Ford substitui CEO por executivo de inovação para “adotar o Vale do Silício”

A empresa já parecia estar interessada em carros elétricos e autônomos

Equipe InfoMoney

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A Ford acaba de fazer uma grande mudança: demitiu o CEO Mark Fields para colocar Jim Hackett, responsável pela área de inovação da companhia – a Ford Smart Mobility – no lugar. Essa é uma mensagem clara de que a companhia quer adotar a mentalidade do Vale do Silício ainda mais rápido do que já está adotando: acelerar as apostas em carros elétricos e autônomos e na transição de uma “montadora” para uma “empresa de mobilidade”.

A empresa já parecia estar interessada em carros elétricos e autônomos, com Mark Fields falando diversas vezes sobre o futuro da companhia como uma que prestava serviços, não apenas montava e vendia carros. Ela quer evitar o destino de empresas como Blockbuster e Kodak, que morreram pela falta de inovação.

Fields, porém, não conseguiu fazer o mercado entender isto: a Ford valia menos que a Tesla, mesmo produzindo 68 vezes mais carros do que a rival. O mercado não acreditava que uma companhia centenária como a Ford poderia fazer a transição que é requerida. E demitir Fields (um veterano de 30 anos da Ford) e colocar Hackett (que acaba de entrar na indústria de automóveis) no lugar é uma sinalização de que a empresa quer se auto-disruptar.

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O conselho da Ford, efetivamente, acaba de criar duas Fords: uma antiga e uma nova. Os principais executivos apontados por Fields deverão tomar conta do negócio que já existe e Hackett vai se dedicar mais para a transição e disrupção, algo que o conselho gostaria de ter visto em Fields. 

A Ford já estava nesta linha

O antigo CEO já sabia que a empresa precisava mudar, alertando que “todas as montadoras estão em perigo”, por conta de rivais como Google, Apple e a própria Tesla. Além de outras companhias que estavam tendo grandes avanços em novas tecnologias que estão vindo para disruptar a indústria automobilística. Até a Bosch está envolvida nisto.

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Ainda na administração de Fields a Ford iniciou uma série de grandes mudanças, em termos de tecnologia e de mentalidade, trabalhando com startups para se adaptar ao novo mundo que está sendo criado. A companhia tem sido muito aberta em dizer que pretende construir um carro autônomo com nível de autonomia quatro até 2021 – capaz de dirigir sozinho.

Além disso, a empresa quer deixar de ser uma montadora para se tornar uma companhia de mobilidade urbana. Menos construção incessante de carros e mais gestão de trajetos através de novas tecnologias mobile. Isso envolve, por exemplo, a criação um aplicativo de entregas da própria Ford. A empresa vem se fortalecendo no campo de corporate venturing: ela investe em startups e até mesmo chegou a comprar algumas para conseguir competir. Além disso, ela está investindo em algumas das tecnologias mais inovadoras que existem, como impressoras 3D para facilitar a manufatura e internet das coisas.

O mais impressionante é que a Ford não apenas já estava neste caminho – ela também estava cancelando outros projetos para focar quase exclusivamente nisto. A Ford, que em 2013 iniciou uma aliança com a Mercedes-Benz e Nissan para desenvolver um carro movido a hidrogênio, está pulando fora. Esperava-se um carro de hidrogênio para este ano, mas isto não acontecerá.

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Contudo, empresas japonesas, como Toyota e Honda, ainda estão apostando no hidrogênio como combustível. “Muito mudou desde 2013”, afirma Raj Nair, ao Business Insider, CTO da montadora. Ele destaca que o desenvolvimento da tecnologia é volátil: às vezes parece que está indo rápido, às vezes parece que está indo muito devagar. A Ford trabalhava desde 2005 na tecnologia, mas agora parece ter quase desistido.

Carros movidos a hidrogênio possuem um motor elétrico que é alimentado pelo combustível, guardado em um tanque e fundido com oxigênio. É bem parecido com um carro que usa gasolina: eles oferecem tempos menores de abastecimento e longas horas para dirigir depois disso. Um carro elétrico costuma demorar horas para carregar e tem autonomia relativamente baixa.

