Em crise há 20 anos, “mar de milho” é trabalho para 5 a 10 anos, diz vice-presidente da Kepler Weber

Problema de milho sendo "jogado fora" no interior do Brasil é algo que ocorre desde o fim dos anos 90 e depende do governo e dos bancos para ser resolvido

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Na semana passada, um vídeo mostrando o desperdício de milho na região centro-oeste do País chamou atenção (clique aqui e veja mais). Mas o que poucas pessoas sabem é que esta situação não chega a ser novidade no Brasil. Em entrevista ao InfoMoney, o vice-presidente da Kepler Weber (KEPL3), Olivier Colas, apresentou a situação e deu um alerta para que isso mude logo.

“Isso é uma realidade no Brasil desde o fim dos anos 90”, afirma ele reforçando que este ano o País deve ter o seu maior déficit de armazenagem da história, com cerca de 70 milhões de toneladas sem local adequado para serem guardadas.

Colas explica que o atual cenário teve início com a soja. “O preço da soja não está bom, então os produtores decidiram guardar a safra para esperar o melhor momento”, afirma. E isso só ajudou a piorar a situação, já que a atual safra de milho deverá ser uma das maiores já registradas. Serão 64 milhões de toneladas da atual 2ª safra contra 40,7 milhões no ano passado.

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Apesar dos problemas, o executivo sabe que esta é uma situação que não deverá mudar de uma hora para outra. “Isso é tarefa para 5 a 10 anos”, afirma ele lembrando que a situação fiscal do Brasil não permite que o governo libere uma verba tão grande quando o setor precisa.

Colas diz que é melhor pensar nos pontos positivos do que no lado ruim. “O PCA, Programa para Construção e Ampliação de Armazéns, tem a menor taxa de juro já vista, e isto ajuda bastante os produtores”, afirma. Ele lembra porém, que quando foi criado em 2012, o programa tinha R$ 5 bilhões por ano e hoje conta com apenas R$ 1,6 bilhão.

Para ele, além do investimento do governo, os bancos também precisam ajudar na construção de armazéns. “Os bancos estão mais cautelosos com os repasses por conta da alta inadimplência diante da crise. É preciso mais ousadia dos bancos para ajudar nesta evolução”, explica.

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Colas ainda explica que a armazenagem é um dos pontos centrais do agronegócio, não apenas pelo simples fato de guardar a produção, mas porque é a “maneira mais barata e fácil” de corrigir os gargalos do escoamento no Brasil. “Com grandes armazenagens, os produtores podem vender aos poucos e evitar uma sobrecarga no sistema de escoamento”, diz.

Por fim, o executivo reforça que o resultado de 2016 da Kepler Weber foi o pior, mas que a companhia já está voltando a se recuperar e que este ano deverá ser melhor. “Os números negativos do ano passado ocorreram pela forte queda da demanda, mas isso já está mudando”, afirma.

Confira o vídeo de produtores “jogando milho fora” por falta de local de armazenagem:

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.