Calote de empreiteira da Lava-Jato piora humor entre investidores

As maiores construtoras do país estão enfrentando um exame mais minucioso e condições mais duras para conseguir empréstimos ao tentar recorrer a mercados de crédito

Bloomberg

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SÃO PAULO – O calote da OAS, nesta semana, está aumentando a preocupação dos investidores de que a propagação do escândalo da Petrobras, que é controlada pelo Estado, possa causar mais problemas financeiros na indústria da construção.

As maiores construtoras do país estão enfrentando um exame mais minucioso e condições mais duras para conseguir empréstimos ao tentar recorrer a mercados de crédito em meio às acusações de que executivos da Petrobras aceitaram propinas em troca de contratos, segundo Ricardo Carvalho, diretor sênior da Fitch Ratings no Rio de Janeiro.

A OAS disse, em um comunicado enviado por e-mail no dia 3 de janeiro, que está vendendo ativos para tentar aumentar a liquidez. Uma unidade do Grupo Engevix está sendo processada em um tribunal do Estado de São Paulo por um fornecedor devido ao não pagamento de contas. A UTC Engenharia também estaria vendendo uma participação em um aeroporto porque não consegue acesso a linhas de crédito, publicou o jornal O Estado de S. Paulo.

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“A preocupação é de que o que começou apenas com a Petrobras possa se espalhar para o restante da economia”, disse Rogério Freitas, sócio da Teórica Investimentos, que tem sede no Rio de Janeiro, por telefone. “Você já vê problemas com as construtoras que têm contratos com a Petrobras. Isso também poderia implicar em problemas para os bancos que emprestam dinheiro para essas construtoras”.

A OAS, a Engevix, a UTC e outras 20 construtoras foram temporariamente proibidas de participar em novas licitações da Petrobras em meio à maior investigação de corrupção da história do Brasil, disse a empresa petrolífera com sede no Rio de Janeiro no dia 29 de dezembro. Executivos de algumas das empresas foram presos no ano passado porque teriam pago propinas para garantir contratos com a Petrobras, que é a petroleira de capital aberto mais endividada do mundo.

A OAS e a Engevix preferiram não comentar. A UTC não respondeu a pedidos de comentário enviados por e-mail.

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“A última coisa que empresas do setor de construção queriam ouvir no momento era a respeito de um default de uma concorrente”, disse Carvalho, em entrevista por telefone. “O fato traz mais preocupações e cautela para o setor como um todo”.

Mais calotes ou problemas de fluxo de caixa de construtoras poderiam acarretar consequências de grande porte, afetando projetos de infraestrutura como rodovias, aeroportos e hidrelétricas em todo o Brasil.

A OAS está tentando vender sua participação no grupo que opera o aeroporto de Guarulhos, segundo quatro fontes familiarizadas com a situação, que pediram anonimato porque as negociações são privadas. A Engevix está negociando a venda de sua unidade de energia, a Desenvix, por R$ 500 milhões (US$ 186 milhões), para ajudar a financiar projetos e evitar que a dívida aumente, disse outra fonte familiarizada com o assunto.

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Ainda que os investidores estivessem cientes de que as construtoras estavam passando por um aperto de crédito, a velocidade com que a OAS deu o calote em sua dívida foi surpreendente, disse Albano Franco, sócio responsável pela área de crédito do BTG Pactual Asset Management em São Paulo. A gestora tem US$ 1,5 milhão em bonds emitidos pela construtora.

“Isso mostra a dificuldade da empresa em acessar linhas de crédito no mercado local em um momento em que o mercado externo de dívida está fechado para companhias brasileiras como um todo”, disse Franco, em entrevista por telefone, de São Paulo.

Os US$ 400 milhões em notas da OAS com vencimento em 2021 caíram 18 centavos nesta semana, para 14 centavos de dólar, depois que a empresa disse que não pagaria US$ 16 milhões em cupons com vencimento no dia 2 de janeiro. No dia 5 de janeiro, a empresa não pagou os juros e o valor do principal de R$ 100 milhões em um montante de debêntures que inicialmente tinham vencimento fixado para 2016.

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A OAS disse no e-mail de 3 de janeiro que está em negociações com alguns de seus principais credores para uma reestruturação financeira.

Nem todas as construtoras enfrentam os mesmos riscos que a OAS, que também tem participações em estádios da Copa do Mundo, disse Eriko Miyazaki-Ross, analista de crédito da Barclays Plc em Nova York.

“A OAS, diferentemente de seus pares, tem operações menos diversificadas”, escreveu Miyazaki-Ross em um e-mail de resposta a perguntas. A Odebrecht SA, por exemplo, tem projetos na Europa, na África e nas Américas, incluindo a expansão do aeroporto de Miami e a extensão de uma rodovia na Califórnia.

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A unidade de construção da Odebrecht, a Construtora Norberto Odebrecht, disse em um e-mail que não tem necessidade de acessar os mercados de capital após terminar 2014 com uma posição de dívida líquida negativa.

Mesmo que realizem operações mais saudáveis, não há garantias de que outras empresas não passarão pelos mesmos problemas da OAS, disse Greg Saichin, chefe de dívidas de mercados emergentes internacionais da Allianz Global Investors.

“Nós acreditamos que a OAS é um caso isolado neste momento”, escreveu Saichin em um e-mail. Ainda assim, “o potencial de um contágio mais amplo existe, dado o baixo nível de liquidez, de forma geral, para crédito de mercado emergente com grau especulativo”.

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