Compra de dívida pelo BCE pode não aliviar crise na Zona do Euro, diz LCA

Para consultoria, órgão precisa determinar o nível de risco que está predisposto a assumir; caso contrário, medida tende à ineficácia

Ana Carolina Cortez

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SãO PAULO – As expectativas de que o BCE (Banco Central Europeu) compre títulos da dívida pública na Zona do Euro animaram os mercados na última sexta-feira (3), mas podem não trazer alívio algum para a crise que a região enfrenta, alerta a LCA Consultores, em relatório.

Isso porque medida semelhante já foi colocada em prática pelo antecessor de Mario Draghi no BCE. Em maio de 2010, o então presidente do órgão, Jean Claude Trichet, anunciou um programa de compra de títulos soberanos no bloco como mais uma tentativa para debelar a crise financeira, iniciada pela Grécia.

“O resultado final foi que esse programa se mostrou insuficiente para conter a crise”, destacou a consultoria. Em seu discurso na última quinta-feira (2), pós reunião de política monetárias do BCE, Draghi se concentrou na tese de que era preciso intervir no mercado de dívida pública, com o argumento de que o processo de formação de preço estaria sob “severo mau funcionamento”.

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Para atacar esta questão, o BCE anunciou que poderá comprar títulos de curto prazo em breve. “Esta é uma diferença importante em relação ao programa de Trichet, que comprou mais de € 200 bilhões em bônus de longo prazo da Grécia, Irlanda, Portugal, Itália e Espanha”, pondera. 

Diferença entre Draghi e Trichet
Conforme destaca a LCA, a motivação para a escolha pelo curto prazo é manter a intervenção o mais próximo possível do money market, aproximá-la das operações “clássicas” de política monetária e reduzir a exposição do balanço do BCE ao operar com ciclos menores. Tudo isso representa um avanço em relação às medidas de Trichet, mas é preciso atentar para os detalhes da medida e suas contrapartes, o que segue indefinido para o mercado.

Draghi também enfatizou que os países em dificuldades precisarão recorrer ao EFSF e cumprir com as exigências da Zona do Euro para a concessão deste auxílio do BCE. “Trichet tentou um acordo na época com a Itália. O governo adotaria medidas de austeridade em troca das intervenções sobre a dívida soberana. Mas, o país não cumpriu sua parte, o que desgastou este instrumento do BCE”, ressalta a LCA em relatório.

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O programa de compras de ativos, implementado durante a gestão de Trichet, “esterilizava as compras e tinha senioridade sobre o restante da dívida, motivo pelo qual o BCE não teve prejuízos com o calote da Grécia”, afirma a LCA. Entretanto, no novo programa que o BCE está montando pode deixar o órgão mais vulnerável desta vez.

“Draghi afirmou que a importante questão da senioridade dos bônus detidos pelo BCE, que preocupa os investidores em bônus soberanos, será levada em consideração. De fato, ao comprar títulos de prazos mais curtos, o órgão reduz o seu risco e pode abrir mão dessa segurança”, aponta a consultoria.

Quanto à esterilização, Draghi não se comprometeu com nenhuma das alternativas e deixou a porta aberta para o aumento da liquidez no sistema. “Ele promete agir forte para manter o euro, mas exige que os governos em dificuldades não recuem dos planos de reformas de suas economias”, pondera a LCA.

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