China não pode controlar preço do minério de ferro, diz CEO da Vale (VALE3)

Em entrevista para Bloomberg, Eduardo Bartolomeo disse estar confiante de que os preços continuarão a ser definidos pelo equilíbrio entre oferta e demanda

Bloomberg

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Bloomberg — A China pode ser o maior importador mundial de minério de ferro, mas mesmo essa posição não significa que o governo de Pequim tenha o poder de ditar os preços do insumo siderúrgico, disse o CEO da Vale (VALE3).

Os comentários de Eduardo Bartolomeo chegam em um momento em que a China parece intensificar sua batalha de décadas para aumentar o controle sobre o mercado de minério de ferro da Vale e de suas duas rivais australianas, a BHP e a Rio Tinto, que juntas dominam a produção global.

Um grupo centralizador das compras de minério de ferro, criado no ano passado para coordenar as negociações da enorme indústria siderúrgica do país, criticou nas últimas semanas os preços da commodity, que considera muito elevados, e defendeu um sistema de cotações aperfeiçoado.

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Enquanto isso, o principal órgão de planejamento econômico da China intensificou uma campanha para esfriar o rali do mercado neste ano.

Mas a Vale está confiante de que os preços continuarão a ser definidos pelo equilíbrio entre a oferta e a demanda, disse Bartolomeo em entrevista à Bloomberg News.

Para as mineradoras, isso é uma boa notícia, e o CEO prevê um mercado cada vez mais apertado no futuro. “A regra da economia irá guiar o preço, a regra significa oferta e demanda”, afirmou Bartolomeo em Londres, antes do encontro anual com investidores da empresa. “Eles não podem impor algo.”

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O minério de ferro desafiou as previsões de queda ao subir cerca de 16% nas últimas seis semanas, impulsionado pelos esforços do governo de Pequim para apoiar o setor imobiliário intensivo em aço, que enfrenta uma crise. O metal é negociado atualmente em torno de US$ 129 a tonelada e tem se mantido acima do patamar-chave de US$ 100 a tonelada neste ano.

A China, que produz mais da metade do aço mundial, alarmou a indústria do minério de ferro no ano passado quando criou a China Mineral Resources Group, a nova estatal que tenta aumentar sua influência sobre os preços. Há muito tempo Pequim se queixa de que as mineradoras detêm demasiado poder, já que a oferta está muito concentrada entre os três principais produtores.

Para a própria Vale, o minério de ferro é mais importante do que nunca.

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Depois de vender diversos ativos em setores como siderurgia e fertilizantes, a empresa agora colocou seu negócio de metais básicos em uma estrutura corporativa separada, com gestão autônoma, embora continue controlada pela Vale. Como resultado, a mineradora brasileira tem focado ainda mais no minério de ferro, há muito tempo sua maior e mais lucrativa divisão.

Bartolomeo assumiu o comando da Vale após o rompimento da barragem em Brumadinho em 2019, que resultou na morte de 270 pessoas.

Após a tragédia, a Vale perdeu o título de maior fornecedora de minério de ferro para a Rio Tinto. O mandato de Bartolomeo termina em maio, e o processo sucessório já começou.

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O executivo disse que uma decisão sobre a possível renovação deve ser feita com quatro meses de antecedência, e que ele deseja continuar como CEO. “É claro que quero ficar”, afirmou, adicionando que gostaria de ver os resultados da reestruturação que iniciou a partir de 2019.

Acordo saudita

No início deste ano, a Vale anunciou a venda de parte da empresa de metais básicos a investidores, incluindo a Arábia Saudita, que concordou em comprar uma fatia de 10% como parte dos esforços para diversificar os negócios além do petróleo, em um acordo que avaliou a unidade em US$ 26 bilhões.

A Vale passou anos em busca de opções para extrair mais valor para a divisão. A mineradora afirma que vai estudar opções para capitalizar a Vale Base Metals dentro de dois a três anos, quando projetos no Canadá, Brasil e Indonésia devem começar a amadurecer. A empresa vai precisar de até US$ 30 bilhões na próxima década para expandir o negócio.

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Os acordos potenciais poderiam incluir uma oferta pública inicial, bem como uma nova venda de participação. “Estamos abertos ao que criar mais valor”, disse o diretor financeiro da Vale, Gustavo Pimenta.

O cenário positivo de Bartolomeo para o minério de ferro se alinha com as projeções da Rio Tinto, a única empresa que produz mais do ingrediente siderúrgico. A Rio Tinto espera que a demanda aumente quase 25% até 2050, mesmo com o pico de consumo chinês.

Produtores de minério procuram novas áreas de crescimento depois de se apoiarem na forte demanda da China durante as últimas duas décadas.

A Vale, que atualmente vende cerca de 63% de seu minério de ferro para a China, pretende baixar esse percentual para menos de 50% com o objetivo de diminuir a dependência do país asiático. Bartolomeo, assim como o CEO da Rio Tinto, Jakob Stausholm, vê um pico da produção no país em breve, mas espera crescimento contínuo em outros mercados, especialmente na Índia e outras partes da Ásia.

Ao mesmo tempo, outras fontes de produção de minério de ferro serão limitadas até que uma nova e enorme mina na Guiné seja iniciada no final desta década. “O mercado está realmente apertado”, disse Bartolomeo. “Não há oferta chegando.”

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