Dólar subiu bem mais do que o esperado e deve seguir forte no curto prazo, diz Credit

Quem acredita que o BC vai intervir no câmbio pode se decepcionar

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – Bastaram 10 dias para o dólar sair de R$ 3,99 para R$ 4,19 desde 5 de novembro. Nesse período, o balanço de riscos mudou de forma relevante no Brasil, e o exterior também se soma como fonte de volatilidade para o câmbio, o que aumentou as especulações de que eventualmente o Banco Central precisará injetar dólares no mercado para evitar uma desvalorização maior do real.

Não é nisso que acreditam os analistas Shahab Jalinoos, Alvise Marino, Günter Grimm, Daniel Chodos e Nimrod Mevorach, do Credit Suisse. A equipe escreveu em relatório que o BC pode não atuar agora, já que a flutuação do câmbio não foi tão brusca assim e o teto psicológico de R$ 4,20 tem sido sistematicamente respeitado.

De acordo com o research, a baixa presença do investidor estrangeiro no Brasil e o ambiente positivo de reformas liberais do governo mantêm a atratividade dos ativos brasileiros principalmente no longo prazo. Todavia, na hora de se falar em câmbio, os acontecimentos recentes mudam totalmente o balanço de riscos.

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O movimento do dólar em relação ao real este ano pode ser dividido entre antes e depois do megaleilão da cessão onerosa. A venda de quatro áreas da Bacia de Santos, para a qual o governo esperava levantar R$ 106,5 bilhões, acabou gerando apenas R$ 70 bilhões e praticamente todos os blocos foram arrematados pela Petrobras. Apenas 10% da área de Búzios foi arrematadas pelas chinesas CNODC e CNOOC.

Para o Credit Suisse, o resultado decepcionante da cessão onerosa, seguido pela libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou formando o cenário perfeito para os comprados na moeda dos EUA. Os analistas consideram que o sell-off do real depois do dólar bater R$ 4,07 foi inesperado e leva o mercado a esperar por intervenções do Banco Central, mas defendem que isso não deve ocorrer.

“Este é um risco chave de curto-prazo: por mais que estruturalmente gostemos do real e estejamos construtivos no ambiente macro, somos céticos acerca da urgência do BC em intervir nos níveis atuais dado que o movimento do dólar comercial por enquanto tem sido bastante ordenado”, aponta o relatório.

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Outro risco tem a ver com os contratos futuros da moeda. Os analistas lembram que, como o dólar já encostou nos R$ 4,20 diversas vezes este ano, a proliferação de operações estruturadas com travas acima desse patamar poderia causar uma aceleração do câmbio para níveis mais altos se o dólar à vista começar a operar naquele valor.

A equipe do banco suíço ressalva que nada disso será um problema se o dólar se mantiver abaixo de R$ 4,20 como tem feito o ano inteiro. A assimetria de riscos envolvendo a frustração com a cessão onerosa e a possível intervenção da autoridade monetária, contudo, sugere que não é um bom momento para desacreditar na força da moeda americana frente à brasileira.

Fora do Brasil, os analistas entendem que o cenário geral é benigno, mas uma escalada na guerra comercial entre Estados Unidos e China pode causar uma fuga para ativos mais seguros, embora analistas no mundo todo considerem que as eleições presidenciais americanas de 2020 tornem esse quadro improvável.

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O cenário para o Chile acaba sendo o pior de todos, visto que as tensões políticas no país, com uma nova Assembleia Constituinte a caminho e greve geral marcada para os dias 23 e 24 de novembro, o peso pode testar níveis acima de 800 por dólar no curto prazo. “Nós suspeitamos que os mercados vão querer testar o banco central, em vez de aceitar a intenção da autoridade monetária em mitigar a depreciação do câmbio”, destacam.

Desta forma, a visão do banco sobre o real do ponto de vista estrutural não se alterou, com os estrategistas ainda vendo a moeda brasileira como atrativa principalmente no longo prazo. Contudo, a dificuldade está em pensar no curto prazo, pois há ceticismo sobre o senso de urgência do Banco Central de intervir nos níveis atuais, ao contrário do que muitos investidores acreditam.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.