Com discurso antieuro, Berlusconi pode travar os mercados, diz colunista

Avanço do político nas pesquisas de opinião da Itália aumentam incertezas do mercado acerca de um aumento da oposição do país com a moeda única europeia

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O que os mercados mais odeiam? De acordo com o analista e jornalista financeiro Matthew Lynn, que assina uma coluna no portal norte-americano Market Watch, não é nem uma depressão, um aumento nas taxas de juros e nem uma oscilação no mercado bancário, apesar de estes serem extremamente ruins para os investidores.

O maior motivo para o nervosismo dos mercados ocorre em meio ao cenário de incertezas e completa ausência de informações o que, segundo Lynn, está se desenhando para as próximas eleições na Itália, que ocorrerá no fim de semana e que será, provavelmente, o evento político mais importante do ano. 

De um lado, está o ex-primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, que vinha ganhando espaço nas pesquisas de opinião das últimas semanas. Segundo a lei italiana, não são divulgadas sondagens de opinião, o que aumenta as incertezas do mercado com relação à zona do euro, após um período de relativa calmaria no continente.

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”A crise do euro pode ter sido tranquila nas últimas semanas, mas um bom resultado de Berlusconi vai quebrar a tendência altista do mercado que se consolidou em 2013″, avalia Lynn.

Berlusconi e o discurso antieuro ganham força
Conhecido como “Il Cavalieri”, Berlusconi volta a cena nestas eleições, aumentando a sua importância no cenário político à medida que o seu discurso contra o euro convence a população italiana. Há algumas semanas, os investidores praticamente assumiram que as eleições seriam vencidas pelos partidos de centro e centro-esquerda, este liderado por Pier Luigi Bernasi, ou por uma coalização entre os dois. 

Contudo, Lynn ressalta que Berlusconi, mesmo que não tenha sido um grande primeiro-ministro, é um empresário bastante hábil, entendendo as demandas da população e atingindo em cheio a moeda única europeia. Nas últimas semanas, ele começou a criticar o euro, argumentando que tinha se tornado um pedágio muito grande para o país.

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Além disso, ele prometeu revogar impostos sobre propriedade criados pelo atual primeiro-ministro, Mario Monti, que servem como instrumento para manter o déficit controlado. “O resultado? Aumento nas pesquisas”, ressalta Lynn. O analista ressalta ainda que, em outros países da zona do euro, como a Grécia, sair do euro é uma possibilidade levantada apenas por partidos extremistas. Assim, a Itália foi o primeiro país a considerar realmente a hipótese de deixar a moeda única.

O mais preocupante, segundo Lynn, é que a coalizão antieuro possui os melhores argumentos, uma vez que, de economia bem-sucedida na década de 1990, o país passou por quatro recessões desde que integrou o euro, há dez anos. A Itália é mais pobre em 2013 do que era em 2000.

“Conforme os anos se arrastam os italianos ficam mais e mais pobres, é cada vez mais difícil argumentar que a moeda tem trabalhado para eles”, afirma Lynn, o que favorece Berlusconi. Mas, mesmo que ele não seja eleito, aponta, ele pode influenciar o governo ao desafiar o pacote de austeridade imposto por Berlim ao atuar na oposição.

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Mesmo assim, ainda é mais provável que Bersani irá ganhar a eleição e que forme coalizão com o partido de Monti, avalia. No entanto, o novo primeiro-ministro enfrentará uma posição bastante clara contra o euro. Caso ganhe, Bersani liderará um governo fraco, com novas eleições podendo acontecer em pouco tempo e herdando um pacote de austeridade que continuará deprimindo a economia italiana.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.