Caso SVB se assemelha à crise de 2008? Quais impactos para o Brasil? Veja perguntas e respostas sobre a 2ª maior falência bancária dos EUA

Analistas de mercado não veem crise tão generalizada quanto a de 2008, mas ainda assim mostram cautela; efeitos na política monetária estão no radar

Lara Rizério

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Impacto nas decisões de política monetária mundial, contágio para outras instituições financeiras, importantes decisões tendo que ser tomadas quase que instantaneamente.

Por mais que os mercados acionários tenham mostrado relativa resiliência à quebra do décimo sexto maior banco dos EUA – o SVB (Silicon Valley Bank) -, sendo seguido pela intervenção ao Signature Bank, os acontecimentos registrados desde o fim da semana passada suscitaram diversos eventos e questionamentos para o mercado, com os efeitos (principalmente para os bancos regionais dos EUA) ainda devendo se desdobrar nos próximos dias e até semanas.

O InfoMoney compilou as principais questões que estão no radar dos investidores e os possíveis desdobramentos que estão no radar.

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O que aconteceu?

A falência do SVB foi a segunda maior dos Estados Unidos, perdendo apenas para a quebra do Washington Mutual em 2008, devido à crise do subprime.

O SVB relatou US$ 212 bilhões (R$ 1,12 trilhão) em ativos e US$ 175 bilhões em depósitos no quarto trimestre de 2022. Fundado em 1983, a instituição financeira foi um importante motor para o sucesso da indústria de tecnologia.

O banco era o 16º maior em tamanho de ativos dos Estados Unidos e tinha bastante exposição a startups apoiadas por Venture Capitals (VCs), sendo o banco preferido pelo setor de tech.

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Conforme destaca a XP, com o boom do setor em 2020 e 2021 devido ao ambiente de baixas taxas de juros (que levou ao aumento do apetite de risco dos investidores) e à alta demanda por serviços de tecnologia, os investimentos aumentaram — assim como os depósitos no SVB, que foram de US$ 61 bilhões para US$ 189 bilhões.

O banco usou o capital para comprar títulos o governo e títulos privados de hipotecas (MBS na sigla em inglês), divididos em duas estratégias: disponíveis para venda (em inglês, Available For Sale ou AFS) e mantidos até o vencimento (Held to Maturity, ou HTM). A maioria desses investimentos foi para a estratégia HTM, com títulos de rendimento mais alto e vencimentos mais longos. O problema é que os ativos HTM não são marcados a mercado no balanço.

Com isso, quando o Fed começou a elevar os juros, a combinação de (i) aumento das taxas, (ii) redução de investimentos de risco, como o de VCs, e (iii) aumento da queima de caixa pelas startups tiveram um impacto direto nas operações do SVB. Além disso, a base de clientes do SVB, composta principalmente por startups focadas em tecnologia, enfrentou desafios devido à escassez de liquidez à medida que os IPOs e o financiamento de VCs se tornaram escassos.

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Na última quarta-feira (8), o banco americano SVB anunciou a venda de US$ 21 bilhões no valor de títulos (uma perda antes dos impostos de cerca de US$ 1,8 bilhão) e estava organizando uma venda de ações de cerca de US$ 2,25 bilhões, o que despertou no mercado preocupações com a solidez do seu balanço, levando a uma queda de 60% em sua cotação no dia seguinte (9).

A derrocada da instituição, a partir daí, foi rápida. O FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation, espécie de FGC, Fundo Garantidor de Crédito, dos EUA) foi obrigado a tomar o controle do SVB. A questão é que o órgão só garantiria depósitos de até US$ 250 mil, e mais de 90% dos depósitos do SVB estavam acima desse valor.

No último fim de semana, o Federal Reserve, o FDIC e o Tesouro americano anunciaram um programa de financiamento a termo de bancos (BTFP) de US$ 25 bilhões que oferece empréstimos de até um ano para bancos e outras instituições depositárias elegíveis, com o objetivo de mitigar quaisquer problemas de liquidez que elas possam enfrentar.

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Além disso, os órgãos anunciaram na segunda-feira (13) que mesmo os depósitos não segurados do SVB e do Signature Bank seriam protegidos. A reação rápida dos reguladores levou os mercados a reagir relativamente bem na segunda, destaca a XP.

Quais são as diferenças e semelhanças com 2008?

