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De varejo e logística a seguradoras: os 7 setores da Bolsa impactados pela força do El Niño no Brasil

Em relatório, analistas do Citi destacaram impactos diretos e indiretos do fenômeno para diversos setores e ações da Bolsa

Lara Rizério

El Niño (Foto: Getty Images)
El Niño (Foto: Getty Images)

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El Niño mais intenso dos últimos 25 anos e podendo se estender até maio de 2024.

Com as últimas notícias sobre o fenômeno e os seus efeitos se materializando, cada vez mais os analistas de mercado monitoram as consequências para diferentes setores da economia.

O El Niño é caracterizado pelo aquecimento das águas do oceano Pacífico, que ocorre em intervalos irregulares de cinco a sete anos e tem duração média que varia entre um ano a um ano e meio.

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Além do aumento da temperatura, o Brasil já sofre com secas prolongadas no norte e nordeste, e chuvas intensas e volumosas na região sul. O fenômeno climático provoca também secas no sudeste da Ásia e nos países da Oceania, com aumento da incidência de chuvas na região central do pacífico, assim como na costa oeste dos EUA.

As consequências são fortemente sentidas, com seca nos rios amazônicos levando a mudanças na logística dos embarques em diversos portos, enquanto a Samsung informou à Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) que vai antecipar férias coletivas de fim de ano em sua fábrica na cidade por causa da seca recorde que atinge o Amazonas, que tem dificultado a chegada de insumos para produção.

Com base nos impactos históricos do El Niño e no que já está ocorrendo no atual, o Citi destacou sete setores da Bolsa afetados, direta ou indiretamente, com o fenômeno. Confira abaixo:

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1. Utilities

Os analistas do Citi acreditam que a volatilidade dos preços de energia à vista deve ser alta, o que poderia beneficiar companhias com operações hidrelétricas como Eletrobras (ELET3;ELET6) e Copel (CPLE6). Eneva (ENEV3) também pode se beneficiar de uma mudança no consenso de mercado, mas menos do que as duas primeiras, na visão dos analistas.

O El Niño deve: i) aumentar o regime de chuvas no Sul; ii) diminuir o regime de chuvas no Norte/Nordeste; iii) elevar temperaturas como um todo no país, como na região Sudeste, densamente povoada.

Cabe ressaltar, contudo, que outras casas apontaram que fontes alternativas e ação do sistema integrado atenuariam efeito da estiagem no Norte para as elétricas, podendo ter um impacto neutro no setor. 

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2. Açúcar e grãos

No segmento, a expectativa é de diferentes impactos. Os analistas estimam preços mais baixos para grãos, dada a recuperação na região produtora no Sul e menores custos de insumos.

Neste cenário, o Citi acredita que a 3tentos (TTEN3) deverá ser a mais beneficiada pelo El Niño, enquanto a SLC (SLCE3) deve seguir com preocupações devido às incertezas climáticas na região do Matopiba (região que abrange os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).

Para o açúcar, o El Niño deverá conduzir a novas reduções nas colheitas no mundo, num contexto de padrões climáticos secos e erráticos nas regiões produtoras de açúcar na Ásia. Assim, ainda veem os preços do açúcar em patamares bem mais saudáveis ​​no curto e no médio prazo.

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São Martinho (SMTO3) e Jalles Machado (JALL3) são comumente citadas como as empresas com produção de açúcar que seriam beneficiadas. 

3. Alimentos e Bebidas

Os analistas esperam impacto líquido positivo para produtores de suínos e aves com preços mais baixos de soja e milho. Por outro lado, 60% da produção de carne bovina do Brasil vem do Centro-Oeste e Sudeste do país, que deverá sofrer efeitos “mistos” do El Niño, aponta o Citi.

Para o arroz, analistas como da Ágora também destacam que os preços do alimento estão subindo na Ásia, uma vez que a seca que atinge a região deve impactar as safras.

“Este cenário na Ásia deverá fazer com que os preços do arroz continuem subindo no Brasil porque os compradores de arroz terão que encontrar novos fornecedores, uma vez que os produtores asiáticos enfrentam desafios”, destacou a casa de análise, o que pode beneficiar a Camil (CAML3).

4. Varejo

Com o El Niño, os analistas do Citi esperam maior “volatilidade climática” (ou seja, mais mudanças no clima, com, por exemplo, mais chuvas no Sul do Brasil). Isso pode impactar os varejistas de vestuário durante o lançamento de novas coleções, levando a SSS (vendas mesmas lojas) voláteis e descontos mais elevados.

Isso deve levar a uma maior pressão sobre a margem bruta das companhias do setor. O Citi aponta que isto significa um potencial impacto negativo para players com maior exposição à moda feminina: ou seja, Lojas Renner (LREN3), C&A (CEAB3) e Soma (SOMA3).

Paralelamente, uma maior produção de cereais pode levar a uma inflação alimentar mais baixa e persistente, o que pode afetar negativamente Assaí (ASAI3), Carrefour Brasil (CRFB3) e Grupo Mateus (GMAT3).

5. Transportes

O El Niño deverá ter impactos mistos, mas ainda assim relevantes para os operadores logísticos, apontam os analistas do banco.

A maior produção agrícola no Sul do Brasil deve gerar melhores volumes para as operações Sul da Rumo (RAIL3) e da Hidrovias do Brasil (HBSA3).

Para os operadores de rodovias pedagiadas, os efeitos estão mais relacionados com o investimento, uma vez que as fortes chuvas podem afetar obras de construção e danificar as infraestruturas existentes, especialmente para as concessões no Sul. Para as companhias aéreas, as fortes chuvas podem perturbar o fluxo de tráfego nos aeroportos do Sul, avalia o Citi.

6. Seguradoras e resseguradoras

A BB Seguridade (BBSE3) e o IRB (IRBR3) têm exposição a seguros rurais (agrícolas e pecuários) e a mudança de La Niña para El Niño trouxe preocupações para ambos os nomes.

“No entanto, olhando para os números históricos dos últimos 10 anos, não é claro que anos de El Niño devam trazer riscos mais elevados para os índices de perdas. Na verdade, as perdas médias nos anos de El Niño foram inferiores à média dos anos de La Niña – embora ainda sejam marcadamente piores do que nos anos em que não há desvios significativos com El Niño/La Niña”, apontam.

7. Indústria

No setor industrial, os analistas do banco esperam algum impacto na Kepler Weber (KEPL3), maior fabricante de equipamentos para armazenamento de grãos da América Latina. O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) da empresa tem alta correlação com os preços dos grãos, principalmente da soja.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.