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O desfecho da quinta reunião do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em ingês) em 2022, nesta quarta-feira (27), não deve trazer muitas surpresas. Dos 102 economistas consultados pela Refinitiv, 98 acreditam que o BC dos Estados Unidos vai elevar os juros do país em mais 75 pontos base, ou 0,75 ponto percentual. Assim, a taxa dos Fed Funds deve passar à faixa de 2,25% a 2,5% ao ano. Se essa é uma boa ou má notícia para o mercado, isso só vai ficar claro no discurso da autoridade monetária após a decisão. Como nas últimas três vezes seguidas em que o Federal Reserve elevou juros, o mercado vai acompanhar com atenção cada palavra do chairman Jerome Powell.
“Esperamos que Powell repita mensagens similares às da reunião de junho, afirmando que a inflação está muito alta, que o Federal Reserve está comprometido em restaurar a estabilidade de preços e que alguma dor é necessária para trazer a inflação para baixo”, afirma o BofA, em relatório. A dúvida é se o presidente do Fed fará alguma menção aos riscos de recessão no país, que tanto têm mexido com o mercado.
“A surpresa seria o Fed indicar preocupação com o crescimento e falar que está monitorando a situação da atividade econômica. Se isso acontecer, pode ser uma indicação de que não vão subir tanto os juros como mercado espera, podendo arrefecer o ritmo de aumentos já na próxima reunião”, afirma Marcela Rocha, economista-chefe da Claritas.
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Na última sexta-feira, um dado reforçou a percepção de que o Fed vai manter o ritmo com o qual vinha subindo os juros em vez de acelerá-lo, para uma eventual alta de 1 ponto percentual como já chegou a ser considerado. O índice de gerente de compras (PMI) composto, que combina serviços e indústria, ficou abaixo de 50 pela primeira vez em dois anos. Isso indica uma contração da atividade empresarial dos Estados Unidos.
Outros indicadores econômicos também já apresentam deterioração. Em junho, as vendas de moradias usadas recuaram mais 5,4%, pelo quinto mês consecutivo, para 5,12 milhões unidades – o nível mais baixo em dois anos. No mesmo período, a construção de moradias novas caiu 2%.
“As condições financeiras mais apertadas combinaram com uma valorização anterior do preço de imóveis, criando um choque de poder de compra no setor imobiliário e isso está pesando negativamente nos investimentos residenciais”, analisou o BofA.
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Também chamou atenção o número de pedidos de auxílio-desemprego que, na semana encerrada em 16 de julho, subiram para 251 mil, maior nível em oito meses. Para alguns analistas, essa série de indicadores mais fracos teria zerado as chances do Fed elevar os juros em 100 pontos base agora em julho.
“O mercado começa a achar que o ciclo de aperto pode estar chegando ao fim. E mesmo que o Fed continue subindo juros, vai estrangular a economia e depois terá de derrubar as taxas”, afirma Victor Candido, economista chefe da RPS Capital.
Já Angelo Polydoro, economista da ASA Investments, acredita que esses números não trazem qualquer indício de recessão iminente. “O número de pedidos de auxílio desemprego é bastante volátil e de péssima qualidade. Não dá para dizer que o mercado de trabalho está desaquecendo, que a desaceleração está se formando. Quando olhamos para o payroll ou o JOLTS, vemos que há duas vagas em aberto para cada desempregado. Está no melhor ponto da série histórica”, explica.
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Polydoro observa que as atuais projeções do Federal Reserve não contemplam uma recessão, mas sim uma economia que deve crescer “abaixo do neutro”. A autoridade monetária aposta em um soft landing – uma desaceleração, mas sem provocar recessão.
Combate à inflação continua no foco
Ao mesmo tempo em que há dúvidas se a recessão está ou não no radar do Fed, há também a certeza de que a autoridade monetária vai continuar empenhada em trazer a inflação para próximo do centro da meta. Agora em julho, o índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos (CPI, na sigla em inglês) acelerou para 9,1% em 12 meses, maior nível desde 1981. Enquanto isso, os salários, em junho, estavam 5,11% mais altos em relação a um ano antes, conforme indicou o payroll.
“Os dados de inflação e mercado de trabalho mantem tom de alerta e exigem que o Fed aperte a política em ritmo intenso”, afirma a economista-chefe da Claritas.
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Polydoro lembra que a inflação americana também está cada vez mais disseminada. Os núcleos estão sendo pressionados pela escalada de preços no setor de serviços. A inflação desse grupo tende a ser mais resistente. “Não é hora de desacelerar, é hora de continuar atuando de forma incisiva, determinada, para vencer a guerra contra a inflação”, diz o economista.
A ASA Investments acredita que o Fomc deverá subir os juros em 75 pontos base também na reunião de setembro. Também prevê mais dois ajustes de 50 pontos nos encontros de novembro e dezembro. Assim sendo, os Fed Funds encerrariam o ano numa faixa entre 4% e 4,25%. “O Fed precisa elevar os juros acima do neutro para que a economia desacelere”, afirma Polydoro.
Raone Costa, economista chefe da Alphatree, acredita que os ajustes seriam mais comedidos já a partir do mês de setembro, com a evolução da inflação e também da atividade econômica ditando o ritmo desses novos aumentos. “Na próxima reunião, a taxa básica de juros já vai estar próximo de um nível que os EUA consideram como neutro. A partir daí, começa uma discussão muito difícil entre inflação e temores de uma recessão”, afirma Costa.
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O BofA vai nessa linha: espera alta de 50 pontos base em setembro e mais duas de 25 pontos até o final do ano, o que levaria os juros para a faixa entre 3,25% e 3,5%. “A medida que a inflação moderar, esperamos que o Fed inicie cortes no segundo semestre do próximo ano”, escreveu a equipe de análise.
Nesse sentido, parece já haver uma luz no final do túnel. As expectativas de inflação de cinco a dez anos, coletadas pela pesquisa da Universidade de Michigan caíram de 3,1% para 2,8%. Analistas veem a percepção como um sinal de que a ação do Fed pode ter sido eficiente para ancorar as expectativas. Seria outro motivo para a autoridade monetária não ir além do 0,75 ponto de alta na reunião desta quarta-feira.
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