“A história não se repete, mas ela rima”. O Credit Suisse citou essa frase ao falar dos possíveis paralelos com a crise financeira de 2008, ainda que muitos analistas não vejam um movimento em tal intensidade.

A XP aponta que o receio em relação a uma nova crise financeira é natural. Afinal, todas as vezes que o Federal Reserve sobe juros, algo acontece no mundo em algum setor (ou país) que estava alavancado ou com preços muito altos no mercado. Foi assim na crise do México em 1994, com o fundo LTCM em 1998, com a bolha de tecnologia em 1999-2000 e a crise do sub-prime e do setor de real estate em 2007-2008. Contudo, não acredita que o colapso do SVB é o sinal de uma grande crise como a última financeira de 2008.

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Isso porque os bancos americanos e globais têm hoje uma regulação muito mais restritiva, que foi aprovada após a crise daquele ano. Conforme destacam os estrategistas Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig, isso tornou o sistema financeiro hoje mais seguro do que era na época.

“Os níveis de capital regulatório são maiores, e os níveis de alavancagem do sistema são menores, e as regulações ao redor de empréstimos também são mais duras. Isso tudo ajudou a tornar o sistema muito mais seguro, mas ainda não à prova de falências, como vimos no caso desses dois bancos regionais americanos”, apontaram os estrategistas.

Crise financeira de 2008: relembre a quebra do Lehman Brothers

Além disso, o rápido anúncio do Federal Reserve e do governo americano, garantindo todos os depósitos dos clientes dos dois bancos em intervenção, ajudou a estancar a crise de confiança que se gerou com os bancos regionais americanos. A possibilidade de uma nova corrida bancária nos bancos pequenos e médios nos EUA foi reduzida após esse rápido anúncio das autoridades americanas. Os EUA possuem mais de 4.200 bancos assegurados pelo FDIC, uma fragmentação muito maior do que a vista no setor bancário brasileiro.

A XP destaca ainda que o volume de depósitos no SVB cresceu rapidamente, de forma que utilizá-lo na concessão de crédito de forma mais criteriosa parecia impraticável.

Como resultado, o banco passou a alocar capital em títulos do governo para obter um melhor retorno. Por outro lado, esse não parece ser o cenário para os grandes bancos: “vemos o Citi (C), o Bank of America (BAC) e o Wells Fargo (WFC), que são mais ativos no mercado de crédito, em uma posição mais confortável. Até mesmo o JP Morgan (JPM) e Morgan Stanley (MS), que dependem um pouco mais das atividades de investment banking, têm taxas mais altas de empréstimos em relação aos depósitos (em inglês, LTR)”, apontam.

Desta forma, o risco de um descompasso entre ativos e passivos nos balanços dos principais bancos parece controlado. Uma grande preocupação poderia ser um aumento repentino nas taxas de inadimplência. “Porém, como a economia dos Estados Unidos parece sólida e a taxa de desemprego continua baixa, não parece ser o caso”, afirma.

Na visão da Levante Ideias de Investimentos, há uma grande diferença no caso do SVB versus 2008: a velocidade com que tudo ocorreu. Na quarta da semana passada, o SVB era uma instituição financeira respeitada e capitalizada, com quatro décadas de história e a reputação de ser o principal prestador de serviços para a comunidade tecnológica do Vale do Silício. Também era um banco grande. Dois dias depois, após sofrer uma corrida, o banco simplesmente quebrou.

A velocidade dos acontecimentos deveu-se ao perfil da comunidade de venture capitalists, ou VCs. “Altamente conectados e acostumados a resolver tudo pelas redes sociais, esses capitalistas de risco acabaram provocando uma corrida ao SVB trocando comentários e alertas de maneira frenética”, aponta a Levante.

Conforme destaca a Levante, nem a mais sólida e bem capitalizada das instituições financeiras é capaz de resistir a uma corrida. “Bancos são intrinsecamente alavancados. Captam recursos para conceder empréstimos. Seu principal insumo é o dinheiro dos investidores. E seu ativo mais importante é a confiança desses investidores. Quando essa desaparece, o dinheiro se evapora. No caso do SVB, o problema foi agravado pela base de clientes. Em sua grande maioria startups e fundos de venture capital, eles foram levados a resgatar os recursos simultaneamente, e o SVB não dispunha de outras fontes de receita”, apontam os analistas.