Mas os carros elétricos possuem uma vantagem contra os carros de hidrogênio: é muito mais fácil montar a estrutura. Uma tomada simples pode carregar seu carro elétrico durante a noite, e já existe uma grande estrutura de recarga rápida para carros elétricos em países desenvolvidos, como os Estados Unidos e a Europa. A Ford sabia disso e apostava nisso.

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Tesla vale US$ 50 bilhões

No fim, a Ford estava tentando ficar mais parecida com a Tesla, empresa que vale US$ 50 bilhões e está redesenhando o mercado de automóveis. O mercado acionário aposta nisto, até mais que o próprio CEO da Tesla, Elon Musk, CEO da Tesla, acredita que este valor talvez seja injustificado neste momento. “Eu acho que o nosso valor de mercado é maior do que o que a gente merece. Somos uma companhia que perde dinheiro”, disse em entrevista para o The Guardian.

E ainda ressalta que ao contrário de outras montadoras (como a Ford), eles precisam ainda realizar um longo trabalho para poder atingir lucros. “Essa não é uma situação onde, por exemplo, nós somos capitalistas gananciosos que decidiram dar pouca importância para segurança para ter mais lucro e dividendos. É uma questão de quanto dinheiro perdemos e como sobrevivemos? Por que não morremos e todos perdem seus empregos?”, afirmou.

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O fato é que a Tesla é considerada o futuro do mundo automotivo. Com inovações como o autodriving, que transformará seus carros em autônomos de pouco em pouco, a montadora do Vale do Silício vai revolucionar muita coisa ainda no mundo dos carros e automóveis. E é essa esperança de mudança e o entendimento que a empresa tem bastante visão do que virá que a empresa vale mais hoje do que as gigantes de outrora, como a Ford e a GM. Só que a diferença de seus tamanhos é abissal ainda: a Tesla entregou 25 mil carros no último trimestre, enquanto a Ford vende 1,7 milhão de carros por trimestre e GM produz e vende 2,7 milhões de carros.

O mercado entende que a Tesla tem uma visão privilegiada do futuro do mercado automotivo e que terá bastante crescimento nos próximos anos, impulsionada pela inauguração da Gigafactory e o lançamento do Model 3 (que, aliás, é muito parecido com o Bolt da GM). A Tesla vem trazendo inovações significativas para o mercado de carros elétricos, como aqueles pontos de recarga no meio das estradas – que ela mesmo resolveu montar.

Além disso, a companhia tem um “grande plano” para o mercado de automóveis nos próximos anos, incluindo aí um aplicativo estilo Uber. Ter Elon Musk (e a mentalidade do Vale do Silício) no controle é um grande diferencial e que está sendo usado com muito sucesso pela Tesla. É para abraçar de vez essa mentalidade do Vale que a Ford está trocando o CEO pelo executivo de inovação.

A GM está fazendo o mesmo movimento

Mary Barra, CEO da GM, também sabe que está ameaçada. E por conta disso, a companhia está com sangue nos olhos para ser uma das principais empresas na revolução dos carros elétricos e autônomos. Um dia depois de ser ultrapassada pela Tesla em valor de mercado, a GM destacou que investirá R$ 14 milhões para criar 1.163 empregos na Cruise, uma startup comprada pela gigante por US$ 1 bilhão.

A Cruise é a presença da GM na região e trabalha nas tecnologias de carros autônomos. A companhia tem atualmente 485 funcionários (uma alta expressiva ano passado) e deverá chegar a ter 1.648 quando terminar as contrações – efetivamente triplicando de tamanho e um pouco mais. A GM comprou a startup ano passado, por US$ 580 milhões.

Na época, a Cruise só tinha 46 funcionários. De acordo com o San Francisco Business Times, o Estado da Califórnia deverá dar um crédito de US$ 8 milhões em impostos para que a GM siga adiante com seus planos. De acordo com Kyle Vogt, fundador da Cruise Automation, os planos para a companhia estão bastante avançados.

E quais os planos? Criar uma frota de carros GMs autônomos e elétricos que funcionariam como os carros da Uber. A GM quer se transformar em uma mistura de Tesla (com os carros elétricos, como o Bolt) e Uber, com esta frota. Assim, ela vai conseguir dar o salto de “montadora” para uma “companhia de mobilidade” que praticamente todas as empresas estão procurando. E, talvez, manter o emprego.

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