Como os investimentos de R$ 1,7 trilhão do PAC podem impactar as empresas da Bolsa?

Investimentos bilionários em concessões estão previstos, mas empresas de outros setores devem ser envolvidas no programa do governo federal

Lara Rizério

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Em meio ao cenário de queda constante do Ibovespa em agosto, as ações de poucas companhias repercutiram na Bolsa o anúncio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), na sexta-feira (11) da semana passada.

Conforme destacou a Levante Corp, o lançamento do programa foi mais vultoso do que o anunciado extraoficialmente. Os investimentos totalizam R$ 1,7 trilhão, dos quais R$ 1,4 trilhão até o fim da gestão Lula 3. A iniciativa privada participa com R$ 612 bilhões, as empresas estatais (especialmente a Petrobras PETR4) com R$ 343 bilhões, e outros R$ 362 bilhões em financiamentos – como, por exemplo, financiamento habitacional.

Para a casa de análise, apesar do relativo sucesso nas duas primeiras gestões de Lula, o programa também carrega contradições. O valor total estaria “turbinado” ao contemplar obras que já estão em andamento e que provavelmente ocorreriam mesmo sem o programa. “Entre elas, estão mais de 40 projetos aprovados na Petrobras ainda no governo Bolsonaro, por exemplo”, avalia a equipe de analistas.

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Outro ponto é sobre a matriz energética. Anunciada sob o conceito de sustentabilidade e transição verde, ainda assim prevê a exploração de petróleo na Margem Equatorial, destaca.

O projeto já foi um ponto de conflito entre os ministérios da Minas e Energia e do Meio Ambiente no primeiro semestre, mas parece longe de estar pacificado.

“Também há a retomada do projeto da usina Angra 3, paralisada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e cuja relação custo-benefício é questionada por especialistas”, avalia.

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Porém, o grande ponto é saber a capacidade do governo de engajar os agentes políticos ao programa e também mostrar que é possível viabilizar o programa com o espaço fiscal necessário no arcabouço fiscal.

O BTG Pactual também aponta que, assim como nos PACs anteriores, o programa deste ano inclui projetos preparados por governos anteriores (com algumas alterações regulatórias) e ativos totalmente novos.

“Naturalmente, esperamos que os investidores acompanhem o ritmo de desenvolvimento de todos esses projetos (atrasos regulatórios são comuns), mas percebemos que a recepção geral do mercado tem sido positiva, pois proporciona ao setor a visibilidade para iniciar novos projetos (que são abundantes)”, avalia.

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Além disso, aponta que, mais importante ainda, o anúncio deve melhorar o momentum no setor de infraestrutura, recentemente impulsionado pelo início do ciclo de flexibilização monetária.

Com isso, apesar de muitas questões sobre o programa, analistas de mercado destacam quais são os impactos para diversos setores, com atenção para concessões de rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e mobilidade urbana com R$ 383 bilhões em projetos, além de Petrobras e Eletrobras.

Confira abaixo:

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Rodovias – R$ 186 bilhões em investimentos 

O Bradesco BBI ressalta que as rodovias continuarão recebendo a maior parte dos investimentos. A lista completa de 268 projetos rodoviários pode resultar em R$ 186 bilhões de investimentos executados pelos setores público e privado.

“A nosso ver, esse cronograma possui 16 concessões rodoviárias que poderão ser leiloadas até 2026, incluindo as seis rodovias no estado do Paraná e a BR 381 no estado de Minas Gerais”, avalia. O plano é dar continuidade aos estudos iniciais para a estruturação de 21 concessões rodoviárias, que já foram discutidas pelo Governo Federal.

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Para o BBI, a impressão inicial é que o Governo Federal pode preferir estruturar concessões rodoviárias de pequeno e médio porte para potencialmente atrair mais investidores.

Esses novos projetos podem levar de 2 a 3 anos para serem estruturados, criando um  cronograma robusto de 2027 para frente. Neste sentido, esperam que a EcoRodovias (ECOR3) e a CCR (CCRO3) continuem a buscar seletivamente novas oportunidades de crescimento neste setor.

Na visão do BTG Pactual, como esperado, o programa trouxe uma grande quantidade de novos investimentos em infraestrutura rodoviária. O aumento do número de projetos auxilia os atuais interessados em melhorar a alocação de recursos de cada empreendimento, aumentando os retornos do capital.

No curto prazo, também destaca os ativos rodoviários no estado do Paraná, com dois lotes previstos para serem leiloados este ano. Notavelmente, entre os projetos listados como “em análise” estão ativos como BR-163/MS, correspondente à MSVia da CCR, e BR-101/ES, associado à ECO101 da Ecorodovias.

Ambos os ativos foram considerados elegíveis para o programa de retorno de ativos do governo. “Uma nova decisão do TCU facilita as negociações para novos investimentos nesses ativos, oferecendo uma alternativa mais rápida para sua devolução ao governo. Em conclusão, vemos o extenso portfólio de ativos como uma grande oportunidade para ambas as companhias no segmento, CCR e Ecorodovias”, aponta.

