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Como as demissões na Amazon, Microsoft e Google devem impactar as ações dessas empresas?

Ruim para quem perde emprego, corte é visto como possível catalisador para ações em cenários de melhora da eficiência, mas não é único aspecto a olhar

Mitchel Diniz

(Shutterstock)
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O ano começou mal para dezenas de milhares de pessoas que trabalhavam em grandes empresas de tecnologia dos Estados Unidos e perderam seus empregos. De acordo com a Bloomberg, foram 44 mil posições fechadas só em janeiro. O número corresponde a quase metade das 97,1 mil demissões do setor em 2022 e inclui os cortes nas chamadas big techs.

A lista continua e é longa. O Spotify, serviço de streaming de música, anunciou o corte de 9,8 mil vagas em todo o mundo, o equivalente a 6% do quadro de funcionários. A IBM fechou 3,9 mil vagas. Vimeo, Salesforce e Coinbase também entraram na onda de demissões.

Ruim para quem ficou sem trabalho, nem tanto para quem investe nessas companhias. Por trás da redução de pessoal está uma busca por diminuição de custos e ganhos de eficiência. Para analistas, o movimento tende a ser positivo, no longo prazo, para os ativos das companhias, que apanharam forte no ano passado.

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Amazon e Apple perderam algo próximo de US$ 840 bilhões em valor de mercado em 2022. Microsoft e Alphabet, mais de US$ 700 bilhões.

“A gente entende que esse movimento de agora é interessante. Empresa enxuta e operacionalmente mais viável, gera lucro para o acionista”, explica Guilherme Zanin, estrategista da Avenue Securities.

Ele observa que, com os cortes, as empresas de tecnologia adotam um viés imediatista. Dão maior foco a projetos que vão apresentar resultados no médio prazo, em detrimento de iniciativas que poderiam trazer retornos no futuro.

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Acabou o brilho das techs?

Olhar para frente sempre foi a tônica da capitalização das techs, com suas ideias inovadoras e disruptivas que faziam brilhar os olhos dos investidores e chamaram para si bilhões de dólares em recursos. Os anos mais difíceis da pandemia coincidiram com um período de liquidez em abundância para essas companhias, amparado pela digitalização das relações humanas, em tempos de distanciamento social.

De acordo com levantamento da Wealth High Governance, com base em dados da Bloomberg e das próprias empresas, o grupo conhecido pela sigla FAAMG (Meta, Amazon, Apple, Microsoft e Alphabet) adicionou 941,2 mil funcionários entre o quarto trimestre de 2019 e o terceiro trimestre de 2022.

No entanto, somando a receita por funcionário dessas empresas, houve uma queda de 8% entre os períodos. O lucro operacional (Ebit) por funcionário também recuou, em 2%.

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“O cenário de cortes tende a fazer com que as empresas se tornem melhores operacionalmente e consigam se recuperar nos valuations“, afirma Junior Borneli, CEO da StartSe (escola internacional de negócios).

“Vai ser difícil que cheguem em um curto tempo àquele número que tiveram no pico da pandemia, mas com certeza vão retomar um ciclo constante e mais sólido de crescimento”.

Empresas que recuperaram valor após demissões

Companhias que realizaram demissões em 2022 já viram alguma melhora em seu valor de mercado desde que os cortes foram anunciados. É o caso, por exemplo, da Netflix (NFLX34): a plataforma de streaming dispensou 300 funcionários em 23 de junho do ano passado, para reduzir custos em meio a uma queda no número de assinantes.

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À época, uma ação da Netflix era negociada na Nasdaq no patamar de US$ 180 e já havia se desvalorizado cerca de 70% no ano. Ainda que a empresa tenha perdido mais de US$ 136 bilhões em valor de mercado no acumulado de 2022, o papel terminou o ano próximo dos US$ 300, bem longe das mínimas. Hoje, é negociada na casa dos US$ 350.

“A Netflix inaugurou esse espaço de demissões, preparou um cenário de redução de custos e obteve melhora de eficiência operacional”, diz Borneli. Ele explica que as demissões foram o ponto inicial para uma série de iniciativas da empresa, como a criação de uma divisão de games, a parceria com a Microsoft que resultou em planos mais baratos com anúncios, além de ações para reduzir o compartilhamento de senhas.

“O mercado já enxerga para a Netflix um futuro melhor, no sentido de conseguir se recuperar depois de uma guinada estratégica”, afirma o CEO da StartSe.

A Meta (M1TA34), de Mark Zuckerberg, empresa mãe do Facebook, também viu os preços de suas ações voltarem a subir após uma leva de demissões. Em 9 de novembro do ano passado, a companhia reduziu em 13% seu quadro global de funcionários. Foram mais de 11 mil demissões em nome de uma estratégia de reestruturação de custos.

Poucos dias antes dos cortes, a ação da Meta chegou a ser negociada abaixo de US$ 90 na Bolsa de Nova York. Hoje o papel oscila próximo do patamar de US$ 150, acumulando alta de quase 70% em relação à mínima de 2022.

“No entanto, mesmo após a alta, a Meta é vendida por menos da metade da média de seu múltiplo Preço/Lucro da última década e é uma das ações mais baratas do Nasdaq 100”, afirmam os analistas da XP.

“O problema, do ponto de vista dos pessimistas, é que a aposta da Meta no metaverso não deverá prosperar tão cedo e representará um quinto de todos os custos neste ano. E o segmento de anúncios da empresa sofreu por conta das mudanças na política de privacidade da Apple, que torna mais difícil atingir os consumidores com anúncios em seus dispositivos. Além disso, a concorrência com o TikTok também é um ponto que chama a atenção dos investidores”.

Enxugar custos reduzindo o número de funcionários pode até ajudar no desempenho da ação de uma companhia, mas não resolve todos os problemas da empresa e tampouco é o único aspecto do negócio que o investidor vai acompanhar.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados