, comentários na mesma linha. De acordo com o Itaú BBA, a companhia, dona da Farm e da Hering, trouxe um resultado de alta qualidade, com crescimento de 43% da receita, para R$ 1,2 bilhão, frente R$ 1,1 bilhão do consenso do banco. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) – ou lucro operacional – foi de R$ 207 milhões, ante R$ 175 milhões aguardados, com a margem ficando em 17,1%, ante 14,2% no segundo trimestre de 2021.

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Enquanto isso, a Eleven destacou que, em mais um trimestre de fortes resultados, o Grupo Soma conseguiu entregar um resultado positivo, com bom crescimento de suas principais marcas e boa evolução na reestruturação da Hering.

Arezzo tem maior crescimento de receita entre varejistas

A Arezzo (ARZZ3), contudo, foi a que mais viu sua receita disparar, com alta de 70,8% no ano e de 140,1% frente a 2019.

“A Arezzo apresentou mais um trimestre forte e em linha com as nossas estimativas. As vendas líquidas cresceram 71% no, com desempenho bom em todas as marcas e canais por conta de coleções assertivas”, expôs a XP Investimentos. “A varejista de moda divulgou outro forte conjunto de resultados, com o crescimento da receita ainda robusto. As margens também foram um destaque positivo, suportando um lucro líquido ajustado de R$ 123 milhões”, acrescentou o Credit Suisse.

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Com a Guararapes (GUAR3),  Lojas Marisa (AMAR3) e Track & Field (TFCO4) não foi diferente.

As três, em seus documentos, também destacaram a antecipação do inverno. “Observamos uma aceleração importante na atividade no setor no trimestre, com destaque para os meses de abril e maio, cujas vendas foram impulsionadas por temperaturas mais frias”, diz a Lojas Marisa.

A Guararapes teve sua receita líquida crescendo 30,3%, para R$ 1,4 bilhão, e a Lojas Marisa, em 21,8%, para R$ 599,3 milhões.

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“A dona da Riachuelo trouxe resultados amplamente alinhados com as nossas estimativas”, abriu o Bradesco BBI. “As vendas no varejo foram 27% superiores a 2019, chegando a quase 34% para a categoria de vestuário. A margem bruta aumentou 290 pontos-base em relação a 2019 e 460 pontos no ano, impulsionada por preços mais altos, baixa remarcação e boa distribuição de estoque”.

A Track & Field registrou um salto de 39,2% da sua receita no ano, para R$ 131,4 milhões, e a margem Ebitida (Ebitda sobre receita líquida) chegando a 19,2%, alta de 1,3 ponto percentual.

Já a Marisa, para o Bradesco, trouxe resultados mistos. Apesar da alta das vendas com o frio, o banco destaca que as perspectivas para o próximo semestre não são tão boas e a companhia, segundo o banco, teve resultado negativo em sua área financeira.

Despesas financeiras pesam em alguns resultados

“Houve forte crescimento das despesas com créditos de liquidação duvidosa, apesar dos esforços para ser mais conservador na concessão de crédito. Além disso, enquanto os indicadores prospectivos de inadimplência da empresa estão diminuindo, os níveis atuais do índice de inadimplência de 90 dias tiveram um aumento acentuado”, expôs o BBI.

Várias varejistas que oferecem serviços financeiros, inclusive, tiveram esses como destaques negativos do seus balanços. A Eleven, por exemplo, definiu como ponto de atenção o resultado financeiro da C&A, negativos em R$ 10 milhões, “fruto do cenário macroeconômico mais desafiador da alta do índice de inadimplência em em 3,3 pontos percentuais no ano Bradescard”. Os resultados do braço financeiro da Lojas Renner, por sua vez, recuaram 77% no ano, para R$ 11,9 milhões.

Quem teve resultado considerado misto também, dessa vez pelo Credit Suisse, foi o Grupo SBF (SBFG3), dono da Centauro e que representa a Nike no Brasil.

“O Grupo SBF apresentou resultados que ficaram um pouco abaixo das expectativas, principalmente devido às despesas operacionais terem ficado acima do esperado. O crescimento da receita líquida foi sólido, de 31,2% no ano, para R$ 1,4 bilhão, enquanto a compressão da margem Ebitda veio em 100 pontos-base”, contextualizou o banco suíço.

