Indicação de CEO anima e ações da Eletrobras fecham em alta de quase 5%; confira o que esperar

Indicação foi feita pelo governo, e não pela lista elaborada pela consultoria Korn&Ferry; porém, analistas viram como bom o nome de Rodrigo Limp

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Dois meses após Wilson Ferreira Jr. anunciar a sua saída da Eletrobras (ELET3, R$ 33,89, +4,96%;ELET6, R$ 34,35, +3,62%), o que causou um forte impacto nas ações por conta de sua elogiada condução da estatal para uma maior saúde financeira, a elétrica anunciou quem foi o escolhido para substitui-lo. A escolha do novo CEO foi alvo de polêmica, não por suas qualificações, mas pelo modo de escolha do nome; contudo, os analistas de mercado acabaram relevando e vendo a indicação como bastante positiva.

No final da noite de quarta-feira (24), a Eletrobras informou que Conselho de Administração, por maioria, decidiu ontem recomendar Rodrigo Limp Nascimento para uma vaga do Conselho da companhia, visando exercer futuramente o cargo de presidência da empresa.

A indicação foi realizada pelo acionista controlador da companhia, isto é, o governo federal. O nome de Limp não fazia parte da lista de possíveis candidatos elaborada pela consultoria externa independente Korn&Ferry contratada para assessorar na escolha de candidatos para a Presidência.

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No entanto, a Eletrobras destaca em seu fato relevante que ele foi avaliado e recomendado pelo Comitê de Pessoas, Elegibilidade, Sucessão e Remuneração, entrevistado e aprovado, por maioria, pelo Conselho de Administração, e atende aos requisitos legais e de qualificação técnica necessários para o cargo.

De qualquer forma, a governança corporativa da companhia foi questionada, levando inclusive à saída de um conselheiro da companhia.

Mauro Gentile Rodrigues da Cunha, que também é coordenador do Comitê de Auditoria e Risco Estatutário, pediu saída do Conselho por discordar da escolha do nome indicado pelo governo. Segundo ele, a recomendação deixou de lado o processo de seleção do novo presidente que estava em curso sob coordenação da consultoria Korn Ferry. Na carta de renúncia, Cunha disse que houve “quebra irremediável de confiança no processo de governança deste conselho”.

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“Faço votos para que as sementes de governança plantadas persistam e voltem a florescer, levando a Eletrobras a novos voos para cumprir seu propósito de dar energia para o desenvolvimento sustentável da nossa sociedade”, escreveu.

Apesar dessas rusgas e da governança corporativa ser sempre vista como uma questão para a companhia, ainda mais em tempos recentes com a interferência do governo nas demais estatais como Petrobras (PETR3;PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3), a indicação de Limp está sendo bastante elogiada pelos analistas de mercado, com alguns deles destacando como o “melhor nome para o desafiador processo de privatização” da elétrica, caso do Itaú BBA, enquanto o Bradesco BBI avaliu a escolha como “perfeita”. Isso motivou a alta das ações da companhia nesta quinta, que fechou com ganhos de 4,96%, a R$ 33,89, para os papéis ON, e de 3,62%, a R$ 34,35, para os ativos PN.

Limp é atualmente secretário de energia do Ministério de Minas e Energia e foi diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) entre 2018 e 2020. Foi também consultor legislativo da Câmara dos Deputados na área de Recursos Minerais, Hídricos e Energéticos entre 2015 e 2018.

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Limp é formado em direito pelo Instituto Brasiliense de Direito Público – IDP, e também é graduado em engenharia elétrica pela Universidade Federal de Juiz de Fora – MG. Além disso, possuí MBA Executivo em Administração: Gestão em Empresa de Energia Elétrica pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, Mestrado Economia do Setor Público, pela Universidade de Brasília – UNB, Pós Graduado em Direito Regulatório de Brasília, pela Universidade de Brasília – UNB.

“Acreditamos que a nomeação de  Limp para o Conselho de Administração e Presidência da Eletrobras atende a critérios técnicos tendo em vista a sua trajetória profissional com ampla experiência no setor elétrico, especialmente no que diz respeito à regulação”, destaca a XP Investimentos.

A experiência com a legislação, o seu amplo conhecimento sobre a regulação do setor por ter feito parte da Aneel e o fato de ter sido peça-chave para o avanço no processo de desestatização da companhia como integrante do Ministério de Minas e Energia são pontos citados como bastante relevantes pelo Itaú BBA, que destacou a notícia como muito positiva.

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“Embora Limp não tenha experiência corporativa, acreditamos que ele tem as habilidades certas para liderar a empresa e conduzir o complexo processo de desestatização”, avaliam Marcelo Sá, Fernando Zorzi e Luiza Candiota, analistas do BBA, que apontam estarem mais otimistas em relação ao potencial processo de privatização.

Os analistas do Bradesco BBI também apontam que, apesar da rusga sobre a governança corporativa da estatal, “não poderiam estar mais satisfeitos” com o novo nome do CEO da Eletrobras.