Ferrovias – Investimentos totais de R$94 bilhões

A maior parte deste orçamento, ou R$ 88 bilhões, é destinada a novas e existentes concessões. Projetos notáveis em construção de novas linhas incluem FICO 1 em Goiás e Mato Grosso e FIOL 2 na Bahia. Esses ativos poderiam potencialmente se tornar significativos corredores de grãos a longo prazo.

O Estado de São Paulo vai leiloar a parceria público-privada para construir e operar o trem intermunicipal de passageiros (TIC) no dia 28 de novembro.  O Governo Federal e o Governo do Estado de São Paulo precisarão patrocinar financeiramente esse projeto para que ele se torne realidade. Assim, como o TIC agora faz parte do PAC 3, reduz o risco de falta de financiamento para sua concretização.

O BTG aponta que o mercado já tinha conhecimento da construção do FICO 1 e do FIOL 2. Entre os projetos “em análise”, destaca a nova Ferroeste no Paraná, o corredor FICO-FIOL conectando Lucas do Rio Verde à linha FIOL, e Ferrogrão, ainda que aponte ser importante reconhecer os substanciais desafios de execução associados ao desenvolvimento de tais ativos, resultando em prazos prolongados.

Para a Rumo, o programa incorpora investimentos já comprometidos com Malhas Paulista, Norte (incluindo a extensão Lucas do Rio Verde), Oeste e Sul. Quanto ao projeto TIC, o banco considera particularmente interessante para a CCR, dada sua posição dominante no sistema de mobilidade urbana do estado.

O Bradesco BBI vê que o PAC 3 reiterou a importância da renovação antecipada das concessões ferroviárias para aumentar a capacidade e reduzir os custos logísticos. O Governo Federal tem interesse na renovação antecipada da Malha Sul da FCA e da RUMO. No entanto, o cronograma anunciado sugere que, caso não seja possível chegar a um acordo em relação à Malha Sul, o Governo Federal poderá leiloar novamente a Malha Sul e a Malha Oeste.

O mineroduto também confirmou os estudos para Ferrogrão, Nova Ferroeste e FICO-FIOL, três projetos com capacidade de reduzir os custos logísticos nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná.

Portos – Investimentos totais de R$55 bilhões

O orçamento foca em duas áreas principais: investimentos em Terminais de Uso Privado (TUPs) com contratos de adesão e locações de longo prazo (R$ 22,4 bilhões) e investimentos em locações existentes (R$14,4 bilhões), ambos em linha com a iniciativas privada.

O BTG aponta que os investimentos em concessões atuais abrangem a expansão da capacidade pela Santos Brasil (STBP3) em Santos. Quanto às novas concessões, a única menção no Porto de Santos foi STS33, provavelmente um terminal de grãos.

“Nenhuma informação foi fornecida sobre STS10, o que implica falta de clareza sobre o projeto. Para o Porto de Santos, o programa inclui tanto o túnel que conecta Santos a Guarujá (provavelmente a ser analisado por operadores de concessões rodoviárias) quanto o FIPS (a ferrovia interna do porto), um projeto significativo para a Rumo”, avalia.

Aeroportos – investimentos de R$ 10 bilhões

No setor aeroportuário, o cronograma não contempla nenhuma relicitação de aeroportos, inclusive o de Viracopos. Além do investimento a ser executado para as concessionárias de aeroportos, o Governo Federal aprovou a continuidade dos estudos para o desenvolvimento de aeroportos regionais no estado do Amazonas.

O BTG aponta que os investimentos em aeroportos incluem melhorias na infraestrutura, como novos sistemas de segurança e pistas no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. O programa também abrange trabalhos em Congonhas relacionados ao novo operador do aeroporto, Aena, que ganhou o leilão de concessão do aeroporto no ano passado. Não foi fornecida informação sobre o cronograma de futuros leilões.

Hidrovias – investimentos de R$ 4 bilhões

Para hidrovias, o Governo Federal também aprovou os estudos para concessão de seis hidrovias, São Francisco, Paraguai, Tocantins, Tapajós, Madeira e Lagoa Mirim. Essas hidrovias são fundamentais para a logística de grãos.

Outros segmentos

O BTG avalia que, além dos operadores diretos de infraestrutura, deve-se enfatizar a crescente demanda por construção civil e engenharia, um catalisador crucial para operadores de aluguel de máquinas.

Esses operadores, incluindo Armac (ARML3), Mills (MILS3) e Vamos (VAMO3), devem se beneficiar da maior utilização de equipamentos de construção pesada.

Municípios – Investimentos totais de R$ 610 bilhões

Este constitui o maior orçamento no programa do governo, principalmente devido a investimentos substanciais em programas como Minha Casa Minha Vida (R$ 345 bilhões) e financiamento habitacional (R$ 160 bilhões).

