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O CAPM para ser utilizado na análise de uma ação necessita de três parâmetros: o prêmio por risco de mercado, a taxa de juros livre de riscos, e o Beta. Nesta coluna discutiremos o que representa o prêmio por risco de mercado (PRM), e quais são os seus valores para uso com o CAPM.
Suponha um mercado que possui um investimento financeiro que não possui risco, ou seja, não importa o que aconteça com o mercado ou a economia, este investimento financeiro será pago e remunerado integralmente, conforme os seus termos e condições, ao investidor.
A remuneração deste investimento é conhecida como taxa de juros livre de riscos. Normalmente esta taxa de juros livre de riscos é proveniente de títulos de dívida de governos, como, por exemplo, no caso do Brasil seria a taxa Selic proveniente das Letras do Tesouro Nacional (LTN) emitidas pelo governo brasileiro pela Secretaria do Tesouro Nacional.
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Dada a existência de um título livre de riscos, o prêmio por risco do mercado acionário pode ser definido como o retorno adicional a taxa de juros livre de riscos, que o investidor possui a expectativa de obter quando investe no mercado de ações para compensar o risco adicional assumido neste mercado.
Em outras palavras, é o quanto a mais de retorno em relação a um investimento sem riscos, que o investidor espera receber para se sentir atraído por um mercado mais arriscado como o de ações.
O prêmio por risco depende do mercado em que estamos inseridos, e do período analisado, pois o prêmio é fortemente influenciado pela situação da economia (recessão, crescimento, etc.) e da aversão ao risco dos investidores, como pode ser percebido pela tabela 1, que apresenta diferentes estimativas do prêmio de mercado acionário em seis países do G-7 para diferentes horizontes de tempo.
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Tabela 1: Prêmios de mercado para seis dos países do G-7 (vários autores, diferentes períodos)
Autor(es)
EUA
Canadá
França
Alemanha
Japão
Reino Unido
Período
Dimson e outros
4,40%
4,00%
3,60%
5,70%
5,40%
3,80%
1900-2002
Ibbotson
6,10%
0,68%
2,34%
-0,80%
3,04%
4,61%
1970-1996
Claus e Thomas
3,40%
2,23%
2,60%
2,02%
0,21%
2,81%
1985-1998
Salomons e Grootveld
3,66%
1,69%
4,91%
3,41%
3,91%
4,41%
1976-2001
Canova e Nicoló
5,68%
2,26%
4,12%
3,19%
3,63%
5,15%
1971-1999
Pastor e outros
2,60%
4,70%
2,90%
1,60%
3,10%
2,90%
1990-2002
Autor(es) | EUA | Canadá | França | Alemanha | Japão | Reino Unido | Período |
Dimson e outros | 4,40% | 4,00% | 3,60% | 5,70% | 5,40% | 3,80% | 1900-2002 |
Ibbotson | 6,10% | 0,68% | 2,34% | -0,80% | 3,04% | 4,61% | 1970-1996 |
Claus e Thomas | 3,40% | 2,23% | 2,60% | 2,02% | 0,21% | 2,81% | 1985-1998 |
Salomons e Grootveld | 3,66% | 1,69% | 4,91% | 3,41% | 3,91% | 4,41% | 1976-2001 |
Canova e Nicoló | 5,68% | 2,26% | 4,12% | 3,19% | 3,63% | 5,15% | 1971-1999 |
Pastor e outros | 2,60% | 4,70% | 2,90% | 1,60% | 3,10% | 2,90% | 1990-2002 |
No caso do mercado brasileiro de ações, uma recente pesquisa realizada no GVCef (Centro de Estudos em Finanças da FGV) pelos pesquisadores Walter Gonçalves Jr, Luciana Chalela, Ricardo Rochman, e William Eid Jr, fez a estimativa do prêmio por risco de mercado histórico da BOVESPA, considerando o período que vai de 1996 a 2008.
Uma das primeiras dificuldades encontradas ao se estudar o prêmio por risco do mercado é justamente definir qual é o índice de ações que representa o mercado brasileiro. Como é praticamente impossível se dizer qual é o melhor índice de ações, optou-se por analisar o prêmio por risco de mercado usando os três índices de mercado mais usados: o Ibovespa, o IbrX, e o FGV-100.
“Quando avaliamos uma ação devemos ‘olhar para o futuro'” |
O período analisado excluiu a realidade hiperinflacionária passada no Brasil, e incluiu uma época de reestruturação da BOVESPA e a preocupação em ampliar e melhorar a transparência e governança corporativa. A estimativa do prêmio de mercado neste consistiu em se obter médias para o retorno de mercado, medido pelos três índices de ações citados anteriormente, e para o investimento livre de riscos para, na sequência, efetuar-se a diferença entre ambas. O CDI foi considerado na pesquisa como o investimento livre de riscos.
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O gráfico 1 mostra o comportamento do mercado (representado por seus índices) e do CDI no período de 1996 a 2008. Mesmo empregando médias móveis anuais estimadas mês a mês, que suavizam as mudanças bruscas do mercado, percebe-se que as variações são muito expressivas.
No gráfico 1 são notáveis as fortes altas no final da década de 90 e em 2004, bem como o período de estagnação entre 2000 e 2002, onde o prêmio por risco assumido foi negativo em relação ao CDI, e o de crise a partir de maio de 2008.
Com base nos dados levantados foi realizada a estimativa do prêmio de mercado por cada um dos índices, usando duas formas diferentes cálculo de taxa de retorno: aritmético, e geométrico. Os resultados são apresentados na tabela 2, para cada um dos índices, cada uma das formas de cálculo de retorno, e usando taxas nominal (com inflação) e real (sem inflação).
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Tabela 2: Prêmios de risco para diferentes índices e abordagens selecionadas
Bovespa
Nominal / Real
IBrX
Nominal / Real
FGV-100
Nominal / Real
Aritmética
3,66% / 3,42%
7,05% / 6,59%
7,80% / 7,30%
Geométrica
2,25% / 2,10%
5,75% / 5,38%
6,76% / 6,33%
Bovespa Nominal / Real |
IBrX Nominal / Real |
FGV-100 Nominal / Real |
|
Aritmética | 3,66% / 3,42% | 7,05% / 6,59% | 7,80% / 7,30% |
Geométrica | 2,25% / 2,10% | 5,75% / 5,38% | 6,76% / 6,33% |
Do ponto de vista histórico o prêmio por risco do mercado acionário brasileiro variou entre 2,25% a 7,80% ao ano em termos nominais, dependendo do índice de ações escolhido, e considerando a taxa de retorno do CDI como a remuneração do investimento livre de riscos. Alguns podem considerar estes prêmios como pequenos, mas eles são maiores que os de outros países, como se pode constatar na tabela 1, e a remuneração do CDI foi muito alta no período analisado.
Estes resultados servem como base não somente para o emprego do modelo CAPM, mas também para se tomar decisões sobre investimentos de risco. Deve-se lembrar que estes valores são históricos, e quando avaliamos uma ação ou empresa devemos “olhar para o futuro”, considerando as perspectivas futuras para a macroeconomia, o setor, a empresa, e a ação.
Doutor em Administração de Empresas pela FGV-EAESP, Ricardo Ratner Rochman é consultor e professor de Finanças da FGV-EESP e escreve mensalmente na InfoMoney, às segundas-feiras.
ricardo.rochman@infomoney.com.br