“Em nossa opinião, o governo está enviando uma nova mensagem de que está totalmente focado na privatização de
Eletrobras (nomear Diogo Mac Cord como Secretário de Privatização em 2020 foi outro sinal claro, seguido pelo envio da
Medida Provisória para privatizar a Eletrobras em fevereiro de 2021). Conhecemos e temos contato com Limp há vários anos, durante sua gestão na Aneel e como Secretário no ministério, e nossa opinião é de que ele é guiado por uma visão técnica profunda combinada com sabedoria política”, afirmam Francisco Navarrete, Bruno Reis e Jonny Oda, analistas do BBI.

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Os analistas apontam ainda que, embora na visão deles o ex-CEO Wilson Ferreira seja “obviamente insubstituível” em muitos aspectos, os críticos estão “perdendo o foco” graças ao fato de que o antecessor e a sua equipe (que permanece na Eletrobras) resgataram a companhia e fizeram com que ela se tornasse um player verdadeiramente relevante no setor de energia no Brasil e no exterior.

Tudo ou nada para a Eletrobras? O que esperar

A nomeação de Limp, avaliam os analistas do BBI, fala diretamente a este desafio da estatal em um cenário de “tudo ou nada” para a companhia com os cenários para a desestatiazação. Isso porque, ou a Medida Provisória que trata sobre o tema é aprovada pelo Congresso até junho – após seu envio, no caso no final de fevereiro, ela tem 120 dias para ser votada e aprovada pelo Legislativo – ou a Eletrobras permanece como uma estatal enquanto nos dirigimos para o cenário incerto das eleições de 2022.

Com isso, é importante ficar de olho nas próximas datas e no progresso para a votação da MP da Eletrobras no Congresso.

A assembleia geral ordinária de acionistas, na qual deverão ser eleitos os membros do conselho de administração da companhia, em movimento que prepara também a nomeação do novo presidente para a estatal, está marcada para o próximo dia 27 de abril.

Enquanto isso, os analistas observam o noticiário político. Conforme destacou o jornal O Globo, o relator da medida provisória (MP) que trata da privatização da estatal, deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), avalia mudar completamente o modelo proposto pelo governo para a venda da estatal, o que pode gerar reação negativa no mercado financeiro.

Segundo a publicação, técnicos dos ministérios da Economia e de Minas e Energia alertam que a adoção de um novo formato pode adiar a privatização para depois de 2022.

Nascimento tem falado em dividir a empresa em duas. Uma parte permaneceria como estatal e reuniria a hidrelétrica Itaipu, na divisa com o Paraguai, e as usinas nucleares localizadas em Angra dos Reis — em ambos os casos, as usinas não podem ser privatizadas. A outra parte seria composta por subsidiárias como Furnas, Eletronorte e Chesf. Elas seriam vendidas juntas ou separadas, o que ainda não estaria definido.

Já a MP enviada pelo governo ao Congresso defende uma capitalização na Bolsa de Valores como forma de a União perder o controle da estatal. A empresa seria transformada numa corporação sem controlador definido. Depois da sinalização do deputado, o governo buscou convencer o deputado a manter a proposta original.

Leia mais: Quais são os obstáculos para a privatização da Eletrobras?

Na avaliação do Itaú BBA, a proposta de Elmar Nascimento é uma má ideia devido: 1) à complexidade de cisão de subsidiárias, com garantia de dívidas; 2) o risco de grande concentração de mercado se um grande mercado local ou uma concessionária estrangeira adquirir essas subsidiárias; 3) mais resistência dos políticos; e 4) o fato de que isso exigiria
muito mais tempo para execução, reduzindo substancialmente as chances de aprovação em 2021. “Nosso caso base é de que esta alternativa não avançará, e a atual MP será aprovada na Câmara dos Deputados (com algumas emendas) em abril”, apontam os analistas.

Os analistas do BBA possuem recomendação outperform (desempenho acima da média) para os ativos ELET3, com preço-alvo de R$ 56 (potencial de alta de 73,4% frente o fechamento da véspera), assumindo uma chance de 50% de privatização. Caso a privatização seja concretizada, o banco vê a ação a R$ 64, ou alta de 98,2% em relação ao fechamento da ação na última quarta-feira. Já os analistas do BBI, por sua vez, possuem recomendação neutra para o ativo ELET6, com preço-alvo de R$ 41, ainda que com potencial de alta de 23,7% frente o fechamento da véspera de R$ 33,15.

Alguns analistas ainda seguem cautelosos com a companhia, caso do Credit Suisse, apontando que ainda é preciso forte apoio político para que a proposta do governo seja aprovada. Contudo, a avaliação geral da escolha do nome de Limp foi vista como positiva, sendo mais um progresso para a desestatização da estatal – ainda que o método da escolha do CEO tenha sido contestado.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.