Fim de semana pode marcar maior mudança da China em décadas; saiba por que

Terceiro Plenário do 18º Comitê Central do Partido Comunista trará o chamado "plenário da economia", podendo trazer grandes mudanças no andamento econômico do país

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – A economia chinesa é a principal locomotiva mundial: o país vem crescendo a taxas superiores a 10% há três décadas e tem forte apetite por commodities. Poucos anos atrás, tomou o posto do Japão de segunda maior economia do mundo e, mantido o ritmo, passará os Estados Unidos – maior economia mundia desde o começo do século passado – em algumas décadas.

O gigante vermelho vem nesse ritmo desde 1978, quando ocorreu o “Terceiro Plenário do 11º Comitê Central do Partido Comunista”, que começou a implantar medidas de livre mercado, logo depois da morte de Mao-Tsé Tung, marcando a ascensão de Deng Xiaoping como “líder máximo do país”. Desta vez, o país passará pelo “Terceiro Plenário do 18º Comitê Central do Partido Comunista”, um evento similar e com o maior grau de mudanças possíveis.

Isso significa que o 18º congresso chinês se reunirá pela terceira vez desde que Xi Jinping, assumiu a posição de secretário-geral do Partido Comunista e de “líder político”. O primeiro plenário geralmente é para introduzir a nova liderança do país, enquanto o segundo trata de reformas pontuais na administração pública. O terceiro, por sua vez, é geralmente chamado de “plenário da economia” por realizar grandes mudanças no andamento econômico do gigante asiático. 

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A política chinesa
Ao contrário do Brasil, o sistema político chinês é uma pirâmide – muito diferente da “democracia representativa” do ocidente, mas que não chega a ser a ditadura que era na época de Mao. O povo elege apenas os seus representantes locais, que elegem os regionais e assim por diante até que se chegue ao Comitê Central, principal órgão político da nação.

É um sistema fechado, onde o sucesso não depende da popularidade pessoal do governante e sim de sua habilidade política em agradar os seus pares – o que se traduz no fato de que Xi Jinping era praticamente um desconhecido na época em que foi escolhido como líder máximo do país. Ele sucedeu Hu Jintao, que permaneceu 10 anos como líder máximo – o período máximo em que um único homem pode governar o gigante asiático, depois da má experiência com a ditadura personalista de Mao.

Hu Jintao presidiu o país durante o período em que o Brasil elevou suas exportações para lá, mas não deixou mudanças muito significativas: seu “terceiro plenário”, 10 anos atrás, foi tido como “desapontador” pela revista britânica The Economist. Talvez pela natureza da história e da própria liderança: Hu Jintao assumiu o país em um período em que não precisava de reformas, enquanto Xi Jinping assume no período posterior ao menor crescimento chinês em décadas, “apenas” 8%. 

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Além disso, Hu Jintao era uma estrela que crescia sob seus próprios méritos no Partido Comunista, enquanto Xi Jinping é filho de Xi Zhongxun, um dos homens que lutaram juntamente com Mao na revolução – ocorrida em 1949. Como se fosse de uma “aristocrácia chinesa”, há grandes expectativas de que Xi – seu sobrenome – seja mais favorável à mudanças do que era Hu justamente por sua origem, que o torna menos “vulnerável” a mudanças abruptas no humor do partido. 

O terceiro plenário
O terceiro plenário de uma legislatura chinesa é o momento de grandes mudanças – em 1978, Deng Xiaoping começou a introduzir mudanças econômicas de abertura econômica, e em 1993, Jiang Zemin formulou a teoria econômica que durou os próximos 20 anos, o “socialismo de mercado”. Reformista e “liberal”, Xi pode realizar grandes mudanças ao modo em que a economia chinesa anda durante os quatro dias que o plenário se realizará. 

Para isto, já há um “plano” criado pelo governo – chamado de “Plano 3-8-3”. Ele se refere a 3 áreas para serem reformadas, 8 setores para se alterar e 3 grandes reformas a serem feitas. Até agora, não sabe-se muito dos planos do governo para o congresso, mas o que “vazou” agradou muito ao economista Jian Chang, especialista em China no Barclays. 

