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SÃO PAULO – Com o crescimento da euforia das criptomoedas, no ano passado, especialistas passaram a alertar para o risco de fraudes surgirem, desde esquemas usando Bitcoin até o próprio lançamento de moedas digitais que não servem para nada. Mas este aviso não é apenas para os investidores individuais, mas também para empresas, e agora, especificamente, para os clubes de futebol.
É muito bom ver o mercado de criptoativos crescendo. Defenda você que o Bitcoin é uma bolha ou é o melhor negócio do mundo, é inegável que a tecnologia tem suas vantagens e potencial para crescer à níveis inimagináveis. Mas o recente anúncio feito pelo Atlético Paranaense de uma parceria com uma nova criptomoeda passou rapidamente de uma “revolução no futebol” para alerta de fraude. E o Corinthians também já confirmou que fez negócio com a mesma empresa.
Na última sexta-feira (29), o Atlético anunciou uma parceria com a startup Inoovi LTD, empresa francesa que incentiva o uso de moeda virtual dentro do esporte. Com este acordo, o presidente do Conselho Deliberativo do Atlético, Mário Celso Petraglia, afirmou que pretende usar o token (moeda digital) IVI na contratação de atletas, pagamento de salários, direitos de imagem, entre outras coisas.
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Com isso, o clube poderia mudar completamente a forma como se faz transações no futebol no Brasil. Entre as vantagens de se fazer um negócio como esse, a Inoovi diz que os clubes poderiam se aproveitar de impostos menores nas contratações, enquanto os lucros poderiam ser ainda maiores, já que a ideia ao se ter uma moeda digital é que ela vá se valorizar com o tempo.
A história até empolga, principalmente os torcedores, que podem ajudar seus times e ainda ganhar dinheiro com suas moedas. Mas a primeira pergunta a se fazer é: o que é IVI? Muita gente ainda não entende como funciona o Bitcoin, imagine saber o que fazer com outras criptomoedas menores. Mas este não deveria ser um fator para não investir neste negócio. A questão aqui é estudar e pesquisar sobre o projeto em si.
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Lançar uma criptomoeda hoje é fácil, mas mostrar consistência em um projeto e criar algo que realmente tenha utilidade e potencial para crescer não é para qualquer um. Não é à toa que mais de 800 criptomoedas lançadas nos últimos meses já são consideradas mortas (clique aqui para saber mais). Uma moeda sem utilidade não irá se sustentar e acabará perdendo valor rapidamente.
Negócio arriscado
O site Guia do Bitcoin foi o primeiro a levantar suspeitas sobre o negócio e, conversando com especialistas, o InfoMoney constatou que o clima de desconfiança é generalizado. Antes mesmo da opinião de um profissional, basta acessar o site da Inoovi LTD para começar a levantar muitas dúvidas sobre a empresa e o tal IVI.
O amadorismo do site preocupa. A questão não é se a empresa é nova ou se a página ainda está sendo construída, isso não é argumento para explicar erros e frases que não fazem sentido. No caso da versão em português chega a ser inexplicável trechos como “um mundo de todos os dias está chegando até você”. Claramente o que foi feito foi uma “tradução” pelo Google, o que deixou quase todo o texto errado. Como em qualquer investimento, é preciso ter segurança e conhecimento do que se está fazendo e esse site não ajuda nem um pouco.
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Outro ponto – e que todo mundo deveria ler antes de investir em uma moeda digital – é o chamado Whitepaper, documento que resume o ativo, explica como ele funciona e dá clareza ao projeto. “O whitepaper deles é ridículo”, resume Safiri Felix, especialista em criptomoedas e autor do relatório CryptoInsights. Mesmo para um leigo, é fácil perceber que o documento está mais preocupado em exaltar o blockchain e falar como ele é uma revolução no futebol, do que provar sua segurança e mostrar que realmente vale a pena entrar no projeto.
“Provavelmente este é mais um dos 500 ICOs sem pé nem cabeça”, afirma Safiri, destacando que existem sérios riscos fiscais neste negócio e que estes tipos de tokens estão caminhando para se popularizar como um “substituto” de offshores e outras empresas de fachada pra pagamento de transações no futebol.
A ideia por trás deste token, de ser usado em salários, negociação e prêmios para torcedores coloca ele na categoria de “utility token” (token utilitário, em tradução livre), termo que inclusive é citado no whitepaper do IVI diversas vezes, mas que pouco se explica.
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Basicamente, estes tipos de token seriam moedas que dão ao seu comprador o acesso futuro a um produto ou serviço. No ICO destas moedas, as startups levantam capital vendendo estas moedas para financiar o desenvolvimento de seus projetos em blockchain, e os usuários podem adquirir acesso a esse serviço, às vezes com um desconto ou alguma vantagem.
O problema é que não existe essa ideia estrita de “token utility”. Esse é um argumento usado por outros especialistas também, já que, o preço destes ativos sempre variam, ou seja, quem compra aquela moeda também espera que ela se valorize, deixando ser um ativo apenas utilitário, mas também um investimento. E Safiri acredita que, pelo menos por enquanto, a IVI é apenas um ativo “inútil”.
O especialista aponta ainda para o perigo desta moeda ainda não ser listada em nenhuma grande exchange, ou seja, quem comprar ela no lançamento muito provavelmente terá dificuldade de vender depois, seja para capitalizar o lucro ou para se desfazer em um momento de queda.
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Para piorar, todas estas dúvidas levantadas indicam ainda, segundo Safiri, que pode ocorrer um “ataque especulativo” dos próprios criadores, ou seja, eles levantam o dinheiro com toda esta euforia de ser um produto novo, mas assim que a moeda passar a ser listada oficialmente, eles vendem tudo, derrubam o preço e ainda deixam os investidores “na mão”.
Há ainda a questão da equipe envolvida. O site oficial da Inoovi apresenta apenas o seu CEO, o franco-tunisiano Fernand Danan, e mais ninguém. Uma versão anterior da página ainda mostrava outras pessoas, mas, como mostrou o UOL Esporte, as fotos eram falsas, copiadas de um site padrão para empresa de criptomoedas, o Crypto. O InfoMoney tentou contato com a Inoovi, mas não obteve resposta.
A companhia retirou estas outras imagens, e agora o seu texto de apresentação da equipe diz: “nós temos uma equipe muito profissional. A maioria deles deseja manter a confidencialidade e todos podem entender”. Mas isso não se justifica, já que a primeira coisa que a maioria das grandes empresas de moedas digital fazem é apresentar sua equipe de desenvolvedores e diretores para mostrar a força do projeto. Aqui não existe uma pessoa conhecida ou com um “background” no assunto.
Apesar de todas as dúvidas que este projeto levanta, não existe nada de ilegal – por enquanto – nele. A questão é que o mundo das criptomoedas ainda tem grandes riscos e há pelo menos dois anos se vê muitos casos de fraude e golpes em investidores e empresas e por conta disso é preciso redobrar a atenção antes de fechar negócio.
E todos esses problemas apontados, desde o site até o whitepaper, levantam muitas dúvidas que levam especialistas a sugerirem ficar fora deste projeto neste momento. Existem muitos mais motivos para duvidar desta moeda digital do que para acreditar que a IVI pode crescer e se tornar algo útil e lucrativo. O investidor precisa ter cuidado e esperar – e Atlético e Corinthians deviam ter feito o mesmo.
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