Cogna: mudanças no caminho certo, mas por que ação não anima analistas mesmo depois da forte queda em 2020?

Analistas destacaram Cogna Day de forma positiva, mas apontam que 2021 ainda será um ano de pressão para os números da empresa de educação

Lara Rizério

Cogna (Imagem: Divulgação)
Cogna (Imagem: Divulgação)

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SÃO PAULO – Em meio a uma queda de 57% das ações em 2020 (enquanto o Ibovespa zerou as perdas do ano) em um período bastante desafiador para o setor, a companhia de educação Cogna (COGN3) realizou o seu Investor Day na última segunda-feira (14).

Entre os destaques, a companhia destacou que prepara o lançamento de um marketplace de educação voltado para jovens e adultos que vai integrar produtos próprios com outros oferecidos por terceiros, na expectativa de preservar seus negócios em meio à crise gerada pela pandemia. O marketplace, na avaliação da companhia, deve permitir a expansão do mercado em mais que o dobro no Brasil, passou dos atuais R$ 56 bilhões para R$ 121 bilhões.

“A plataforma (de marketplace) pode ser no médio e longo prazos transformadora para nossa organização”, destacou Rodrigo Galindo, presidente-executivo da Cogna, em apresentação online, ainda que sem citar o cronograma de lançamento.

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O marketplace já conta com 16 vendedores parceiros, com destaque para nomes como Saraiva Jur, Cursos Livres e Consultoria da Educação. A expectativa é que a Cogna ofereça de cursos de ensino superior, livres, técnicos e de idiomas, a serviços como orientação vocacional e até financeiros, segundo apontou Galindo.

Com relação à Vasta, unidade da Cogna para serviços de educação básica, está previsto o lançamento em fevereiro de 2021 de produtos de aulas particulares, mercado estimado em R$ 3 bilhões. A companhia também deve registrar no ano um crescimento de mais de 21% no indicador de valor de contratos anuais (ACV).

Mas um dos segmentos acompanhados mais de perto é a Kroton, de ensino superior, que teve o maior impacto negativo em suas operações por conta da pandemia do coronavírus e vem passando pela maior reestruturação, que teve início anunciado em agosto. Na ocasião, logo após o resultado do segundo trimestre, a empresa informou que os cursos presenciais iriam passar por uma reestruturação para versões via ensino à distância, reduzindo os custos da companhia, com a maior parte das ações para isso devendo ocorrer entre a segunda metade de 2020 e o início de 2021.

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Já no Cogna Day do final de ano realizado na última segunda-feira, os executivos destacaram que a expectativa é de ampliar em 50% o portfólio de cursos digitais até 2022 e que o custo de captação de alunos em 2021 deve cair entre 25% e 30%. A expectativa ainda é de abertura de 600 novos centros de ensino à distância em dois anos. A empresa aumentará a oferta de cursos não premium em formato digital, aproveitando as estratégias comerciais existentes, mas também o novo centro de ensino e também a capacidade de distribuição do campus.

Essa estratégia deve ajudar a Kroton, que vê dificuldade para elevar preços de mensalidades nos próximos um a dois anos, disse executivo da unidade, citando elevada concorrência.

Quando questionado sobre a volta da companhia a fazer aquisições no ensino superior em um momento em que essas operações estão movimentando o mercado, Galindo afirmou que a redução do endividamento e melhora da performance financeira a partir de 2021 vão “gerar conforto para aquisições via dívida nos próximos trimestres”.

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“Certamente oportunidades inorgânicas farão parte desta companhia no futuro. Vai ser natural a gente voltar às aquisições”, disse Galindo, acrescentando que o foco ficará em ativos que passaram pelo mesmo tipo de reestruturação que a pandemia forçou o grupo a passar neste ano.

Já sobre dividendos, o executivo comentou que a Cogna vai manter no próximo ano política de pagamento do mínimo obrigatório. “Provavelmente…não teremos lucro distribuível para 2021, que ainda vai ser um ano difícil”, apontou.

Cautela no radar

Enquanto acontecia o Cogna Day, os papéis da companhia registravam queda, fechando com baixa de 5,47% na véspera, que se estendeu nesta terça-feira, com baixa de cerca de 3% dos papéis COGN3.

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Se, por um lado, a empresa prevê um crescimento do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), da ordem de 25% ao ano até 2024 (projeção esta que não inclui a nova operação de marketplace de educação), por outro, o cenário segue desafiador no curto prazo.

Vale destacar que, antes do evento, na manhã da véspera, a Cogna divulgou fato relevante, estimando que o Ebitda recorrente neste ano vá a R$ 1 bilhão, com geração de caixa operacional pós-investimentos (capex) alcançando R$ 230 milhões.

Para o Bradesco BBI, o guidance da Cogna foi em linha com as expectativas do banco, mas um pouco abaixo do consenso de R$ 1,2 bilhão, já que seus resultados devem continuar a ser afetados pelos descontos obrigatórios observados no terceiro trimestre e provisões de inadimplência ainda elevadas, enquanto seu guidance de Ebitda para 2024 ficou 5% abaixo do esperado pelo BBI.

