Comentário semanal: bolsas avançam com perspectiva de melhora de cenário na Grécia

Aperto do crédito na China e acordo de ajuda na Europa são destaques, em semana repleta de resultados corporativos

Beatriz Nantes

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SÃO PAULO -Os principais mercados acionários de renda variável tiveram, pela segunda vez no ano, uma semana de ganhos, com melhora nas perspectivas para a economia da Grécia, apesar das incertezas, refletidas em oscilações nas bolsas ao longo da semana. Resultados corporativos e indicadores ainda ajudaram a reverter as quedas da semana anterior, apesar do noticiário conturbado.

Assim, o Ibovespa encerrou a semana com valorização de 4,93%, a 65.854 pontos. Vale lembrar que o exercício de opções sobre ações de fevereiro movimentou R$ 2,2 bilhões na BM&F Bovespa, sendo R$ 1,04 bilhão em opções de venda, e R$ 1,15 bilhão relativo a opções de compra – segundo dados da BM&F Bovespa, foi o terceiro maior volume de opção de venda da história da bolsa brasileira.

As ações da MMX lideraram as altas do índice na semana, com avanço de 16,19% frente ao fechamento da semana anterior, cotadas a R$ 15,50. Em meios às negociações de preço do minério de ferro para 2010, a mineradora do empresário Eike Batista anunciou a aprovação do aumento de capital social da companhia, em até R$ 1,218 bilhão. Além disso, a companhia enviou um fato relevante afirmando que o referido aumento possibilitará a subscrição, pela Wisco Brasil, de mais de 100 milhões de ações, correspondendo a um aporte de US$ 400 milhões. As perspectivas cada vez mais otimistas para as negociações sobre o preço do reajuste dos contratos de minério de ferro também embalam as ações.

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Já a maior queda da semana ficou com as ações preferenciais classe B da Cesp, sofrendo desvalorização de 3,93%, cotadas a R$ 23,20. O principal driver para o comportamento dos papéis foi a fala do novo diretor da companhia. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o novo diretor-presidente da Cesp afirmou que foi “vencida a fase a tentativa frustrada de privatização – e hoje esse é um assunto que não mais está sendo cogitado”.

Em relação às ações mais líquidas do índice, o movimento foi positivo. Os papéis ordinários da Petrobras avançaram 6,84% no período, enquanto as ações preferenciais subiram 7,23%. Já as ações da Vale acumularam alta de 4,64% e 4,75%, nessa ordem.

Noticiário
Uma das principais referências que deu o tom dos mercados na semana foi a situação da Grécia, que parece melhorar após as principais lideranças europeias decidirem costurar um acordo para colocar a situação fiscal do país em ordem. Entretanto, a promessa de ajuda e de ação “determinante” não trouxe muitos detalhes, e alguns analistas temem que outros países com situação fiscal deteriorada poderiam pedir socorro, levando as economias do bloco a utilizar os já escassos recursos nessas ações.

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Além disso, a China tomou mais uma medida de aperto monetário, com o PBoC (People’s Bank of China) aumentando sua taxa de depósito compulsório pela segunda vez neste ano, ao elevá-la em 50 pontos-base, a fim de conter a concessão de crédito no país.

Outra referência ficou por conta das palavras do presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, que sinalizou em seu discurso que a autoridade monetária dos EUA poderá retirar os programas de estímulo à economia mais cedo do que se esperava. Inicialmente mal recebido, novas interpretações por parte de analistas mostraram que isso não indica necessariamente um aperto monetário.

Resultados corporativos
Na Europa, a Rio Tinto mostrou lucro líquido de US$ 2,4 bilhões no segundo semestre de 2009. O Credit Suisse decepcionou as estimativas, revelando lucro líquido de 793 milhões de francos suíços (US$ 746 milhões) no último trimestre, o UBS superou as projeções e

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Nos EUA, a PepsiCo mostrou lucro líquido de US$ 1,4 bilhão no decorrer do último trimestre, acima dos ganhos de US$ 719 milhões vistos em período igual do ano passado. O McDonald’s também surpreendeu positivamente, com avanço de 2,6% em suas vendas globais em janeiro. Já a Coca-Cola trouxe um desempenho em linha com o esperado.

Por aqui, o principal resultado ficou com a Vale, que apresentou um lucro líquido de R$ 2,629 bilhões no quarto trimestre do ano passado, 7,7% superior ao mesmo período de 2008 e levemente acima do esperado pelos analistas. A mineradora informou ainda a nova aquisição firmada no capital da Fosfértil, e fundo soberano do governo chinês afirmou que realizou um investimento equivalente a US$ 498 milhões em ADRs (American Depositary Receipts) da mineradora no ano passado, ajudando no desempenho positivo da ação da blue chip na semana.

O Itaú Unibanco fechou 2009 com um lucro líquido de R$ 10,1 bilhões, uma evolução de 0,6% contra o registrado em 2008, de R$ 10 bilhões pró-forma, que considera a soma dos resultados dos dois bancos no ano, antes da fusão.

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A Gafisa reportou um lucro líquido ajustado de R$ 86 milhões, cifra 97,3% superior à apurada no mesmo período do ano passado. A empresa ainda anunciou que planeja levantar R$ 1 bilhão através de venda de ações para dobrar as construções neste ano, enquanto o bilionário Sam Zell afirmou que deve aumentar seus investimentos na companhia, uma vez que vê oportunidades na maior economia da América Latina.