Para a gestora Ashmore, não há ameaça para o sistema bancário, mas a dinâmica permanecerá negativa para as instituições financeiras americanas menores. Gustavo Medeiros, chefe de pesquisa global da gestora, aponta ainda que a fragilidade do setor bancário nos EUA contrastou fortemente com a forte criação de crédito na China no mesmo dia.

Quais são os impactos na política monetária?

Ainda que haja visões distintas sobre qual deve ser o impacto na política monetária global, notoriamente a do Federal Reserve, a visão geral do mercado é de que a autoridade monetária americana deve ao menos reduzir o ritmo de alta de juros, em um momento em que as apostas de uma alta de 0,5 ponto percentual (p.p.) nos juros na próxima reunião do Federal Open Market Commitee (Fomc) estavam ganhando força no mercado.

Conforme destaca a Genial, a primeira reação dos investidores na véspera foi reduzir praticamente a zero a probabilidade de que o Fed acelere o processo de aumento da taxa básica de juros para 0,5 p.p. na próxima reunião do Fomc, antes mesmo da divulgação do dado do Índica de Preços ao Consumidor (CPI), que saiu nesta terça.

À luz da crise, o Goldman Sachs previu na véspera que o Fed não elevará os juros em sua reunião da próxima semana.

Enquanto isso, alguns agentes argumentam que, mesmo que o Fed deixe de subir juros em março, isso não seria, necessariamente, uma notícia boa, uma vez que poderia significar que as implicações do risco de liquidez da história do SVB são mais severas, dentro de um contexto de inflação ainda muito alta, conforme aponta o Citi. 

A XP também acredita que as recentes preocupações com a estabilidade do sistema financeiro vão tomar o centro das atenções na próxima reunião do Fomc, praticamente eliminando qualquer possibilidade de um aumento de 50 pontos-base nos juros.

“No cenário menos provável, em que novas evidências sugeririam que a ameaça ao sistema financeiro pode ser mais generalizada, o Fed pode até optar por estrategicamente pausar o ciclo de alta de juros até que as incertezas se amenizem. Ainda assim, nosso cenário-base permanece de que não haverá uma deterioração significativa do sistema financeiro e que o Fed manterá o ritmo de aperto em 25 pontos-base em sua reunião de março”, avalia.

Daqui para frente, as perspectivas são ainda mais incertas. Desde o colapso do SVB, a precificação do mercado da taxa básica de juros dos EUA mudou agressivamente, e agora sugere uma taxa terminal mais baixa e o início do ciclo de flexibilização já em julho deste ano.

Para a Ashmore, em termos macro, o Fed terá que fornecer liquidez, o que não é uma flexibilização monetária propriamente. No entanto, avalia, seria muito difícil para o Fed justificar o aperto quantitativo e o aumento das taxas de juros no atual ambiente. “Em nossa opinião, seria difícil justificar o aumento das taxas (talvez em até 25 pontos-base)”, avalia.

Na manhã desta terça-feira, após a divulgação dos dados de inflação ao consumidor CPI de fevereiro em linha com o esperado (com alta mensal de 0,4%, ainda mostrando resiliência), os juros futuros nos EUA refletiam cerca de 90% de chances de uma alta de 0,25 ponto percentual neste mês, com cerca de 10% de chance de manutenção. O intervalo atual é de 4,5% a 4,75%.

No Brasil, com essa visão de Fed possivelmente mais brando, a dúvida agora é se esse movimento desencadeado pela quebra do SVB terá impactos nas decisões de política monetária no Brasil, como uma antecipação da queda da taxa Selic, estacionada atualmente em 13,75% ao ano.

Na última segunda-feira, as ações de bancos regionais americanos foram as mais “punidas”, uma vez que o colapso do SVB poderá deteriorar a confiança das pessoas nos bancos menores e regionais, e consequentemente motivar uma transferência de dinheiro desses bancos menores para os grandes. As baixas chegaram a ser de mais de 80% no intraday para alguns desses bancos regionais americanos.

Na noite da véspera,  a Moody’s informou que havia colocado seis bancos dos Estados Unidos sob revisão para eventual rebaixamento de ratings, diante das “condições de financiamento extremamente voláteis” enfrentadas pelas instituições e à exposição delas ao risco de saída de fluxo de depósitos não segurados.

Os alvos são o First Republic Bank, o Western Alliance Bank, o Zions Bancorp, o Intrust Financial, o Comerica e o UMB Financial, que tiveram forte queda ontem.