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“No geral, esperamos que os resultados da Cogna sofram pressão no curto prazo, já que a empresa tem o ajuste de sua base de alunos no campus enquanto a provisão para devedores duvidosos deve permanecer em um nível alto para 2021″, avaliaram os analistas.

Após o evento, Fred Mendes, Lucca Brendim e Gustavo Tiseo, analistas do BBI, complementaram a sua análise, reforçando que a companhia está intensificando a sua estratégia de se tornar mais enxuta e digital. Eles destacam que o evento não trouxe grandes surpresas, mas mostrou que a empresa está se movendo principalmente na direção certa, o que deve significar resultados mais saudáveis em 2022, após dois anos de pressão.

“Ainda não temos o impacto preciso do  processo de reestruturação da empresa, mas os números iniciais parecem promissores. Os cursos de medicina sugerem tíquete médio próximo a R$ 7,1 mil (limite inferior comparado a outros players listados na Bolsa) enquanto as margens são de 36%. Para a Vasta, a empresa tem se beneficiado de sua nova estratégia de vendas digitais durante a crise, e devemos continuar a ver mais disso daqui para frente”, avaliam os analistas. Eles ainda ressaltam ser importante destacar que os ganhos da Plurall, plataforma digital de estudos, não estão no guidance preliminar para 2021 de valor de contrato anual (ACV, na sigla em inglês) de R$ 835 milhões.

Por outro lado, a respeito de ver um bom potencial no projeto da empresa, a equipe de análise avalia ser muito cedo para incorporá-lo nas estimativas. Assim, ele representará um plano que poderá elevar as projeções mais para frente. “Nós mantemos nossa recomendação neutra para a Cogna apesar dos números fortes de Vasta e, apesar de uma perspectiva de longo prazo um pouco mais brilhante em meio à reestruturação, os resultados da Kroton devem seguir pressionados no curto prazo”, avalia o BBI, que possui preço-alvo de R$ 6,50 para as ações, o que ainda configura um potencial de alta de 30% em relação ao fechamento da véspera.

Na mesma linha, estiveram as análises de duas instituições que mudaram recentemente a recomendação para os ativos COGN3, ainda que em sentidos opostos. O Morgan Stanley, que recentemente reduziu a recomendação de Cogna de overweight (exposição acima da média do mercado) para equalweight (exposição em linha com a média do mercado), apontou que a companhia está no caminho certo, mas sofre com desafios de curto prazo com o momentum fraco para a elevação de lucros (entre outros motivos, com a remodelação dos cursos presenciais) e devido à falta de potenciais fusões e aquisições em meio à alta alavancagem. Assim, prefere exposição direta à subsidiária Vasta, cuja ação é negociada na Nasdaq. O preço-alvo para o ativo é de R$ 6, ainda com potencial de valorização de 19,8% frente o fechamento da véspera.

Já o Bank of America, na última semana, elevou a recomendação dos ativos de underperform (desempenho abaixo da média do mercado) para neutra, com preço-alvo maior, de R$ 7 (potencial de valorização de 39,7%), justamente na expectativa pelo Cogna Day que, para os analistas Roberto Otero e Pedro Mariani, iria dar mais detalhes sobre o programa de reestruturação. Mas ainda fazendo a ressalva de que os lucros comprimidos e a ainda alta alavancagem ainda impediam uma visão mais otimista.

Após o Cogna Day, os analistas reforçaram a sua avaliação sobre a companhia, destacando que o anúncio ajuda a trazer confiança na recuperação, apoiando a recomendação no papel.

Vale ressaltar ainda que, no início de dezembro, após uma posição vendida desde agosto, a gestora Studio zerou a sua exposição vendida no papel (em que ganha com a queda das cotações das ações).  Apesar de definir os desafios de reestruturação da Cogna como “muito grandes”, a Studio optou por zerar a posição short por “não conseguir mais encontrar margem de segurança relevante para seguir carregando uma posição vendida após tão pronunciada queda”.

A avaliação da gestora e das casas de análise acima corrobora com a visão da maioria do mercado: segundo dados da Refinitiv, de 12 casas de análise que cobrem a ação da companhia, 8 recomendação manutenção, enquanto 3 recomendam venda e apenas 1 recomenda compra. Apesar disso, o preço-alvo médio para o ativo COGN3 é de R$ 7,03, um potencial de 40% em relação ao fechamento da véspera.

Depois da euforia pré abertura de capital da Vasta na Nasdaq em julho, em que COGN3 chegou a subir mais de 40% na B3 na hipótese de que o IPO geraria um valor adicional à empresa, até a forte baixa posteriormente em meio à alavancagem da Cogna como um todo e os resultados pressionados do ensino superior (Kroton), cautela agora é a palavra de ordem para os investidores da companhia. Depois de um 2020 conturbado, 2021 servirá para arrumar a casa, com a expectativa de colher bons frutos a partir de 2022.

O Stock Pickers recebe às 19h desta terça-feira (15) Breno Guerbatin e Rodrigo Wrobel, da Studio Investimentos, para falar de uma das operações de maior repercussão da casa neste ano: um short em Cogna. A gestora ficou vendida no papel entre julho e novembro – e ele caiu 50% no período. Para ser avisado sobre a live, clique aqui.

(com informações da Reuters)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.