Com Brasil preso na armadilha do crescimento, CDS já precifica corte de rating

Fatores domésticos, com inflação alta e crescimento baixo, além de deterioração fiscal, devem ser mais levados em conta para a redução do rating mais do que mercado externo

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em meio ao cenário de desaceleração econômica, deterioração fiscal e inflação resiliente, o mau humor dos investidores no Brasil só aumenta. Neste ambiente, os CDS (Credit Default Swaps) que mede o risco de calote da dívida soberana dos países refletiram essa maior aversão.

O CDS de cinco anos teve alta para 199 pontos, conforme aponta o fechamento da última sexta-feira, o que já precifica um cenário de rebaixamento de rating soberano, conforme aponta o economista e sócio da Pezco Microanalysis, João Ricardo Costa Filho. “O cenário econômico está bastante complicado, em meio à dívida bruta crescente e em um ambiente de expansão fiscal, que não deve ser revertido em função do ano eleitoral”, avalia o economista.

Além disso, o cenário é de inflação alta, o que deve fazer com que o Copom (Comitê de Política Monetária) continue com o aumento da taxa básica de juros, a Selic. Com isso, o custo da dívida pública deve ser maior. Soma-se a isso um ambiente de menores margens de manobra, colocando o Brasil no limite como parte da arquitetura criada pelo governo, com maior endividamento. Neste cenário, espera-se que o governo continuará fazendo mais do mesmo, aponta Costa Filho. 

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Com isso, um dos “remédios” recomendados é um ajuste fiscal mais forte, que pode levar a uma desaceleração econômica ainda mais forte, o que seria visto com maus olhos em um ano de eleição. “O Brasil está preso numa armadilha do crescimento, combinado a um cenário de inflação alta e crescimento baixo, com sintomas bastante parecidos  a de uma estagflação”, ressalta o economista.

Desta forma, o cenário que se aponta para o Brasil não é nada positivo e, mesmo se o rating por rebaixado pelas agências de classificação de risco, não é de se surpreender que ele seja colocado novamente em perspectiva negativa. “O Brasil ainda teria o grau considerado de investimento com o corte em um degrau da perspectiva de rating, mas não é de se surpreender se ele fosse colocado em perspectiva negativa”, aponta o economista.

Vale ressaltar que, no final de junho, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s revisou a perspectiva do rating soberano do Brasil em moeda estrangeira de “estável” para “negativa”, citando o fraco crescimento econômico e a política fiscal expansionista.

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Na semana passada, mais um passo que pode indicar um corte de rating foi dado pela agência. O diretor responsável por ratings soberanos da S&P, Joydeep Mukherji, ressaltou na última terça-feira em mesa redonda com jornalistas que pode cortar a nota do Brasil ainda em 2014, afirmando que não irá “atar as mãos” por causa das eleições. Antes disso, a Moody’s manteve o rating soberano do Brasil em Baa2 com perspectiva estável, mas alertou para possíveis revisões em meio ao cenário de crescimento fraco e deterioração fiscal do País. 

Cenário externo também inspira cautela
Apesar do ambiente interno ser o principal fator de pressão, soma-se ainda o cenário de incerteza global, com o mercado de trabalho norte-americano ainda frágil e os indicadores se apresentando mistos, mesmo tentando apontar para uma tendência de recuperação, enquanto a Europa ainda vê sua economia “patinando” e a China apresenta uma mudança na sua estrutura econômica, buscando passar de uma economia baseada em investimentos para mais voltada ao consumo, somado ainda às preocupações de uma crise de endividamento no país com o crescimento dos shadow bankings, ou sistema bancário paralelo.

Por outro lado, mesmo em um cenário mais frágil nos EUA, a expectativa é de que o Federal Reserve siga com a redução do seu programa de compra de títulos. Costa Filho aponta que um dos maiores fatores para isso são estudos que revelam que o programa de flexibilização monetária já teria atendido ao que era esperado e que, no momento, os riscos de continuar com o programa superam os benefícios.

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A não ser que sejam revelados dados surpreendentemente negativos novamente, espera-se uma mudança de postura pela autoridade monetária norte-americana, que priorizará mais a comunicação de como acontecerá a redução do programa de títulos ao invés de seguir com o programa; a expectativa de Costa Filho é de que o QE3 (Quantitative Easing 3) já acabe em 2015.

Dois pontos devem ser levados em consideração: em meio à redução do programa de estímulos da autoridade monetária norte-americana, o mercado deve seguir com volatilidade, apesar de menor do que a observada no ano passado, quando ainda esperava por reduções do QE3. Deste modo, o outro ponto ganha maior importância, uma vez que o maior fator de apreensão deve seguir com o ambiente doméstico.  

Em meio ao cenário de maior apreensão levando à saída de dólares, assim como a expectativa de ajustes no programa de leilões de câmbio do Banco Central, deve aumentar a desvalorização da moeda brasileira. A projeção da Pezco é de que o dólar encerre o ano a R$ 2,50. Mas, caso haja redução de rating e perspectivas para a economia brasileira, possíveis revisões para o patamar entre R$ 2,60 e R$ 2,70 não são descartadas, avalia Costa Filho. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.