Com projeção de queda dos juros nos EUA, investidores estrangeiros voltam para a B3 em novembro – e movimento pode continuar

Juros, menor tensão no Oriente Médio e valorização do minério são algumas das explicações que justificam o melhor mês de entrada de capital em 2023

Vitor Azevedo

Gráfico do mercado de ações em nota de 100 dólares.

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Novembro foi o mês de 2023 que, ao menos até agora, foi marcado pelo melhor fluxo de entrada de capital estrangeiro na B3 – além do melhor mês desde março de 2022. Ao total, segundo dados da própria Bolsa, foram R$ 21 bilhões de saldo positivo, resultado, majoritariamente, do recuo dos juros nos Estados Unidos.

“O mês foi marcado por uma expressiva entrada de capital estrangeiro na bolsa e um notável aumento no apetite por risco”, explica Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos.

A especialista destaca que a maior economia do mundo trouxe dados de inflação abaixo das expectativas, bem como outros dados ligados ao mercado de trabalho e ao desempenho econômico.

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Juros mais baixos nos Estados Unidos tendem a criar um fluxo de capital para ativos de risco. Os treasuries yields para dez anos, por exemplo, saíram da casa dos 4,85% no começo de novembro para fechar o mês próximo dos 4,30%.

Com os títulos da dívida pública norte-americanos – considerados os “mais seguros do mundo” – pagando menos, investidores tiram dinheiro desses ativos para colocar em outros, aceitando assumir mais risco.

“Esse cenário de juros mais longo em queda, de arrefecimento gradual do nível de atividade do mercado de trabalho somado a uma inflação mais arrefecida, traz um otimismo e ajuda o ajuste de posição, ou seja, o ajuste técnico de final de ano dos investidores”, diz Ariane Benedito, economista e RI da Esh Capital.

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“A entrada de capital por parte do investidor estrangeiro foi notável, aproximando-se da máxima do ano. Esse fluxo de investimentos estrangeiros é um indicador significativo do crescente interesse e confiança nos mercados emergentes e outros ativos considerados de maior risco”, explica a Genial Investimentos, em análise publicada no primeiro dia de dezembro.

Para dezembro, as perspectivas, no que tange o fluxo estrangeiro, continuam otimistas. No entanto, os especialistas apontam que uma possível realização de lucros pode minguar o movimento.

“A expectativa é de que a Bolsa brasileira mantenha sua trajetória ascendente em dezembro, mesmo que com um impulso mais moderado em comparação ao observado em novembro”,  menciona Sene.

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Ela expõe que o esperado é que empresas mais ligadas ao consumo cíclico continuem se beneficiando da queda dos juros – no caso de essa trajetória se consolidar.

Investidores, no começo de dezembro, contudo, estão se posicionando com alguma cautela, esperando a publicação do payroll nos Estados Unidos, marcada para a próxima sexta-feira.

Além dos juros

Fora a entrada em ativos de risco, por conta dos juros mais fracos, o mercado também busca a renda fixa brasileira, que tem taxas mais atrativas na comparação. “Com a aposta em quando o juro vai cair, o dinheiro buscou mercados com taxas maiores, como o Brasil”, disse o diretor de investimentos da Nommos, Beto Saadia.

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A economista da Nova Futura, ainda falando de menor aversão ao risco, destaca que novembro também foi marcado por uma diminuição dos temores relacionados à guerra entre Israel e Hamas no Oriente Médio.

Se em outubro havia o temor de que o conflito se espalhasse pela região, o que provavelmente causaria um problema inflacionário dada a importância da região na produção de petróleo, o décimo primeiro mês de 2023 foi marcado por um apaziguamento dos discursos.

O VIX, considerado o índice do medo, encerrou outubro sendo negociado acima dos 20 pontos e acabou novembro abaixo dos 13.

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Por fim, houve também o fluxo gerado por conta da valorização das commodities, principalmente do minério de ferro.

As ações ordinárias da Vale (VALE3), com peso importante no Ibovespa, ganharam mais de 10% no mês, acompanhando a alta da commodity, na esteira das notícias de que a China irá estimular o seu setor de construção civil. E, para o futuro, as projeções continuam otimistas para a commodity, com os estoques do gigante asiático ainda apertados, em uma época sazonalmente marcada pela alta da demanda na preparação para o ano novo chinês.

A balança comercial brasileira é outra explicação para a forte entrada de recursos externos na B3. Até a terceira semana de novembro, o superávit comercial do mês de novembro foi de US$ 6,003 bilhões.

“Por outro lado, aconselho cautela com o setor de petróleo, especialmente no segmento de exploração e refino. Este setor pode enfrentar maior volatilidade e possíveis correções, dado o recente movimento de queda na commodity de referência nas últimas semanas, e ainda persistem dúvidas sobre novos cortes de produção”, fala a economista da Esh.

O Brasil vem, por fim, minimamente também fazendo sua tarefa de casa. Novembro, por exemplo, foi marcado pela notícia de que o Governo Federal não iria alterar sua meta de déficit para 2024.

“Dados da economia brasileira continuam positivos. Tivemos, por exemplo, o Caged de outubro nesta semana, que mostrou uma queda do desemprego brasileiro, apesar de uma criação de vagas menor do que em setembro. O IPCA de outubro também foi mais ameno do que as expectativas, bem como o IPCA-15 de novembro, que trouxe uma prévia mais benigna”, contextualiza Ariane Benedito, economista e RI da Esh Capital.

Ela lembra também alguns avanços no cenário político brasileiro – caso, por exemplo, da aprovação da PL de tributação de fundos exclusivos feita na semana passada no Senado, que deve melhorar a situação fiscal do país.

Para a estrategista-chefe do Inter, Gabriela Joubert, a mudança da “água para o vinho” no cenário externo e melhora na percepção do país em relação a outros emergentes deve sustentar o apetite do investidor estrangeiro na B3.

(Com Estadão Conteúdo)

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