A Vivo reportou lucro líquido de R$ 221,6 milhões no quarto trimestre de 2009, 0,2% menor que o contabilizado nos três últimos meses de 2008. Já a NET Serviços registrou ganhos de R$ 306 milhões, após ter amargado um prejuízo de R$ 76 milhões no último quarto de 2008.

Cenário corporativo
Após um longo período, as negociações para a aquisição da fabricante portuguesa de cimento Cimpor parecem estar chegando nos capítulos finais. A Camargo Corrêa oficializou a compra de 28,67% do capital da empresa de Portugal. Já a CSN elevou sua oferta de compra à fabricante de cimentos portuguesa em 7,5%, passando para € 4,15 bilhões de euros – ou € 6,18 por ação.

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Com as votações do marco regulatório do pré-sal em ritmo lento na Câmara dos Deputados, o presidente do País, Luiz Inácio Lula da Silva, encaminhou ao Senado pedido de urgência para a tramitação dos projetos que tratam da exploração da região, na tentativa de aprová-los ainda no primeiro semestre.

A Telebrás respondeu consulta da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) com a íntegra de contato entre o presidente da estatal, Jorge Motta e Silva, e o Ministro de Telecomunicações Hélio Costa, onde manifestou “preocupação diante da repercussão em potencial casada no mercado de valores mobiliários pela matéria ‘Governo confirma Telebrás na banda larga’, veiculada pela Folha de São Paulo”. Depois de reunião realizada há dois dias, o presidente Lula adiou o anúncio de sua decisão para março, aumentando incertezas com relação à reativação da empresa.

Agenda
Nos EUA, foi divulgada a balança comercial, que mostrou déficit comercial de US$ 40,2 bilhões em dezembro, acima das expectativas de US$ 35,8 bilhões, enquanto o Wholesale Inventories demonstrou forte queda no nível dos estoques do atacado norte-americano em dezembro passado. O Michigan Sentiment de fevereiro, indicador da confiança do consumidor, também decepcionou.

Pelo lado positivo, o número de pedidos de auxílio-desemprego reportados nos EUA de 440 mil na última semana ficou abaixo das expectativas do mercado, enquanto o volume das vendas ao mercado varejista norte-americano subiu 0,5% durante o mês de janeiro, vindo acima das expectativas dos analistas.

A Zona do Euro apresentou crescimento econômico fraco no quarto trimestre, com crescimento de 0,1% no período, ante uma alta de 0,4% no terceiro trimestre de 2009. Em todo o ano de 2009, a economia da Zona do Euro contraiu 4%, refletindo o ápice da crise econômica e financeira mundial. A confiança do investidor europeu recuou em fevereiro, a primeira queda em sete meses. Já a Alemanha não registrou variação na passagem do terceiro trimestre para o quarto trimestre de 2009, decepcionando analistas, enquanto a França surpreendeu positivamente o mercado ao revelar avanço de 0,6% na mesma base de comparação.

Na China, o CPI (Consumer Price Index) relatou avanço de 1,5% em janeiro, aquém do esperado por analistas (2%) e do visto em dezembro (1,9%).

A taxa de inadimplência dos brasileiros apresentou a maior queda já registrada no primeiro mês do ano desde janeiro de 1999, com baixa de 6,3% frente a dezembro. A indústria paulista registrou número positivo, com abertura de 12 mil postos de trabalho em janeiro, o que representa alta de 0,42% no nível de emprego, frente ao mês anterior. Entretanto, os dados da Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário mostraram que a folha de pagamento dos trabalhadores da indústria registrou queda de 2,8% em 2009, na comparação com o acumulado do ano de 2008.

Entre os indicadores de inflação, tanto o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) referente ao primeiro decêndio de fevereiro quanto o IPC-Fipe (Índice de Preços ao Consumidor), referente à primeira quadrissemana do mesmo mês, registraram alta, de 0,98% e 1,28% respectivamente.

O Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) reportou que no primeiro mês do ano, o brasileiro precisava de um salário mínimo de R$ 1.987,26 para poder arcar com suas despesas básicas. Por fim, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas no País deverá avançar 7,2% neste ano, atingindo a marca de 143,4 milhões de toneladas.

Câmbio e renda fixa
A moeda norte-americana fechou cotada na venda a R$ 1,860, acumulando na semana uma queda de 1,48%, interrompendo uma sequência de quatro avanços semanais. O Banco Central, que interveio em todas as sessões, trouxe os números do fluxo cambial , mostrando que a entrada de dólares no País superou a saída em US$ US$ 1,917 bilhão no totalizado nos cinco primeiros dias de fevereiro.

No mercado de renda fixa, os juros futuros encerraram em alta na BM&F Bovespa. O contrato com vencimento em janeiro de 2011, que apresenta maior liquidez, encerrou apontando taxa de 10,23%, avanço de 0,01 ponto percentual em relação à última semana.

No mercado de títulos da dívida externa brasileira, o Global 40, bônus mais líquido, encerrou cotado a 134,10% de seu valor de face, alta de 0,26% na variação semanal.

O risco-país, calculado pelo conglomerado norte-americano JP Morgan, fechou cotado a 218 pontos-base, queda de 26 pontos em relação à última semana.

Confira a agenda do investidor para a terceira semana de fevereiro
Dentro da agenda econômica para a terceira semana de fevereiro, os investidores estarão atentos à divulgação da ata do Fed referente à última reunião de política monetária, assim como aos dados industriais e ao nível de inflação de janeiro.

Assim como nos EUA, os indicadores da inflação dominam o front doméstico, com destaque também para o vencimento dos contratos de Ibovespa Futuro.

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