E se o minério de ferro continuar a US$ 200 em 2021? Confira o impacto para os números de Vale e CSN Mineração

Analistas da XP fizeram análise de sensibilidade após a forte alta do minério de ferro e destacaram números bem superiores frente estimativas atuais

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Uma das maiores estrelas entre as commodities em 2020, o minério de ferro segue em forte alta em 2021, tendo registrado um forte impulso nos últimos pregões e superando a marca simbólica de US$ 200 a tonelada.

As preocupações com a oferta, que já rondavam o mercado, ganharam ainda mais força em meio a sinais de deterioração das relações entre China, maior produtora de aço, e a Austrália, maior fornecedora de minério de ferro. Assim, o minério de ferro na bolsa de Cingapura avançou 3,9%, para US$ 203 dólares (veja mais clicando aqui) nesta sexta-feira (7). Já segundo o índice de referência elaborado pela Platts, o minério de ferro chegou a US$ 212,75 a tonelada, após fechar a US$ 202,65/t na véspera.

Tal cotação da commodity está bem acima das projeções de boa parte dos analistas de mercado, que já esperava alguns sinais de acomodação para o minério de ferro com a retomada de produção de algumas companhias em 2021.

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Além da questão Austrália-China, Yuri Pereira e Thales Carmo, analistas da XP, apontam a demanda mais forte do que o esperado da China como o motivo da recente alta nos preços do minério de ferro.

Do lado da demanda, a expectativa dos analistas é de que a produção de aço na China em 2021 ultrapasse 1 bilhão de toneladas pelo segundo ano consecutivo, à medida que as siderúrgicas aumentam a produção para atender à demanda mais forte após incentivos governamentais.

No trimestre, a produção chinesa de aço bruto atingiu 271 milhões de toneladas (alta de 15,6% na base anual). Se a produção de aço chinesa aumentar apenas 6% (a média anual dos últimos 5 anos) entre 2020 e 2025, isso representará uma demanda extra de minério de ferro de cerca de 101 milhões de toneladas por ano.

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O montante é igual à oferta adicional proveniente do plano de expansão da CSN Mineração (CMIN3) para 2025 (aumento de produção de 37 milhões de toneladas, excluindo compras de terceiros) e recuperação da produção da Vale (VALE3), de alta de 65 milhões, para 390 milhões de toneladas em 2025). “Essa sensibilidade nos mostra o quão apertada está a indústria de minério de ferro”, avaliam.

Já do lado da oferta, atenção para a escassez de investimentos em aumento de capacidade nos últimos anos, tendo como resultado, uma produção de minério de ferro praticamente estável no Brasil e na Austrália.

Levando em conta o mercado apertado para o minério de ferro, Pereira e Carmo fizeram uma análise de sensibilidade para medirem o impacto do minério a US$ 200 a tonelada para os números das duas companhias. Eles concluem que, para cada aumento de 5% nos preços do minério de ferro, espera-se uma elevação média de 7% no lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) de ambas as empresas.

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Especificamente para a Vale, se os preços do minério de ferro permanecerem em US$ 200 a tonelada até o fim de 2021 (ou uma média de US$ 190 a tonelada no ano), a estimativa é de que a companhia atinja um Ebitda de US$ 45,3 bilhões e um retorno com fluxo de caixa de 26,7%.

A projeção para o Ebitda é 55% maior do que as estimativas atuais de US$ 29,2 bilhões dos analistas, enquanto a expectativa para o fluxo de caixa atualmente é de 16%, considerando a média de minério de ferro de US$ 135 a tonelada no ano.

Além disso, um cenário de preço médio da commodity em US$ 190 a tonelada em 2021 implica em um múltiplo de valor da firma sobre o Ebitda (EV/Ebitda) esperado para 2021 de 2 vezes (em comparação com os 3,5 vezes atuais da XP).

