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“Fiquei em choque”. Essa foi a reação do empresário Carlos Alberto Sicupira ao saber das “inconsistências contábeis” na Americanas (AMER3), segundo depoimento sobre o caso à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) obtido pela Folha de São Paulo. “Cai para trás”, complementou, ao comentar sobre o telefonema de Sergio Rial, então CEO da companhia, em relação ao tema, no dia 5 de janeiro.
Apenas 6 dias depois, comunicado divulgado pela varejista informava o mercado da crise sem precedentes enfrentada pela companhia. Pelas chamadas “inconsistências contábeis” constatadas no balanço, a Americanas foi mergulhada em um processo de recuperação judicial com mais de R$ 40 bilhões em dívidas.
“A minha reação quando eu soube disso foi: ‘Escuta, essa dívida é pra não pagar’. Por quê? O banco disse que ela não existe. E ela não foi aprovada pelo conselho”, disse Sicupira, ao receber, do diretor financeiro Marcelo Nunes explicações mais detalhadas do rombo. As chamadas “inconsistências contábeis” seriam fruto de operações de financiamentos não contabilizados, nos quais os bancos pagariam fornecedor de empresa e financiariam a dívida por mais um ano.
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De acordo com o empresário, a dívida não constava em nenhuma carta de circularização (enviada pelos bancos a pedido de auditor). E, além disso, a operação de risco sacado não era praxe para Americanas. “A companhia nunca fez”, disse Sicupira, que ressaltou que a operação não era do conhecimento nem do conselho de administração, tampouco dos comitês de auditoria e financeiro.
“Não era só o conselho. O comitê de auditoria não sabia disso. Então, ele foi enganado sobre isso. E o comitê financeiro também foi enganado. Por quê? Todas as operações acima de R$ 700 milhões, ou operações de uma modalidade que, em 12 meses, somam mais de R$ 700 milhões tem que ser aprovadas no comitê financeiro. Em toda reunião do comitê financeiro, iam várias operações para serem aprovadas. E nunca foi operação de risco sacado”, explicou.
Entre os pontos da exposição de Nunes que chamaram atenção de Sicupira estava também o prejuízo de R$ 2 bilhões em ataque hacker.
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“Aí eu me lembrei, na hora, que tinha uma pergunta do comitê de auditoria sobre quanto custos o ataque hacker. E a informação foi que não custou nada, fora perda de vendas. Então, R$ 2 bilhões do ataque hacker mais não sei quanto. Me pareceu que arrumaram uma porção de coisas para encher os buracos ali”, disse o empresário em depoimento.
O empresário forma, com Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles, o grupo de bilionários que detém a maior parte das ações da varejista. Atualmente como membro do conselho, Sicupira era o mais atuante do trio na empresa e ocupou cargos de presidente do conselho de administração e diretor-presidente.
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