Cinco anos após a quebra do Lehman Brothers, recuperação econômica ainda “engatinha”

Aniversário da crise mostra que economia dos EUA ainda caminha a passos lentos, enquanto Europa está longe de contornar crise

Lara Rizério

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SÃO PAULO – No dia 15 de setembro de 2008, os mercados amanheceram diferentes e, desde então, ainda não parecem ter voltado ao que eram antes. Naquele dia, o banco de investimentos Lehman Brothers, o quarto maior dos Estados Unidos, anunciou a concordata, um dia depois de falharem as negociações de compra da instituição.

O colapso do banco foi a “gota d’água”, levando a economia mundial a maior crise desde a Grande Depressão. Quando o Lehman  quebrou, a economia norte-americana já vinha sofrendo, há alguns meses, em meio ao subprime, ou os créditos imobiliários de alto risco.

Os subprimes envolviam também, além de crédito imobiliário, cartões de crédito e aluguel de carros e eram concedidos, nos EUA, a clientes sem que fosse comprovada a renda e/ou com histórico ruim de crédito. As dívidas eram “roladas”, fazendo com que a valorização dos imóveis se tornasse possível ao permitir que os mutuários obtivessem novos empréstimos de forma a liquidar os anteriores, em atraso, dando o imóvel como garantia. Contudo, a queda dos preços dos imóveis levou várias instituições para uma situação de insolvência e gerando os “créditos pobres”.

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Desta forma, muito se proclamou sobre o aumento da regulação dos mercados, com diversos especialistas destacando que os reguladores, banqueiros e agências de rating foram os grandes culpados pela crise. 

O professor de economia da Universidade de Nova York, Roman Frydman, em artigo no Project Syndicate, destacou que, seis dias antes do Lehman colapsar, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s manteve o grau de investimento da instituição financeira em A. Enquanto isso, a Moody’s também atribuiu bons ratings ao banco, poucas semanas antes que este pedisse concordata. 

Conforme aponta o professor, o quase colapso resultou de um fracasso da compreensão do funcionamento dos mercados financeiros dos modelos capitalistas contemporâneos e, mais amplamente, da instabilidade em economias capitalistas. 

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Cenário segue de cautela 
Além dos motivos para que a crise de 2008 tenha ocorrido e desencadeado uma grande quebra dos mercados por todo o mundo, vale notar o desenrolar dos acontecimentos pelo mundo. A crise atingiu principalmente a economia dos Estados Unidos e da Europa, continente que depois sofreu com a forte desaceleração econômica e passou a sentir os fortes efeitos da alta dívida, principalmente em países considerados periféricos, como a Grécia, o Chipre, além de ter efeitos sobre a Espanha, Itália e Irlanda.

E a crise continua produzindo efeitos na economia. Depois de um forte programa de estímulos, denominado Quantitative Easing, os Estados Unidos ainda patinam quando o assunto é crescimento econômico. Em maio, Federal Reserve anunciou que pode começar a reduzir o seu forte programa de estímulos, que injeta US$ 85 bilhões mensais, o que levou a um forte “sell-off” das economias emergentes neste ano. 

Estes mecanismos de estímulo, como destacado pelo fundador da Pimco, Mohamed El-Erian, traduz-se como um instrumento imperfeito de política uma vez que, toda vez que o Federal Reserve pensou ser possível sair do QE, em 2011 e 2012, anunciou ainda mais um QE; além disso, os resultados econômicos têm ficado bem abaixo das próprias expectativas da instituição.

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Neste cenário, aponta El-Erian, é provável que o Fed reduza o volume de compras, mas não por conta da melhora econômica expressiva dos Estados Unidos, mas sim por ver consequências negativas na própria economia, o que deve tornar o cenário bem mais complicado, principalmente para os países emergentes, mesmo levando em consideração algumas redes de proteção.

Enquanto isso, a Europa vem registrando dias de menor expressão no noticiário após a crise na região abrandar os mercados, em meio à ajuda aos países que sofreram em meio a forte dívida. Contudo, isso não quer dizer que a crise na região esteja perto do seu fim. Nesta data, o colunista do Financial Times, Wolfgang Munchau, afirmou que tem dúvidas de que, após cinco anos de crise, a Europa esteja perto de resolver a sua crise.

De acordo com ele, a União Europeia tem abordado a resolução dos seus problemas de forma institucional, mas não os verdadeiros problemas econômicos que se colocam. E esta abordagem, segundo Munchau, pode levar a uma ruptura do grupo. “Alguém tem estômago para aguentar uma recessão de dez anos?”, questionou, avaliando que os sinais de recuperação ainda são muito frágeis.

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Na última quarta-feira, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, viu com bons olhos os dados econômicos mais recentes, afirmando que os sinais de inversão da tendência econômica estão aparecendo. Porém, advertiu, os atuais níveis de desemprego ainda não permitem dizer que está ocorrendo uma recuperação econômica verdadeira. 

E os emergentes? Enquanto a China parece ter passado longe da crise dos países ricos, agora ela passa a dar sinais de que seu crescimento econômico bastante forte não deve durar “para sempre”, o que afeta outras economias emergentes. Neste caso, destaque para o Brasil, que “surfou” no boom dos preços de commodities dos últimos anos e que agora sofre com um menor crescimento. Ao que parece, os reflexos da crise ainda permanecem e ainda levarão muito tempo para serem totalmente apagados. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.