Entre repetecos e surpresas, 20 ações roubaram a cena no primeiro semestre

Mais uma vez as educacionais lideraram os ganhos do índice, enquanto a "desacreditada" Marfrig ganhou forças nos últimos meses e ficou com o segundo lugar no Ibovespa

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Não foram apenas as ações com maiores altas e baixas que chamaram atenção neste primeiro semestre. Entre rali eleitoral, anúncio de OPA, fusões e projeções com a economia, pelo menos 20 empresas chamaram atenção do mercado nestes 6 meses. Em geral, foram 8 empresas registrando ganhos de mais de 30% no período, enquanto 6 papéis tiveram desvalorização de mais de 30%. 

Seguindo o que já ocorre na Bolsa desde o ano passado, a Kroton (KROT3) liderou os ganhos do Ibovespa, registrando alta de 58,86%, a R$ 61,96, nestes primeiros seis meses de 2014. No ano passado, a companhia já tinha sido a melhor ação do índice ao avançar 72,81%. Além das boas perspectivas que o mercado tem para o setor, que tem sido muito favorecido com incentivos do governo – como o FIES -, as empresas de educação tem pouca exposição ao noticiário econômico e às eleições.

No caso da Kroton, o noticiário foi bastante agitado desde o início do ano, quando o mercado duvidava que sua fusão com a Anhanguera (AEDU3) realmente ocorreria. Diante desses temores, analistas acreditavam que a Kroton não seria tão prejudicada, o que evitou quedas dos papéis. Ao contrário da Anhanguera, que registrou fortes perdas no início do ano por ser mais prejudicada caso a fusão não saísse. Com isso, as ações da empresa subiram “apenas” 24,36% neste primeiro semestre, atingindo R$ 18,40.

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Um dos maiores problemas para que a fusão ocorresse foi resolvido em maio, quando as duas empresas trocaram a relação de troca que seria feita entre as ações. Com a alteração, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) finalmente aprovou a fusão, o que acelerou os ganhos da Kroton e ajudou a Anhanguera a recuperar as quedas do início do ano.

Outra empresa de educação também ficou entre as maiores altas do semestre: a Estácio (ESTC3) subiu 44,51% no período e atualmente é cotada a R$ 29,25. Logo no início do ano, a companhia foi favorecida pela incorporação dos alunos saídos da Gama Filho e da Universidade – ambas descredenciadas pelo MEC -, o que aumentou bastante a base de alunos do grupo. Além disso, em maio o Cade aprovou que a compra da Uniseb pela Estácio, ajudando bastante a companhia a expandir seu negócio.

Marfrig
Fechando o semestre com alta de 49,00%, a Marfrig (MRFG3) viu suas ações acomodarem-se segunda colocação entre as 71 empresas do Ibovespa, diferentemente das ações de suas concorrentes JBS (JBSS3), que fecharam o semestre com queda de 12,47%, cotadas a R$ 7,60 e da BRF (BRFS3), que fecharam com altas muito mais tímidas, de 9,36%, cotadas a R$ 53,40. Passando por fase agitada durante este semestre e demonstrando melhora significativa, as ações MFRG3 chegaram a fechar o mês me maio como maior alta, demonstrando um bom desempenho mesmo antes da divulgação dos resultados da empresa, que ocorreu no dia 12 de maio. Mesmo com a notícia de um prejuízo líquido 60% maior no primeiro trimestre do ano, na comparação com um ano antes, as ações da empresa continuaram estendendo ganhos, já que uma boa melhora operacional da empresa impulsionou os papéis e “abafou” a má notícia, realizando o pedido feito por seu CEO, Sergio Rial.

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É importante mencionar que os papéis da Marfrig não contam com grandes altas, lembrando que a empresa fechou 2013 com queda de 52,8%, além de terem alcançado em 18 de fevereiro deste ano seu menor patamar histórico (R$ 3,60).

Além disso, na última sexta-feira (27), a instituição financeira BTG Pactual elevou a recomendação do papel da Marfrig para compra, afirmando que as recentes iniciativas de gestão da companhia foram determinantes para a decisão dos bancos; este é o motivo para nesta segunda-feira (30), a Marfrig figurar entre os ganhos do principal índice de ações.