Olhando para esses bancos menores e também para os grandes bancos, no pregão do último dia 13, as instituições financeiras americanas perderam US$ 110 bilhões em valor de mercado, o equivalente à soma do valor de mercado de  Petrobras (PETR3;PETR4) e Itaú (ITUB4), segundo levantamento feito pela TradeMap.

O banco que mais perdeu valor de mercado foi o do Bank of America, com desvalorização de US$ 14,0 bilhões, equivalente ao valor de mercado da Eletrobras (ELET3;ELET6). A segunda maior queda é da Wells Fargo, com recuo de US$ 11,2 bilhões valor equivalente ao da Suzano (SUZB3).

Quais são os possíveis impactos para bancos no Brasil?

Por aqui, na véspera, as instituições financeiras brasileiras tiveram queda, mas longe de apontarem para “pânico” do mercado, com analistas vendo os bancos brasileiros bem posicionados para enfrentarem o “risco SVB”. Os ativos do Bradesco (BBDC4) fecharam em baixa de 1,11% (R$ 13,42), Itaú (ITUB4) caiu 1,20% (R$ 23,78), o Santander Brasil (SANB11) teve baixa de 1,05% (R$ 26,34) e o Banco do Brasil (BBAS3) teve queda ainda menos expressiva, de 0,63% (R$ 38,15).

A XP destaca que, embora recentemente tenha havido uma maior deterioração do sentimento em relação ao setor bancário brasileiro (o setor já foi impactado no início deste ano pelos eventos de crédito corporativo), os indicadores do balanço das instituições do país mostram que o setor está em boa posição para superar o overhang (potencial de excesso de ações no mercado, pressionando as ações) trazido pelo caso SVB.

A casa realizou uma análise dos seguintes indicadores, para entender possíveis eventos do SVB: i) razão de empréstimo por depósitos; ii) margem com marcação a mercado; iii) Títulos mantidos até o vencimento e participação das LFTs; e iv) Indicador de Liquidez de Curto Prazo (em inglês, LCR).

Ao olharem esses números, os analistas apontam que os bancos brasileiros mantêm indicadores de balanço saudáveis, enquanto a expectativa de manutenção da Selic em 13,75% (com grande parte dos efeitos do aperto no ciclo monetário já devem refletir nos números de margem financeira com o mercado. Além disso, os valuations descontados devem amortecer futuras desvalorizações.

Na mesma linha, o Itaú BBA ressalta que os bancos brasileiros não estão diretamente expostos às consequências da crise do SVB. Eles não possuem uma exposição direta ao banco e os montantes de perdas não realizadas, um dos catalisadores da crise no SVB, não são relevantes para os bancos brasileiros. Além disso, seus índices de capital e liquidez são confortáveis.

Por outro lado, ainda que o capital e a liquidez estejam em níveis confortáveis aos grandes bancos, com sólida confiança e base de financiamento diversificada, pode haver efeitos indiretos.

“O Bradesco, por exemplo, tem uma escolha mais difícil em um debate sobre preservação de capital e achamos razoável uma análise em um cenário de ‘cash is king’ (expressão em inglês usada para ‘dinheiro na mão’ ou seja, aquele dinheiro mais líquido) em que os bancos retêm mais lucros e reduzem os índices de pagamento”, avaliam os analistas.

O truque é que os bancos podem reduzir os impostos distribuindo dinheiro aos acionistas via juros sobre capital próprio (JCP). Dentro da cobertura brasileira do BBA, espera-se que o Bradesco distribua o resultado a taxas mais altas (cerca de 60%), inteiramente via JCP. Para fins de estresse, o mínimo necessário de payout (dividendo distribuído em relação ao lucro) de 25% significaria lucro líquido cerca de 15% menor, ou R$ 17 bilhões (com 11% de ROE). Em um cenário de pagamentos mais baixos, os investidores do Bradesco não só ficariam com uma fatia menor do bolo, como o bolo todo encolheria consideravelmente.

No entanto, acredita que isso seja improvável atualmente, uma vez que o Bradesco possui uma posição de capital confortável, embora a discussão possa avançar, dependendo de como os mercados financeiros globais evoluem. Para os outros bancos, este impacto não é material, dada a base inicial já baixa para pagamentos (30%-40%).

As condições de capital para as fintechs podem piorar, mas o BBA ressalta que Nubank (NUBR33) e o banco Inter (INBR32) estão bem.

