C&A (CEAB3), SBF (SBFG3) e Soma (SOMA3): o que as varejistas de “destaque” do terceiro trimestre estão fazendo de diferente?

Implementação de novas tecnologias, melhor eficiência operacional e controle do capital de giro estão entre os diferenciais

Vitor Azevedo

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Que 2023 não está sendo o melhor ano para as varejistas brasileiras, já é sabido. Juros altos e a renda das famílias comprometida pela inflação impactam o faturamento das companhias, bem como os gastos financeiros. Mas há as empresas que vêm destoando, apesar do cenário macroeconômico.

No terceiro trimestre, os destaques positivos após as publicações dos resultados no período, ficaram para a C&A (CEAB3), para a SBF (SBFG3), dona da Centauro, e para o Grupo Soma (SOMA3), dono da Farm. As ações da primeira subiram mais de 18% no pregão seguinte à divulgação do seu balanço, as da segunda, 22%, e as da terceira, quase 7%.

Especialistas, ao serem indagados sobre o assunto, respondem que as três companhias têm estratégias diferentes – mas que vêm, também, apresentando algo em comum.

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“Se olhar para as três companhias, vai perceber que elas fizeram muito bem aquilo que já falávamos que iria acontecer no começo do ano, que é o back to fundamentals”‘ diz Ana Paula (Popy) Tozzi, CEO da AGR Consultores, especializada em varejo.

“Elas foram além do back to basics e entregaram coisas que parecem simples, como comprar bem dos fornecedores, tanto em preço quanto em variedade, assertividade, gerenciar lojas de maneira que dê resultado e por aí vai. Tudo traz resultado”, completa.

Com os juros altos, o custo de capital ficou maior e, já há algum tempo, diversas varejistas começaram a priorizar resultados. Passou a ser normal ver executivos falando em foco no ganho de margem, de produtividade e de melhorias logísticas. Quando os juros estão mais baixos, não é raro as empresas deixarem a lucratividade de lado para priorizarem fatores como fatia de mercado.

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A C&A, por exemplo, vêm trazendo duas frentes de atuação. Um de eficiência operacional, com gestão de custos e de despesas, melhorias em logística e de crescimento do seu canal eletrônico.  Outra diferença é que ela vem trazendo um cuidado enorme com suas coleções, com melhor mix de categoria”, explica a especialista.

C&A e o “push and pull”

Para Popy, o destaque, em grande parte, fica para a implementação do sistema push and pull. Esse tipo de venda consiste, como o nome já diz, em entender as demandas dos clientes, o “puxa”, e a entregar – ou empurrar – produtos que as atenda, melhorando as vendas e, mais do que isso, criando uma fidelização.

“É um modelo de gestão super complexo, mas muito mais assertivo, que eles vêm adotando. Você faz o acerto do estoque com uma reposição mais frequente e consegue entender o perfil de consumo de cada loja, contado com a tecnologia, machine learning e por ai vai”, diz.

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Os comentários de analistas de ações vão na mesma linha.

“A companhia segue colhendo frutos de estratégias adotadas num passado recente, como o push and pull e a precificação dinâmica, que levaram a margem bruta para patamares acima do ano de 2019. A C&A vem mostrando também um excelente controle de despesas, com a participação de SG&A [despesas com vendas, gerais e administrativas, na sigla em inglês] atingindo 35% da receita, contra 38% um ano antes”, debateu Lucas Lima, analista da VG Research

O Bradesco BBI, após a divulgação do resultado do terceiro trimestre, disse que a varejista “apresentou outro conjunto de resultados sólidos”, mantendo a tendência de melhoria de resultados desde o último trimestre de 2022.

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“Os resultados ficaram acima das expectativas no faturamento e na rentabilidade, com boa geração de caixa (a dívida líquida reduziu R$ 142 milhões no trimestre)”, avaliou a casa.

O banco apontou que a C&A foi o único player de lojas de departamentos de vestuário que apresentou crescimento e expansão de margem no terceiro trimestre.

Grupo Soma traz melhora operacional

No caso do Grupo Soma, a CEO da AGR Consultores explica que grande parte do diferencial que a empresa apresentou ficou para o aperfeiçoamento de operações.

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“O trabalho de back-office das marcas, principalmente na logística, tem trazido bons resultados, com melhora na velocidade, na eficiência e com custos menores”, diz.

A equipe da XP, por exemplo, apontou na época da publicação que a varejista reportou resultados acima do esperado no terceiro trimestre.