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Já com relação aos dividendos, considerando a política da mineradora, de 30% da diferença entre o Ebitda recorrente e o capex (investimentos de capital) de manutenção, a estimativa atual da XP é de um dividend yield (dividendo sobre o preço da ação) de 7,1% para 2021. Caso os preços do minério de ferro permanecerem em torno de US$ 200/t até o final do ano, o número pode chegar a 9,2%, sem considerar o potencial de dividendos extraordinários devido à maior geração de caixa.

Já para a CSN Mineração, se os preços do minério de ferro seguirem em US$ 200 a tonelada, a estimativa é de um Ebitda de R$ 26,3 bilhões, valor 76% superior à projeção atual de R$ 14,9 bilhões da XP e um retorno com fluxo de caixa de 23%, 10 pontos percentuais acima da expectativa de 13%.

Além disso, um cenário de preço médio da commodity em US$ 190 a tonelada em 2021 implica um EV/Ebitda esperado para 2021 de 2,2 vezes (em comparação com os 3,8 vezes atuais da projeção XP), bem abaixo da média histórica dos seus pares entre 5 vezes e 5,5 vezes. Considerando um pagamento de dividendos sobre o lucro líquido (dividend payout) de 80%, a estimativa é de um dividend yield de 12,5% para 2021.

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Os analistas da XP possuem recomendação de compra para ação da Vale, com preço-alvo de R$ 122 por ação, e para CSN Mineração, com preço-alvo de R$ 14.

Cabe destacar que o Itaú BBA revisou nesta sexta as projeções para a Vale, além do setor siderúrgico, de forma a incorporar os resultados trimestrais que surpreenderam o mercado e também revisando para cima as expectativas para o minério de ferro. A projeção para a commodity em 2021 passou de US$ 145 por tonelada para US$ 155/t e para 2022 foi de US$ 115 para US$ 120/t.

Com isso, os analistas do banco reiteraram a Vale como top pick do setor com recomendação outperform e elevaram o preço-alvo dos ADRs (American Depositary Receipts, papéis da companhia negociados na Bolsa de Nova York) de US$ 20 para US$ 26, ou 19% de potencial de valorização em relação ao último fechamento, de forma a incorporar as novas estimativas para o minério.

Os analistas também elevaram as estimativas de vendas da companhia para 325 milhões de toneladas no ano (no ponto médio do guidance da mineradora entre 315 milhões e 335 milhões de toneladas), além de projetarem um dividend yield de cerca de 13% em 2021 (incluindo pagamento de dividendos extraordinários e programa de recompra de papéis). Os múltiplos das ações da companhia, projetados pelo banco em 3 vezes o EV sobre o Ebitda esperado para 2021, representam um desconto entre 35% e 40% frente seus pares australianos.

Levando em conta o preço realizado do aço e a perspectiva positiva para o setor, os analistas do banco também elevaram o preço-alvo para as ações de CSN (CSNA3) de R$ 46 para R$ 61 (upside de 21%), de Gerdau (GGBR4) de R$ 25 para R$ 45 (upside de 25%) e de Usiminas (USIM5) de R$ 20 para R$ 28 (upside de 19%). Todas possuem recomendação outperform pelos analistas do banco.

O Bradesco BBI também reiterou a sua recomendação outperform para Vale e CSN Mineração apontando que, mesmo que as rusgas entre Austrália e China tenham curta duração, a robusta demanda de aço dentro e fora da China, combinada com as fortes margens de lucro das siderúrgicas, estão elevando os preços do minério de ferro a níveis recordes, favorecendo os ativos.

Cabe destacar que a demanda tornou-se mais forte também por materiais de alta qualidade e menos poluentes, o que tende a beneficiar o produto da mineradora Vale, que tem maior teor de ferro.

“Os recentes cortes na produção em Tangshan aumentaram a demanda por minério de alta qualidade e levaram as usinas a construir estoques de minério de ferro, já que suas margens estão aumentando com a oferta de aço sendo restrita”, disse à Reuters o analista do CRU Group, Erik Hedborg, em Londres.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.