O evento SVB tem consequências claras para o cenário de capital das fintechs, com um horizonte pior às empresas que ainda não foram totalmente financiadas para crescimento ou que ainda estão gastando dinheiro. Enquanto isso, os dois principais bancos digitais do Brasil têm uma vantagem relativa. Isso é parcialmente graças a seus enormes mecanismos de captação de recursos e seus balanços subalavancados, com status acima do ponto de equilíbrio. Sem contar com nenhum lucro adicional,

Nubank e Inter têm espaço de capital para aumentar suas carteiras de crédito em 3,4 vezes e 2,7 vezes, respectivamente, aponta o BBA. Já o Banco Pan (BPAN4) tem 1,9 vez. “Sinalizamos também que o Nubank tem 1,4 vez mais depósitos de varejo pulverizados do que tem exposição de crédito hoje”, afirma.

Olhando agora para o mercado de crédito corporativo, em meio ao recente caso de inadimplência da Lojas Americanas (AMER3) no radar, outra pergunta que fica é se as condições de crédito corporativo podem ser indiretamente
impactadas.

“A resposta é que a volatilidade para spreads de crédito globais que decorre do evento SVB não vai facilitar os mercados de crédito locais”, avalia o BBA. Na verdade, os mercados de títulos internacionais recentemente se tornaram uma alternativa atraente na ausência de um mercado local fluído. Sendo assim, condições de crédito mais rígidas geralmente aceleram a deterioração da qualidade do crédito. O lado positivo, porém, é que a própria curva da taxa soberana se moveu para baixo desde o evento SVB.

Colocando todos esses pontos na balança, o Itaú BBA avalia que o Bradesco pode sofrer mais queda nas revisões de lucros caso esse cenário se desdobre negativamente, tanto do ponto de vista do payout quanto da exposição ao mercado de crédito. Já o BTG Pactual (BPAC11) é mais sensível à atividade do mercado de capitais e ao risco de crédito corporativo, e conta menos com uma base de captação de varejo pulverizada.

Os índices de capital do Banco do Brasil, por sua vez, são os mais confortáveis, com destaque para seu índice de inadimplência e base de financiamento. “Entre as fintechs, Inter e Nubank podem se beneficiar em termos relativos, já que o capital é suficiente para alguns anos de crescimento da carteira de empréstimos. Além disso, uma eventual rotação do mercado taxas de juros mais baixas poderia colocar as ações das empresas no centro das atenções”, avalia o BBA.

Quais outros setores impactados na B3?

O debate sobre uma possível queda da Selic antes do esperado por conta do cenário de alta mais branda dos juros pelo Fed também levou a um melhor desempenho de curto prazo para as ações de empresas de crescimento na véspera.

Na última segunda-feira, as ações da Via (VIIA3) dispararam 11,04%, a R$ 2,04, as do Magazine Luiza (MGLU3) subiram 9,41%, a R$ 3,72, enquanto Petz (PETZ3) avançou 6,54%, a R$ 6,35.

Isso porque empresas de varejo e de crescimento, que são muito sensíveis a variações de taxas de juros. Companhias de crescimento mantêm seus fluxos de caixa em períodos muito longos. Empresas de varejo estão associadas ao ciclo de crédito e à atividade econômica local.

Por outro lado, na véspera, as ações de petroleiras tiveram queda, seguindo o movimento de perdas do petróleo, ainda que haja recuperação nesta terça. Ontem, o petróleo brent caiu 2,4%, para US$ 80,77 . A referência global tocou na mínima na segunda US$ 78,34, seu preço mais baixo desde o início de janeiro. O petróleo nos EUA (WTI) CLc1 caiu 2,5%, para US$ 74,80 o barril. Antes, o WTI atingiu US$ 72,30 o barril, seu menor preço desde dezembro.

“Foi meio surpreendente hoje [ontem] ver a grande queda no petróleo, considerando o fato de que o Fed provavelmente terá mais dificuldade em aumentar as taxas de juros agressivamente e isso deve causar fraqueza no dólar”, disse Phil Flynn, analista do Price Futures Group.

Um possível fator para pressão do petróleo é a visão de que uma crise mais abrangente possa ir para a economia real e pressionar os preços das commodities. Neste sentido, a princípio, os investidores observam se pode haver um movimento de rotação de ações (de crescimento para valor), mas maiores efeitos da crise do SVB ainda devem ser monitorados.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.