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A pouco mais de uma semana de divulgar os resultados financeiros do terceiro trimestre, o presidente da Embraer (EMBR3), Francisco Gomes Neto, pede calma aos investidores.
“A mensagem para nossos acionistas é: acreditem na Embraer e tenham um pouquinho de paciência porque vamos chegar lá”, diz, em entrevista exclusiva ao Estadão. Segundo ele, a reestruturação feita na companhia e o planejamento estratégico para os próximos cinco anos tornarão a Embraer maior do que era antes da crise da covid-19 e de sofrer o revés da Boeing.
Em abril, a americana anunciou que não concluiria a compra da divisão de aviação comercial da brasileira, um acordo de US$ 4,2 bilhões. No projeto para os próximos anos, a Embraer prevê corte de custos e diversificação, além de apostar em uma recuperação do setor a partir de 2022. No mercado, porém, há certa desconfiança, dado que aviões usados ociosos podem dominar as vendas nos próximos anos. A seguir, os principais trechos da entrevista.
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A Embraer atravessa a crise da covid precisando também se recuperar do acordo fracassado com a Boeing. Foi um erro tentar a parceria?
Não. Foi um movimento estratégico importante para as duas companhias. Infelizmente, não deu certo. Então vamos continuar a nossa vida, reintegrando a área de aviação comercial.
A empresa perdeu dinheiro para separar a unidade comercial para entregá-la à Boeing. Foram R$ 485,5 milhões em 2019.
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É verdade. O processo da separação da aviação comercial foi complicado. Envolveu custos enormes. Isso está na arbitragem nos EUA. Enquanto isso, vamos fazer a lição de casa para superar a crise e preparar a companhia para crescer.
A Embraer dizia que o acordo com a Boeing era essencial porque o setor estava se consolidando e a empresa ficaria fraca para competir com gigantes como a Airbus. Se o acordo era tão importante, como sobreviver sem ele?
Como disse, acho que na época foi um movimento estratégico correto. Infelizmente, não deu certo. Também tivemos uma mudança grande no panorama com a covid. O que posso dizer é que temos avançado na reintegração da aviação comercial e fizemos um plano estratégico para 2021-2025. Ele é robusto e traz uma perspectiva boa de crescimento e de melhora de rentabilidade.
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Soube que estão sendo mantidos dois sistemas de gestão, que vão ‘conversar’ entre si. Seria como um zíper, cujos lados podem ser separados caso haja uma venda para outra empresa. Novos acordos estão no radar?
Estamos fazendo essa integração de forma inteligente. Onde faz sentido voltar ao que era antes, estamos voltando. Onde não faz sentido, estamos mantendo, mas trabalhando para simplificar os processos e torná-los mais ágeis, recuperando sinergias. Isso não tem a ver com a estratégia da companhia. Não temos plano de vender a aviação comercial ou nenhuma outra unidade de negócios neste momento. Mas estamos abertos a parcerias que nos permitam abrir novos negócios para a companhia, desenvolver produtos e crescer.
Quando a venda para a Boeing estava para ser concluída, falava-se que a Embraer viraria uma espécie de holding com diferentes negócios de tecnologia e de venda de serviços. Sem o acordo, a estratégia muda?
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Vim para a Embraer no ano passado para trabalhar a conclusão do acordo com a Boeing e também para criar uma estratégia para a Embraer continuar. Fizemos um trabalho bacana. Recriamos o espírito de equipe, trouxemos foco no resultado e em simplificar processos. Com a notícia do cancelamento do acordo, trouxemos a aviação comercial para dentro desse espírito. Revisamos esse plano estratégico, já levando em conta os impactos da covid.
A ideia então é ser o que a Embraer era antes do fracasso do acordo com a Boeing? O foco volta a ser aviação comercial?
Vamos focar na aviação e na defesa, mas também diversificar. Temos negócios com a Marinha e com o Exército. Estamos ampliando os serviços de manutenção e reforma de aeronaves não somente da Embraer, mas de fabricação de terceiros. Devemos lançar uma família de nanossatélites. Então, a Embraer não vai voltar a ser igual, vai ser maior do que foi no passado, porque agora, além da diversificação, temos produtos novos, como o C-390 Millenium (cargueiro militar), um produto que vai ajudar a gente a crescer. Imaginamos a Embraer, nos próximos cinco anos, atingindo níveis de receita superiores aos do passado e com rentabilidade melhor.
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Como fazer isso quando uma pandemia paralisa o setor?
A gente fez esse plano 2021-2025 com o pé no chão. Imaginamos que 2021 ainda vai ser desafiador, sem grande crescimento de vendas. Mas estamos preparando a companhia para, mesmo nesse cenário, ter uma performance financeira muito melhor do que a deste ano. Imaginamos que, a partir de 2022, o mercado volta a crescer. Os segmentos de aviação executiva e de defesa têm sido mais resilientes. Na aviação comercial, a gente imagina que os voos regionais e domésticos terão uma retomada antes dos demais. Isso abre oportunidade para nós (os aviões da Embraer são menores e mais adequados para esses segmentos).
O sr. falou que até 2025 a companhia vai ser maior do que era antes da crise. Quando o sr. entrou na Embraer, as informações no mercado eram de que sua meta era dobrar o faturamento da companhia em cinco anos. Isso ainda é possível?
No ano passado, quando estávamos trabalhando na nova Embraer, sem a área comercial, tínhamos uma expectativa muito otimista. As unidades que ficavam – de defesa, executiva e serviços – tinham boas oportunidades para crescer. Não era dobrar, mas era uma expectativa de crescimento importante. Agora, com a aviação comercial dentro, considerando que ela é a mais afetada pela covid, dobrar seria demais. Imaginamos chegar ao fim desses cinco anos com nível de receita maior do que a Embraer já teve e a nossa expectativa é de que a rentabilidade melhore substancialmente, porque estamos fazendo esse trabalho de ganho de eficiência. A mensagem para nossos acionistas é: acreditem na Embraer e tenham um pouquinho de paciência porque vamos chegar lá.
A Embraer demitiu 2,5 mil funcionários neste ano e há rumores de mais cortes antes de dezembro. Isso está no planejamento?
Não posso dizer nem que sim nem que não. Estamos fazendo o possível para preservar empregos, mas a crise não acabou e não a controlamos.
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