Enquanto grande parte das varejistas de moda aumentaram suas margens, através da diluição e também com esforços operacionais, o Grupo SBF viu a sua regredir por conta de maiores despesas, explicadas pela companhia pela migração de vendas entre dois canais e também por maiores investimentos em áreas estratégicas.

Por fim, talvez o desempenho que foi considerado o pior entre as varejistas de moda tenha sido o da Alpargatas (ALPA4) – as ações chegaram a cair quase 14% no pregão após a divulgação do balanço.

“O desempenho da unidade internacional de negócios – o cerne da tese de investimento – ficou claramente abaixo das expectativas”, afirmou a equipe do Bradesco BBI. Os analistas chamaram a atenção para o declínio de 36% no volume de vendas nos Estados Unidos frente ao segundo trimestre do ano passado, enquanto na China a queda chegou a 40%.

Apesar de ter registrado um bom desempenho no Brasil, a holding, dona da Havaianas, viu seu balanço ser impactado pela performance internacional. A receita líquida cresceu 19% no Brasil, mas recuou 29% nos Estados Unidos, 49% na China e 14% na Europa e no Oriente Médio. No total, o crescimento na base anual foi de apenas 1,9%, para R$ 1,04 bilhão.

De olho no segundo semestre

A Alpargatas teve um resultado negativo. No entanto, o BBI fala que a performance local da Havaianas, com a companhia tendo forte poder de precificação no seu setor, traz um panorama melhor para o segundo semestre, quando as temperaturas esquentam e a companhia vende mais. O banco optou por manter sua recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, para equivalente à compra) para os papéis, com preço-alvo em R$ 30.

Para a Guararapes, o banco brasileiro é mais cauteloso, tendo recomendação neutra e preço-alvo de R$ 10. “O índice de cobertura em declínio (queda de 2,3 ponto percentual no trimestre), juntamente com o prejuízo líquido relatado de R$ 7,1 milhões da divisão são bandeiras amarelas para monitorar à frente”, explicam.

BBI e Morgan Stanley têm opiniões diferentes quanto à Lojas Renner. O primeiro tem recomendação outperform, com preço-alvo em R$ 40, e fala que a companhia vem mostrando força em seu desempenho digital. A instituição americana, no entanto, vê um risco de reversão da demanda e os ventos contrários à margem no segundo trimestre, mantendo classificação underweight (exposição abaixo da média do mercado) e preço-alvo de R$ 30.

Quanto à C&A, a Eleven manteve sua recomendação de compra mas diminuiu o preço-alvo de R$ 10 para R$ 4,70. O pior desempenho financeiro, com juros mais altos, e os gastos da companhia com investimentos devem continuar pressionando o balanço no curto prazo.

Para o Grupo Soma e para a Arezzo as projeções são melhores. Essas companhias, por focaram em um público de renda maior, devem sofrer menos com a piora econômica.

A XP, que tem o Grupo Soma como seu top pick do setor, aposta que Farm continuará ganhando espaço, a Hering trazendo sinergias e a Animale acelerando no atacado. “No entanto, a empresa deu um tom mais cauteloso sobre a dinâmica da Farm Global para o 2S, especialmente nos EUA, embora com resultados fortes em sua primeira pop up na Europa”, acrescentaram.

A corretora tem recomendação de compra para a companhia e preço-alvo de R$21. O BBA também recomenda compra, com alvo em R$ 20.

Para a Arezzo, o Credit Suisse afirma que o impulso operacional visto no segundo trimestre deve se estender para o futuro próximo. A XP destaca que a companhia tem campanhas importantes em andamento, como a da BriZZa com celebridades.

“Embora pensemos que pode ter havido algumas circunstâncias específicas que ajudaram o segundo trimestre, esperamos ver um ‘aterrissagem suave’ em termos de crescimento no segundo semestre, ao invés de uma desaceleração abrupta. O foco da empresa em grupos de maior renda e a força de suas marcas devem ajudar a manter o forte crescimento”, diz o BBI.

O Credit Suisse, a XP e o BBI têm, todos, recomendação outperform para os papéis da Arezzo, com preços-alvo em, respectivamente, R$ 110, R$ 110 e R$ 105.

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