Siderúrgicas
As ações das siderúrgicas entram como destaque de queda no semestre, com Usiminas (USIM5) fechando o semestre na segunda colocação das ações com pior desempenho, com queda de 46,66% nos 6 meses, sendo cotadas a R$ 7,58, ações CSN (CSNA3) fechando o semestre com queda de 34,63%, cotadas a R$ 9,40 a Metalúrgica Gerdau (GOAU4) vindo logo depois, com queda de 32,45%, a R$ 15,63 e Gerdau (GGBR4), com queda de 28,73%, cotadas a R$ 12,94.

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As quedas vieram após noticiário agitado, com revisão de recomendações e preços dos contratos futuros de aço terem atingido a mínima recorde na China, aliado ao resultado do PMI industrial chinês, divulgado pelo HSBC no dia 6 de junho, que melhorou em maio, mas ainda sinaliza retração do setor.

A recomendação de Gerdau e Usiminas foram rebaixadas pelo Bank of América para neutro, além de CSN e Usiminas verem suas ações caírem após comunicado do Cade no dia 9 deste mês, declarando que a CSN deve reduzir sua participação na Usiminas. Após diversas compras de ações por parte da CSN, há dois anos, o Cade, em medida preventiva, impediu a siderúrgica de comprar novos papéis da Usiminas. Atualmente, a CSN detém 20,7% das ações preferenciais e 14,1% das ordinárias de sua concorrente.

Elétricas
Apesar de toda a crise do setor elétrico no primeiro semestre, algumas companhias foram bastante beneficiadas pelo cenário, principalmente por causa da disparada dos preços de energia. É o caso da Cesp (CESP6) e da Cemig (CMIG4), que subiram 37,85% e 39,42%, respectivamente nestes seis meses, atingindo R$ 27,80 e R$ 16,14. Tudo porque parte do negócio das duas empresas envolve a venda de energia.

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O resultado do primeiro trimestre das duas empresas deixou bem claro esse cenário. Com o preço da energia atingindo seu limite máximo de mais de R$ 800 por MWh, Cesp e Cemig viram suas receitas neste sentido crescerem consideravelmente. No caso da Cesp, o lucro saltou 2,5 vezes por causa das maiores vendas e por preços bem mais altos.

Apesar do desempenho positivo, o futuro é desafiador para as duas companhias, principalmente porque esse fator deve desaparecer daqui pra frente com a volta das chuvas levando os preços de energia para baixo. Nesta segunda-feira, por exemplo, o Bank of America rebaixou a Cemig para underperform (abaixo da média do mercado) prevendo esses desafios.

Estatais
Apesar de não registrarem nem as maiores altas nem as maiores baixas, as companhias estatais chamaram muita atenção neste primeiro semestre devido, principalmente, às notícias eleitorais. Com a divulgação da primeira pesquisa eleitoral, as ações de Petrobras (PETR3; PETR4), Eletrobras (ELET3; ELET6) e Banco do Brasil (BBAS3) passaram a subir com força a cada novo rumor e a cada nova sinalização de queda nas intenções de voto para Dilma Rousseff.

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Diante disso, como os próprios analistas apontam, a Bolsa perdeu seus fundamentos, passando a seguir com muito mais intensidade esses dados e rumores sobre as eleições. Com isso, acabou ficando em segundo plano as notícias que poderiam pesar para essas empresas, como o caso Pasadena para a Petrobras e os julgamentos de correção das poupanças para o Banco do Brasil, levando as duas empresas a zerarem as perdas do começo de 2014.

Enquanto isso, com menos fatores pressionando para baixos, a Eletrobras subiu forte e viu suas ações ordinárias registrarem ganhos de 14,75%, a R$ 6,39, e as preferenciais subirem 21,48%, para R$ 10,50, neste período. Já os papéis PETR3 e PETR4 tiveram valorização de 5,19% e 7,74% nestes seis meses, cotados a R$ 16,24 e R$ 17,29. Por fim, o BB viu suas ações fecharem este semestre com ganhos de 4,53%, a R$ 24,85.

Vale
Umas das maiores empresas da Bolsa, a Vale (VALE3; VALE5) não tem nada para comemorar neste primeiro semestre. Com queda de 15,82% para suas ações ordinárias – cotadas a R$ 29,24 – e de 17,02% para os papéis preferenciais, a R$ 26,35, a mineradora tem sido muito pressionanda por conta do cenário desafiador que tem enfrentado desde o início deste ano.

O primeiro grande fator que tem prejudicado a Vale é a China, que em 2014 passou a registrar um crescimento bem mais fraco, o que mudou completamente as perspectivas do mercado com o país. Diante disso, a mineradora brasileira fica muito pressionada ao ver seu maior mercado reduzir suas importações.

Além disso, o preço do minério de ferro também pesa muito para a companhia, que nos últimos meses tem visto o preço da commodity despencar e atingir na semana passada sua mínima histórica. Combinando tudo isso à queda recente do dólar, atualmente cotado abaixo de R$ 2,20, acaba pressionando a Vale, que fica com grandes dificuldade de gerar receitas mais altas.

MMX
Os papéis de pior desempenho do mês, são também os do semestre. A mineradora MMX (MMXM3), liderada por Eike Batista, viu suas ações liderarem as perdas do semestre, chegando a 50,67% de queda nos 6 meses, registrando 15,06% de queda só neste mês. Em meio a muitas turbulências, a companhia que em 2013 passou por uma reestruturação com venda de ativos devido a dificuldades financeiras do grupo EBX, de Eike Batista, demonstrou em seu resultado trimestral prejuízo líquido de R$ 69,2 milhões entre janeiro e março, um aumento de 24,5% na comparação com o mesmo período do ano passado. O resultado foi influenciado pela ampliação do resultado financeiro negativo da companhia em quase três vezes, a R$ 129,2 milhões.

A MMX concluiu em fevereiro deste ano a venda de 65 por cento do Porto Sudeste à trading holandesa Trafigura Beheer e ao fundo soberano de Abu Dhabi, Mubadala, num acordo envolvendo investimentos de 400 milhões de dólares e assunção de dívidas da MMX no valor de 1,3 bilhão de reais.

Na última quinta-feira (26), a mineradora disse que buscava um parceiro para mina no projeto Serra Azul, em Minas Gerais, enquanto lida com o colapso do conglomerado de petróleo, energia, mineração, construção naval e operações portuárias do empresário. O minério de ferro no mercado à vista caiu mais de um terço nos últimos 10 meses e agora opera perto de mínimas de dois anos e, de acordo com a mineradora, isto estava dificultando o encontro de uma parceria.

Oi
A confusão ocorrida desde o início do ano por causa da fusão entre a Oi (OIBR4) e a Portugal Telecom prejudicou muito as ações da companhia. Com os interesses dos minoritários ficando para segundo plano durante todo o debate, os papéis da Oi acabaram fechando o primeiro semestre com queda de 45,68%, a R$ 1,95. Após grandes disputas, a CVM acabou dando o “último golpe” e aprovou a realização de uma oferta de ações, o que apenas em um pregão derrubou as ações da Oi em 11%.

Desde então, os papéis da companhia seguem em baixa, agora com a presença dos minoritários bastante diluída. A queda das ações antes da oferta ocorreu não só pelo pessimismo do mercado, mas também porque o baixo valor dos ativos acabou sendo um favor muito positivo para os envolvidos na oferta, principalmente os bancos, como BTG Pactual.

Cielo: a alta não para
As ações da Cielo (CIEL3) fecharam este semestre com altas de 41,19%, sendo cotadas a R$ 45,50. A Cielo é considerada hoje a “queridinha” do setor de serviços financeiros no mercado de capitais. O valor de mercado da companhia, que tem acionistas de peso como Bradesco e Banco do Brasil, saltou de cerca de R$ 20 bilhões para R$ 70 bilhões, uma expansão de 250% desde junho de 2009.

Nesse período, a empresa viu surgir novos concorrentes, acompanhou uma grande mudança no setor, com o fim da exclusividade das bandeiras de cartão de crédito, e ainda assim manteve sua participação de mercado, de 55%. Em suas máquinas (POS, na sigla em inglês) passaram R$ 450 bilhões no ano passado em transações com cartões de débito e crédito e R$ 120 bilhões somente no primeiro trimestre de 2014.

