Como as decisões do Fomc afetam o Bitcoin e o mercado de criptomoedas

Após entrar nas carteiras de investidores por ser um ativo descorrelacionado, a criptomoeda colou no mercado financeiro tradicional a partir de 2022

Rodrigo Tolotti

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O Bitcoin (BTC) surgiu como uma resposta de descontentes contra o sistema financeiro tradicional durante a crise de 2008 e apesar das grandes discussões sobre seu futuro e das outras criptomoedas, ele sempre foi considerado um ativo descorrelacionado com a economia e o mercado financeiro.

Isso foi reforçado no início da pandemia do coronavírus. Após uma forte queda junto com todos os mercados, as criptomoedas iniciaram uma recuperação em menos de dois meses, conforme investidores iam avaliando a necessidade de diversificação da carteira e como as moedas digitais tinham fundamentos que as separava das ações e outros ativos.

Porém, isso começou a mudar no final de 2021, conforme aumentava a inflação nos Estados Unidos e surgiam os primeiros sinais de que uma recessão podia ocorrer em breve, o que também levaria o Federal Reserve – como é chamado o Banco Central dos EUA – a agir aumentando os juros.

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Diante disso, Bitcoin, Ethereum (ETH) e outras moedas digitais passaram a ser consideradas muito mais ativos de risco do que exatamente ativos que são descorrelacionados com o mercado tradicional, mesmo que suas características não tenham mudado.

Essa mudança fez com que, por mais que os fundamentos fossem diferentes, as criptos começassem a aumentar sua correlação com o mercado de ações, principalmente os papéis de empresas de tecnologia.

Com isso,  ano de 2022 acabou sendo marcado por um período em que o Bitcoin e outras criptos andaram praticamente juntos com índices como o S&P 500 e Nasdaq, da bolsa de Nova York.

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Isso alterou a forma como o mercado carrega as criptomoedas, fugindo delas em momentos de maior tensão, em que investidores correm para ativos mais seguros, e comprando quando o apetite por risco aumenta.

Como a decisão do Fomc afeta o preço do Bitcoin?

Oito vezes por ano, os membros do Fed se reúnem no chamado Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) para decidir sobre a taxa de juros americana. Desde o início de 2022, o órgão iniciou uma alta nos juros, impactando o mundo todo.

Na prática, a elevação dos juros nos EUA incentiva a aplicação em papéis no Tesouro americano, considerados um dos ativos mais seguros do mundo e com baixíssimo risco de perdas. Conforme as taxas aumentam, a remuneração desses títulos também fica maior.

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Com as criptomoedas sendo vistas muito mais como ativos de risco do que como algo descorrelacionado com o mercado tradicional, os investidores passaram a fugir delas – e até mesmo das ações tradicionais – para investirem nesses títulos do Tesouro quando o cenário está mais negativo.

O cenário, no entanto, já mostra sinais de reversão. Com a crise bancária nos Estados Unidos provocada, em grande parte, pelos juros altos, alguns analistas já começam a apostar que o Fed será pressionado a aumentar os juros em menor grau, ou até manter as taxas, indicando o fim do ciclo de aperto monetário que ajudou a sangrar o mercado cripto no ano passado.

Desse modo, além da decisão sobre os juros em si, os analistas e investidores acompanham de perto os dados econômicos dos EUA, já que são esses números que guiam o banco central na tomada de decisão. Em especial, o que tem pesado mais é a inflação, que, embora ainda alta, mostra alguns sinais de arrefecimento e pode ser um fator a mais para que haja um alívio nos juros.

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Autoridades e o mercado também estão de olho no risco de recessão nos EUA e, por isso, acabam observando com atenção não só o PCE (inflação americana), mas também relatório de emprego e Produto Interno Bruto (PIB).

Bitcoin menos correlacionado

Diante disso tudo, muitos investidores se questionam se realmente o Bitcoin e outras criptomoedas são descorrelacionadas das ações e outros ativos tradicionais. Desde 2022, a criptomoeda segue avançando sempre que o humor do mercado melhora com relação aos ativos de risco, mostrando que a correlação persiste.

No entanto, essa relação vem diminuindo. Segundo informações da casa de research Kaiko, a correlação do Bitcoin com os mercados de ações dos EUA é a menor desde o colapso da FTX, em novembro, em evento apontado como anômalo – não fosse ele, a conexão entre os preços das criptos e das bolsas seria ainda menor.

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Na visão de especialistas, as moedas digitais seguem sendo um “mundo à parte”, mas ainda propensas a se moverem na mesma direção dos mercados tradicionais. Um exemplo dessa dicotomia apareceu no começo do ano: enquanto os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram em janeiro 3%, 6% e quase 11%, respectivamente, o Bitcoin disparou quase 40% no mesmo período – a direção do movimento foi a mesma, mas a amplitude do ganho começou a dizer a investidores que há algo a mais por trás do movimento.

“O Bitcoin está se recuperando à medida que Wall Street se torna mais agressiva ao precificar os cortes nas taxas do Fed e à medida que as preocupações do setor bancário levam alguns a investimentos alternativos”, avalia Edward Moya, analista da formadora de mercado de câmbio Oanda.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.