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Após abrir entre leves perdas e ganhos, o dólar caiu mais de 1% ante o real e fechou abaixo dos R$ 5 pela primeira vez em mais de dez meses, após o dado de inflação ao consumidor (CPI) de março abaixo do esperado nos EUA. A divisa comercial americana caiu 1,31%, a R$ 4,941 na compra e R$ 4,942 na venda. Com isso, a moeda fechou abaixo de R$ 5 pela primeira vez desde 9 de junho de 2022, ou mais de dez meses. Na mínima do dia, a moeda chegou a R$ 4,918.
O índice de inflação americano subiu 0,1% em março na comparação com fevereiro, segundo dados com ajuste sazonal e atingiu 5,0% no acumulado em 12 meses, enquanto o consenso Refinitiv apontava para alta de 0,2% em março na comparação com fevereiro. A projeção para 12 meses era de 5,2%. O dado pode influenciar as decisões sobre juros do Federal Reserve, levando a uma interrupção do aperto monetário antes do esperado pelo mercado.
O dólar tende a ganhar força com juros mais altos nos EUA, uma vez que isso atrai recursos para o mercado de renda fixa norte-americano. Assim, o fim do ciclo de alta de juros no país estando mais próximo beneficia a moeda brasileira, favorecendo operações de carry trades em emergentes – quando traders se financiam com moedas de baixo retorno no mundo rico para comprar aquelas de mercados que oferecem rendimentos mais altos, o que acarreta a sua valorização.
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Logo após a divulgação dos dados, os futuros da taxa de juros de curto prazo dos EUA passaram a refletir cerca de 60% de chance de uma alta de 0,25 ponto dos juros pelo Fed em maio, contra cerca de 73% de chance antes dos dados.
Cabe destacar que, na véspera, o dólar fechou a R$ 5, no menor patamar desde junho de 2022 até então, tanto por conta dos dados de inflação abaixo do esperado também no Brasil (levando a um maior fluxo de capitais para o Brasil, mesmo com a visão de corte de juros mais cedo por aqui) quanto pela visão recente de que o Fed pode antecipar o fim do ciclo de altas das suas taxas básicas (além da expectativa por mais detalhes do arcabouço fiscal).
Assim, mesmo se houver uma antecipação do corte de juros por aqui, operações visando ganhos com as taxas ainda altas por aqui seguem atrativas.
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“A queda do dólar está muito ligada à continuação do clima de apetite ao risco, que teve início ontem de forma mais intensa após a inflação [do Brasil, medida pelo IPCA] abaixo das projeções, aumentando as esperanças de uma queda da Selic ainda esse semestre. A formalização próxima da entrega do arcabouço fiscal ajuda a descomprimir os juros, levando a uma queda da curva de juros em diversos vencimentos, diminuindo o risco. Consequentemente, o dólar, que também tinha bastante prêmio embutido nas cotações, acaba caindo. Contribuindo para esse cenário bem otimista, a inflação nos EUA medida pelo CPI alimenta projeções do Fed subindo menos os juros”, avalia Pedro Canto, analista da CM Capital.
O DXY, que mede o desempenho do dólar frente uma cesta de moedas fortes, chegou a cair 0,6% durante a sessão. Para Canto, no atual cenário, o dólar já está mostrando sinais de sobrevenda. Assim, correções técnicas seriam saudáveis. “Mas, no médio prazo, a divisa deve orbitar entre R$ 4,90 e R$ 5”, avalia.
Já o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira que a inflação no Brasil caiu, mas pressões permanecem em meio a um componente de demanda “relativamente forte”.
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Em apresentação preparada para reunião com investidores organizada pela XP em Washington, Campos Neto disse ainda que as expectativas de inflação de longo prazo estavam ancoradas em 2022, mas desde novembro passado iniciou-se um processo de deterioração.
Para o diretor da Wagner Investimentos, José Faria Jr., a desaceleração do IPCA explica menos o ânimo dos mercados do que o noticiário sobre o arcabouço fiscal.
“O que estamos vendo é um aumento da confiança dos investidores com relação ao arcabouço fiscal ou uma redução do risco de cauda”. avalia. O especialista destaca que na véspera foi divulgada na imprensa uma alteração benéfica do arcabouço, sinalizando que ele não irá incluir no cálculo as receitas extraordinárias, apenas as recorrentes, e indicando que deve existir uma trava para impedir que um bônus de arrecadação seja usado totalmente em investimentos.
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“O texto do arcabouço ainda não foi formalmente apresentado (somente será apresentado na próxima semana) e ainda não sabemos os nomes dos dois novos diretores do BC (há dois nomes que foram ventilados há alguns dias, mas não foram confirmados). Para vermos melhora sustentada dos ativos brasileiros, é necessário que o texto seja aprovado preferencialmente por ampla margem no Congresso e que os nomes do BC agradem”, avalia.
Para Faria Jr., a batalha contra a inflação ainda não está ganha e o Copom somente deverá começar a cortar juros no segundo semestre do ano.
Com o dólar operando por volta dos R$ 4,95, ele avalia que “talvez estejamos presenciando o fim do intervalo da moeda entre R$ 5,00 e R$ 5,50”.
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“Há duas alternativas agora: ir comprando de R$ 5,00 para baixo, a cada queda de R$ 0,05, e/ou aguardar a cotação ficar no intervalo sugerido do modelo de longo prazo) para o momento entre R$ 4,80 e R$ 4,90”, aponta.
Um dos eventos esperados pelos investidores durante a tarde foi a divulgação da ata da reunião de março do Fed, por poder dar mais sinais de quão perto o banco central norte-americano chegou de adiar novos aumentos na taxa de juros após a falência de dois bancos norte-americanos.
Após o documento, publicado às 15h, a tendência de queda da divisa americana permaneceu. Várias autoridades do Federal Reserve consideraram na reunião de política monetária do banco central dos Estados Unidos no mês passado interromper os aumento da taxa de juros até que ficasse claro que a falência de dois bancos regionais não causaria maior estresse financeiro, mas mesmo elas acabaram concluindo que a inflação alta ainda era a prioridade.
(com Reuters)
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