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No congresso, há uma grande disputa entre a “esquerda” do Partido Comunista e a “direita” – cada uma tentando impor sua vontade na economia do país. Como resultado do sucesso das políticas de Xiaoping, a “direita” tem dominado a China nas últimas três décadas e deverá continuar sendo assim: Xi é visto como um liberal, mesmo tendo graduações em estudos marxistas. 

As mudanças com grandes efeitos na Bovespa
Sendo um liberal, uma das principais mudanças propostas pelo atual líder chinês é a criação de uma região-modelo em Xangai onde haveria maiores liberdades financeiras, como, por exemplo, a possibilidade de negociar o yuane, a moeda do país asiático. Esse é um “tradicional” método de teste chinês, que no início de sua liberalização instituiu economia de mercado apenas em alguns bolsões do país, as chamadas “Zonas Especiais”.

Embora isto exista até hoje – inclusive com grande diferença de direitos entre cidadãos dessas regiões e das áreas rurais chinesas -, as zonas onde “o capitalismo é permitido” são cada vez maiores e mais notórias. Isso pode elevar a liquidez do real frente as moedas estrangeiras e, até mesmo, fortalecer nossa moeda – graças a forte exposição brasileira a China e nossa posição como exportadora de commodities. Isso pode respingar no segmento BM&F da BM&FBovespa (BVMF3), que se beneficiaria do fortalecimento da indústria de trading chinesa. 

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Além disso, há uma grande preocupação em eliminar a “bolha imobiliária” chinesa, que muitos acreditam estar se formando. Como os juros sobre poupança são muito baixos, o mercado imobiliário se tornou a única alternativa para muitos investidores – criando uma bolha que já conta com várias “cidades-fantasmas”. Isso deverá diminuir um pouco o apetite asiático por minério de ferro e aço, enfraquecendo exportadoras de commodities como a Vale (VALE3; VALE5), que também deve ser prejudicada pela diminuição natural do ritmo de crescimento. 

Com isso, a expectativa é que os bancos estatais, os principais do país, aumentem seus juros para os poupadores. Esse foi um pedido de Zhou Xiaochuan, presidente do Banco do Povo Chinês, o Banco Central do país à liderança. Há um pedido para que o setor financeiro tenha maior liberdade do no país. Embora não seja típico do setor financeiro nacional, é possível que Itaú Unibanco (ITUB4), Banco do Brasil (BBAS3) e Bradesco (BBDC4) abram algumas agências por lá – ou até mesmo façam parte de algum acordo para o fortalecimento desse setor, já que o setor bancário nacional é tido como muito bem regulado.

A mudança do modelo de crescimento chinês também deverá ser abordado no plenário. O país tenta sair de um modelo de investimentos pesados em indústria e infraestrutura, que já mostra sinais de esgotamento, e buscar um modelo baseado no consumo da população – exatamente o oposto do que o Brasil tenta fazer. Se isso não é bom para Vale, é positivo para aquelas que exportam alimentos, como BRF (BRFS3) e JBS (JBSS3), e produtos de consumo com valor agregado, como a Alpargatas (ALPA4).

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Mudanças com poucas chances de efeitos diretos
Haverá outras mudanças com menos efeitos diretos no Brasil – mas que ajudarão a tornar a economia chinesa mais estável e evitarão a chance de um colapso no futuro. É o caso de uma possível reforma previdenciária, que deverá diminuir as chances da China ter problemas com o financiamento de seus aposentados no futuro. 

A política de um filho por casal também deverá ser revista, com o envelhecimento da população. O país é o mais populoso do mundo, com 1,2 bilhão de habitantes, mas vê sua população em idade de trabalho envelhecer rapidamente, depois de 30 anos com essa regra. É preocupante também que essa política fez com que a quantidade de homens e mulheres ficassem desbalanceada no país. O plenário deverá liberalizar a medida, que já conta com algumas exceções, mas não deverá eliminá-la.

Especula-se também que o governo chinês deva aumentar os gastos com o social como forma de conseguir “harmonizar” a economia chinesa – principalmente criando uma rede de saúde pública, que atualmente não existe no país que se diz comunista. Por fim, uma das políticas do plano 3-8-3 é definir políticas para melhorar os cuidados com o meio-ambiente no país, onde a poluição chega a níveis extremos em todas as cidades. 

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