Cielo (CIEL3) interrompe rali e cai 7,7%, mesmo após balanço forte; companhia vê desafios, mas está confiante em suas operações

Companhia destacou ganhos operacionais e afirmou que margens só não melhoram mais por conta de irracionalidade do mercado

Vitor Azevedo

(Divulgação/Cielo)
(Divulgação/Cielo)

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A Cielo (CIEL3) divulgou nesta última segunda-feira (31) seu resultado do terceiro trimestre de 2022 que foi visto, por analistas com bons olhos. A companhia trouxe lucro e receita que, de forma geral, vieram acima daquilo que era esperado pelo mercado. Para o futuro, contudo, a empresa assume que pode encontrar mais dificuldades – mas acredita que está preparada para enfrentá-las.

Os papéis ordinários da Cielo tiveram perdas em boa parte da sessão e fecharam com queda de 7,73%, a R$ 5,49, nesta terça-feira (1). A baixa, porém, pode ser explicada por uma possível realização de investidores – nos últimos três pregões, as ações subiram 10%. Os ativos têm a maior alta do Ibovespa no acumulado do ano e, apesar da baixa de hoje, sobem cerca de 160%.

Entre os destaques negativos vistos pela empresa, e também pelos analistas, estão, principalmente, os desafios quanto ao crescimento receita e  a competição no setor de adquirentes.

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O volume total de pagamentos (TPV, na sigla em inglês), por exemplo, cresceu 23% na base anual, para R$ 221 bilhões. Na base trimestral o crescimento foi de apenas 0,1%, trazendo uma desaceleração, o que os executivos atribuíram à sazonalidade.

Para o próximo ano, a Cielo enxerga que o crescimento do TPV tende a desacelerar mais.

Segundo Filipe Augusto dos Santos Oliveira, diretor financeiro (CFO), a inflação decrescente, em 2023, pode ser negativa para a companhia, por, justamente, diminuir o volume total de transações. Além disso, o fato de a penetração dos cartões estar elevada na base histórica torna mais difícil um crescimento maior quando o assunto é clientes alcançados.

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Já quanto ao consumo das famílias, que também vem cambaleando, o executivo preferiu não traçar expectativas, por ser um fator difícil de se prever. Apesar de o endividamento estar alto, é possível que o recuo das taxas de juros impulsione maiores gastos dos consumidores.

O mesmo recuo das taxas de juros, de acordo com Oliveira, tende, do outro lado, a diminuir os gastos da Cielo com seu endividamento, além de retirar, parcialmente, certa pressão existente na frente do retorno de capital aos acionistas.

A relação e risco retorno de uma empresa aos seus acionistas considerada aceitável está diretamente ligado à taxa de juros do país – é esperado que a companhia, por oferecer mais risco do que títulos do Tesouro, pague mais do que a taxa básica.

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Segundo Cielo, margens não avançam mais por “irracionalidade do mercado”

“É importante dizer que quando pegamos a rentabilidade do setor hoje, a Cielo é a empresa mais acertada e mesmo assim ela está abaixo daquilo necessário para pagar o custo de capital dos investidores”, explicou o CFO. “Há uma necessidade de reprecificação das taxas, mas é difícil dizer agora se isso irá continuar ou não. Se o mercado fosse racional, Cielo poderia implementar margens maiores”.

A Cielo, neste momento, continuará observando seus pares e a avançar naquilo que já tem feito.

“Variações macroeconômicas e em termos de competitividade vão acontecer, mas estamos apresentando disciplina”, afirmou Estanislau  Mendes, diretor executivo (CEO) da Cielo.

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O novo modelo comercial da adquirente, com bastante foco em grandes contas e no varejo, segundo Estanislau  Mendes, por exemplo, vem se mostrando um sucesso.

“Estamos nos tornando muito mais eficientes. Conhecemos mais os clientes e apresentamos proatividade. Oferecemos serviços de pagamento mas também outros serviços com valor agregado, com softwares, por exemplo”, debateu o CEO.

A Cielo apresentou uma receita operacional líquida crescendo 12,4% na base anual, chegando a R$ 2,63 bilhões no consolidado. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) saltou 45,2%, para R$ 1 bilhão, com a margem saindo de 23% para 38,2%.

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A companhia, no último ano, repassou preços mas também avançou por conta do recuo de despesas, com menores subsídios aos clientes, e pelo ganho de espaço de serviços – aumentando a representatividade do cartão de crédito nas transações e da antecipação de recebíveis.

De acordo com a empresa, a ideia é continuar avançando na digitalização, conhecendo cada vez mais seus clientes e oferecendo os serviços que eles precisam.

Analistas destacam boas margens da Cielo

Os esforços da adquirente na frente operacional foram bem vistos pelo mercado.

O Credit Suisse definiu o resultado da Cielo como neutro, destacando, do lado positivo, a lucratividade da companhia.

“Do lado positivo, o lucro líquido recorrente de R$ 422 milhões, alta de 99% no ano e 10% no trimestre, superou o nosso consenso em cerca de 8%, confirmando mais um trimestre de sólida lucratividade”, abrem os especialistas da instituição suíça. “Do lado negativo, a qualidade dos resultados veio mais fraca, com TPV suave e receitas compensadas por menores impostos e custos operacionais”.

O Itaú BBA achou que o resultado foi mais forte do que o esperado e destacou o ganho de margens.

“As receitas comparáveis cresceram com um mix de melhores volumes (alta de 23% no ano) e taxas. A reprecificação passou, e uma maior participação de produtos financeiro aumentou o rendimento em 3 pontos-base anualmente”, defendem os analistas do banco brasileiro. “O mix de clientes continua a melhorar com o aumento do número de pequenos e medios negócios. As margens operacionais melhoraram, compensando a pequena perda de volumes”.

Do lado negativo, o BBA apontou a desaceleração do TPV e a estabilidade da base de clientes, com a companhia priorizando a qualidade ao invés da quantidade.

“Ainda assim, uma boa entrega geral, equilibrando crescimento com lucratividade, suporta estimativas otimistas”, expõe os analistas.

Já a Genial Investimentos aponta que o ambiente competitivo continua a proporcionar uma melhora na precificação, mas ainda veem um cenário de longo prazo com bastantes incertezas em relação ao ambiente competitivo, produtos (exemplo: PIX), regulação e novas tecnologias que podem impactar o resultado da empresa. “Por ora, acreditamos que a Cielo continue uma trajetória de recuperação dada a situação das concorrentes, mas parcialmente já precificado na bela performance das ações esse ano”, avaliam os analistas.

O Credit Suisse, por sua vez, tem recomendação outperform (acima da média do mercado, equivalente à compra) para as ações ordinárias da Cielo, com preço-alvo em R$ 7,50 (upside de 24,7% frente ao preço de abertura). O Itaú BBA tem a mesma recomendação, com preço-alvo em 6,50 (upside de 8,15%).

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