A mobilidade urbana deve receber R$ 49 bilhões em investimentos, abrangendo novos projetos no sistema de metrô de São Paulo e projetos BRT (Bus Rapid Transit) significativos em vários estados. O segmento de gestão de resíduos deve receber R$ 1,8 bilhão em investimentos.

O BTG destaca que os investimentos previstos nos municípios incluem projetos de trens urbanos e projetos BRT, sendo que a expansão do sistema de metrô de São Paulo é particularmente notável para a CCR, considerando a forte presença da empresa na região. Dada a limitada competição no segmento, a empresa pode explorar projetos além de seu escopo tradicional.

Em relação aos BRTs, observa-se ainda a demanda implícita que geram para a indústria de ônibus e, posteriormente, para a Marcopolo (POMO4).

Já a gestão de resíduos representa uma oportunidade para a Simpar (SIMH3) por meio de sua subsidiária Ciclus.

Programa “Água para Todos” – Investimentos de R$ 30 bilhões

Uma parte significativa deste orçamento é destinada à infraestrutura hídrica, somando R$ 12 bilhões em investimentos. Investimentos em abastecimento de água vêm em seguida, a R$ 11 bilhões.

Essa pode ser uma área de particular interesse para a WEG (WEGE3), avalia o banco, pois a empresa é uma fornecedora-chave de motores para bombas e sistemas de tratamento de água.

Transição Energética– Investimentos totais de R$ 540 bilhões

A energia é o segundo setor que mais vai receber investimentos no novo PAC. O subsetor de Óleo & Gás recebe a maior parte do orçamento, com investimentos totalizando R$ 335 bilhões. Transmissão vem em seguida com R$ 88 bilhões, e geração em terceiro lugar com R$ 76 bilhões. O governo tem como objetivo garantir que 80% da capacidade de geração incremental no Brasil seja proveniente de fontes renováveis.

Esse é mais um tema que, segundo os analistas, impacta positivamente a WEG, pois a empresa é uma fornecedora proeminente de equipamentos de energia no país.

Já conforme destaca o Credit Suisse, o programa previa R$ 1,9 bilhão para a modernização da usina nuclear de Angra 1, enquanto a inclusão de Angra 3, da Eletrobras (ELET6), foi feita na forma de estudos de viabilidade para a continuidade de sua construção.

Paralelamente, o ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira ainda está analisando o custo-benefício ao ponderar a segurança energética e os aumentos tarifários (preços estimados chegam a cerca de R$ 700 durante os primeiros 15 anos de operação) para decidir se continua com a construção ou não.

Para a Petrobras (PETR4), a petroleira estatal terá 47 projetos, sendo que a maior parte está relacionada à exploração e produção de petróleo e gás, mas a lista também inclui aumento da capacidade de processamento da Refinaria Abreu e Lima (RNEST) e iniciativas para melhorar o escoamento do gás produzido na Bacia de Santos.

Dentre os projetos, 90% dos investimentos previstos será voltado ao desenvolvimento de 19 novos sistemas de produção de petróleo e gás natural, com a maior parte dos projetos nas bacias de Campos e Santos e dois voltados para o Sergipe.

Conforme destaca o Itaú BBA, o atual Plano Estratégico 2023-2027 da Petrobras já inclui a maioria dos projetos abrangidos pelo PAC. No entanto, os detalhes divulgados sobre os projetos indicam que o novo Plano Estratégico 2024-2028 da empresa, que será divulgado em novembro, poderá incluir, pelo menos, novos investimentos brownfield (com produção já em andamento) em refino e a expansão do montante dedicado ao Fundo de Descarbonização da empresa.

“O anúncio reafirma nossa visão de que não devemos esperar grandes mudanças no plano de capex da empresa no Plano Estratégico 2024-2028 a ser anunciado em novembro. Nossas estimativas preliminares para o novo plano, ainda sem considerar projetos de fertilizantes, petroquímicos ou renováveis, são de cerca de US$ 84 bilhões (um aumento de 8% em relação ao plano atual)”, avalia o BBA.

Indústria de Defesa e Segurança – Investimentos de R$ 53 bilhões

A iniciativa de investimento em defesa visa aprimorar as capacidades de defesa nacional e fortalecer a vigilância de fronteiras. Do valor total de investimentos, R$ 21 bilhões são alocados à Marinha, R$ 17 bilhões à Força Aérea e R$12 bilhões ao Exército.

Para o BTG , as medidas podem ser relevantes para a Embraer (EMBR3), principal fornecedora nacional de equipamentos militares e de defesa do Brasil. “No entanto, vale ressaltar que as unidades KC-390 e outros contratos mencionados no programa já estão incluídos no backlog da Embraer, então eles não representam novos contratos para a empresa”, avalia.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.