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SÃO PAULO – Considerado por especialistas o melhor setor da Bolsa nos últimos anos, as empresas educacionais começaram 2015 entre as piores da Bovespa, com perdas que chegam a 30% em apenas três pregões. O motivo dessas quedas não é uma surpresa – uma mudança no Fies pode prejudicar o ingresso de novos alunos nas universidades -, mas a questão que fica é se essas perdas são justificadas, e ainda, até quando elas irão continuar.
Em apenas três pregões, a Kroton (KROT3) – campeã do Ibovespa em 2013 e 2014 – já caiu 18,39%, para R$ 12,65, enquanto a Estácio (ESTC3), recuou 18,98%, a R$ 19,30. Se considerarmo ainda o pregão do dia 30 de dezembro – um após a notícia sobre o Fies -, as quedas destas ações chegam a 23,70% e 24,76%, respectivamente.
Fora do Ibovespa, a Anima (ANIM3) tem perdas de 23,62% em 2015, cotada a R$ 27,00, enquanto a Ser (SEER3) já recuou 26,66% no mesmo período, para R$ 21,70. Estendo para o período entre 29 de dezembro e 6 de janeiro, as desvalorizações são de 26,83% e 29,08%, respectivamente.
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No total, essas quatro empresas de educação perderam R$ 10,319 bilhões em valor de mercado nos três pregões deste ano. Há ainda a Abril Educação (ABRE3), que neste ano tem queda acumulada de 8,73%, a R$ 10,24, mas a companhia não é exposta ao Fies, já que está centrada no negócio de educação básica.
Segundo o analista Tales Freire, do Bradesco, o Fies responde por 49% das receitas totais da Ser, 44% da Kroton, 40% da Estácio e 38% da Anima. Ou seja, o programa é uma importante fonte de receita para estas empresas, e uma mudança que possa reduzir os ganhos com ele devem ter grande efeito nestas empresas.
Impactos nas empresas
Segundo os analistas Felipe Silveira e Daniel Liberato, da Coinvalores, ainda é cedo para mensurar os efeitos das mudanças, embora elas tenham possível impacto sobre a captação de novos alunos. “Esse setor desde 2011 foi bastante estimulado, mas há algumas indicações de que alguns desses benefícios em um quadro de aperto de despesas do governo podem sofrer alterações”, afirmaram.
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Já para o analista técnico Ricardo Kim, da XP Investimentos, é um fato de que a notícia deve impactar negativamente a captação dessas empresas pelo Fies, mas assim como os analistas da Coinvalores, ele também acredita que é cedo para calcular qual o real impacto da medida. “Achamos que o impacto é menor do que o mercado precifica, dado que a base de alunos já está consolidada e o impacto deve ocorrer em parte da captação do segmento presencial”, afirmou.
“O setor continua resiliente e a Educação ainda se encontra como bandeira forte do governo atual (vide plano agressivo de penetração do Ensino Superior do PNE)”, lembra Kim, que destaca ainda outros fatores que favorecem o setor, como captação de sinergia das aquisições/fusões recentes e o segmento de EAD ainda com desempenho muito forte. Como sua favorita ele indica a Estácio, que tem menor exposição ao Fies que a Kroton. “Para quem não tem exposição no setor, é uma boa oportunidade de entrada”, completa.
Enquanto isso, o analista Bruno Giardino, do Santander, acredita que os preços das ações já consideram a “inexistência de crescimento na captação de alunos a partir de 2015”. “Embora esta seja a primeira mudança restritiva desde a reestruturação do programa em 2010, não consideramos que represente um ponto de inflexão no apoio do governo para o setor”, destaca.
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Mas Giardino destaca também um ponto positivo nesta notícia: “acreditamos que o aumento na seletividade de alunos do Fies deve reduzir as taxas de evasão, o que é positivo para a sustentabilidade do programa em longo prazo”.
Entenda o caso
A partir de agora, os estudantes precisarão tirar no mínimo 450 pontos no Enem para terem acesso ao Fies, e não poderão zerar a prova de redação. Além disso, os candidatos não poderão mais receber o benefício simultâneo do financiamento com recursos do Fies e de bolsa do Prouni. A exceção vale para bolsa parcial, mas apenas quando ambos os benefícios se destinarem ao mesmo curso e na mesma instituição de educação superior.
Além disso, o MEC também instituiu mais controles sobre o Fies, estabelecendo, entre outras regras, que as empresas com mais de 20 mil alunos usando empréstimos do programa poderão vender seus créditos do programa em um intervalo mínimo de 45 dias, ante 30 anteriormente Em relatório, Freire, do Bradesco, avaliou que as exigências mínimas em relação ao Enem parecem estar mais relacionadas à padronização de critérios de financiamento que a um eventual aperto fiscal.
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As alterações foram anunciadas antes do discurso da presidente Dilma Rousseff na cerimônia de posse de seu segundo mandato, quando lançou o novo lema de seu governo, “Brasil, pátria educadora”, sinalizando que a educação será “a prioridade das prioridades”. “Ao longo deste novo mandato, a educação começará a receber volumes mais expressivos de recursos oriundos dos royalties do petróleo e do fundo social do pré-sal. Assim, à nossa determinação política se somarão mais recursos e mais investimentos”, disse Dilma.
Para Liberato, da Coinvalores, o governo deverá dar um foco maior à educação básica e a creches. “A educação superior não deve ser tão estimulada quanto nos últimos anos, por mais que benefícios e programas continuem”, afirmou.
Com Reuters
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