Para o desempenho da companhia na bolsa refletem a “rara” combinação de crescimento forte dos lucros com uma boa distribuição de dividendos, além da elevação das estimativas do HSBC para a companhia. Os analistas do banco elevaram as expectativas de lucro por ação para o mesmo período entre 6 a 7%. Os motivos foram a perspectiva de crescimento resiliente de receita e resultados mais fortes que o esperado para este primeiro trimestre.

BB Seguridade
Esta pode ser considerada por muitos a grande “surpresa” destes seis meses. A BB Seguridade (BBSE3) acaba de completar 1 ano na Bolsa e já faz parte do Ibovespa. Desde que realizou seu IPO, os papéis da empresa praticamente dobraram de valor, passando dos R$ 17,00 de sua estreia para os atuais R$ 32,44. Apenas em 2014, a valorização é de 35,69%.

Mesmo com as fortes altas, ainda há espaço para crescer. Para o analista da Geral Investimentos, Carlos Muller, “a taxa de penetração de seguros na base de clientes do BB ainda é pequena, o que oferece um potencial de crescimento enorme”, justifica. O analista enxerga um grande diferencial na companhia em comparação com pares como BR Insurance (BRIN3), levando em consideração os recentes resultados entregues pela companhia.

Brookfield
Destoando do mau momento das outras imobiliárias na Bovespa, a Brookfield (BISA3) viu seus papéis subirem 26,09% nesta primeira metade de 2014 – atingindo R$ 1,45. Contudo, não pense que essa performance deve-se a um diferencial nos resultados da companhia: o movimento repercutiu o anúncio feito em fevereiro pela BRB – acionista controladora da Brookfield -, que disse que pretende fechar o capital da empresa por meio de uma OPA (Oferta Pública de Aquisição).

Segundo fato relevante divulgado em 17 daquele mês, a controladora estaria disposta a pagar R$ 1,60 por ação – no pregão anterior ao anúncio, os papéis BISA3 estavam cotados a R$ 1,24 cada na Bovespa. Atualmente, eles estão cotados a R$ 1,45, ou seja, ainda há um espaço de cerca de 10% de valorização.

A BRB pretende adquirir até 46,64% do capital da empresa – ela já possui 38,95% do capital. Os cerca de 15% restantes pertencem ao fundo BRKB, que como a BRB é controlado pela Brookfield Asset Management, e a sócios signatários do acordo de acionistas. A incorporadora vem acumulando prejuízos nos últimos trimestres, com o cancelamento de projetos e revisão de orçamentos.

Santander Brasil
Outra que conseguiu se despontar no setor foi o Santander Brasil (SANB11), com suas units se valorizando 25,53% nos primeiros seis meses do ano – seus pares privados, Itaú e Bradesco, subiram entre 12% e 15% no semestre. Mas assim como a Brookfield foi dentro das imobiliárias, o Santander se destacou mais por causa de uma movimentação de seu controlador do que pelos seus resultados trimestrais.

Logo após a divulgação do balanço do 1º trimestre, em 29 de abril, o banco anunciou que sua matriz na Espanha vai lançar uma oferta voluntária de aquisição de units no Brasil e nos Estados Unidos envolvendo até a totalidade dos papéis que ainda não detém. A oferta envolve participação de 25% que o Santander ainda não possui no Santander Brasil, sendo que o prêmio oferecido aos acionistas da instituição é de 20% sobre o preço de fechamento do pregão anterior ao anúncio, quando valiam R$ 12,74.

A oferta envolve participação de 25% que o Santander ainda não possui no Santander Brasil, sendo que o prêmio oferecido aos acionistas da instituição é de 20% sobre o fechamento dos papéis na véspera ao anúncio, quando valiam R$ 12,74. A aquisição, que pode chegar a € 4,7 bilhões (US$ 6,51 bilhões), será paga com novas ações do Santander. O banco brasileiro continuará na BM&FBovespa, mas vai migrar do Nível 2 de Governança Corporativa para o segmento tradicional.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.