Apesar do desempenho de receita e margem bruta em linha com as suas projeções, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, na sigla em inglês), de R$ 213 milhões, e o lucro líquido, de R$ 96,1 milhões, vieram acima do que a corretora esperava, “devido a menores despesas com SG&A, resultados financeiros e despesas com impostos”.

O time do Itaú BBA trouxe opinião parecida, destacando que a varejista teve rentabilidade ligeiramente melhor do que suas expectativas. O Bradesco BBI falou que o Grupo reportou números  acima das expectativas consideravelmente baixas do consenso e antecipou que isso poderia se refletir no preço da ação.

“Outro destaque positivo ficou para rentabilidade da marca Hering, que reportou crescimento de 1,1 ponto percentual da margem bruta na comparação anual, refletindo, principalmente, menores custos de matérias-primas, fábricas mais efetivas e mais vendas de produtos com preço cheio”, acrescenta Lima, da VG Research.

Fora isso, o Grupo Soma vem tentando associar elevar o preço das roupas básicas da Hering, reposicionando a marca para um segmento um pouco mais premium.

“Estão buscando uma recuperação de valor. Tentar voltar com a Hering com seu antigo diferencial competitivo, que é moda básica de qualidade. Isso, necessariamente, passará por um reposicionamento de preço”, contextualiza Ana Paula Tozzi.

SBF tem reviravolta frente ao segundo trimestre diminui estoques

Popy, por fim, destaca que o SBF vem fazendo um bom trabalho na frente de marcas.

“É quem está testando o H&M no Brasil, por exemplo”, fala, em relação à marca sueca de fast fashion e com proposta semelhante à Zara que vem entrando no país através do marketplace da SBF.

“Ela está testando novas marcas, novos segmentos. Isso é super importante para que perca aquela coisa exclusiva de trabalhar só com o esporte. Com isso consegue estar no carrinho do cliente com mais frequência e com mais variedade”, contextualiza, citando também o trabalho de eficiência da companhia.

Já Caroline Sanchez, analista de varejo da Levante, chama a atenção para o fato de que o segundo trimestre da companhia foi muito ruim.

“Ao contrário do período que vai de abril a julho, o principal destaque que a gente viu foi um Ebitda bem acima do esperado, devido a alavancagem operacional e também aos ajustes que foram sendo realizados ali ao longo do primeiro semestre.  “Isso resultou em uma melhora nas despesas de SG&A”, explica.

Outro destaque trazido pela companhia, de acordo com Sanchez, foi a queima de estoque. A dona da Centauro partiu para um markdown mais forte, ou seja, diminuiu preços para aumentar o faturamento, trazendo lucro melhor, maior geração de caixa e desalavancagem.

A receita líquida, com isso, alcançou R$ 1,79 bilhão entre julho e setembro, representando uma alta de 22% em relação ao mesmo período de 2022, enquanto o lucro líquido cresceu 61,4% na mesma base, para R$ 55,3 milhões. A geração de caixa foi de R$ 115 milhões, revertendo o consumo de R$ 70,7 milhões de um ano antes.

O Bradesco BBI, após o balanço, foi na mesma linha, definindo os resultados como “surpreendentes”.

Os analistas do banco apontaram que as principais linhas melhoraram sequencialmente, embora ainda sob pressão. O crescimento anual das vendas líquidas de 22% foi uma recuperação frente a alta de 8,9% no segundo trimestre – e acima das projeções da casa – impulsionado principalmente pela recuperação do canal atacadista Fisia (Nike), que reverteu da contração de 20,6% para uma alta de 18,4%.

“A expansão da margem Ebitda ajustada de 2,40 pontos percentuais ficou dois pontos acima de nossas expectativas, impulsionada principalmente pela alavancagem operacional e despesas gerais e administrativas controladas (aumento de 9%, enquanto as receitas aumentaram 22%)”, acrescentam.

Por outro lado, o BBI pondera que a consistência continua a ser fundamental e espera que os investidores permaneçam monitorando a capacidade da empresa de melhorar de forma sustentável a conversão de caixa tanto em termos de capital de giro como de rentabilidade.

“Com a Black Friday se aproximando, há o otimismo do Grupo SBF reduzir ainda mais o nível de estoque com os descontos que serão oferecidos. Com isso, esperamos uma melhora na dinâmica de capital de giro e geração de caixa no próximo ano”, fala Lucas Lima, da VG.

Hoje, as ações ordinárias da SBF têm seis recomendações de compra segundo o Eikon, da Reuters, com preço-alvo médio em R$ 14,70, upside de 44,1% frente ao fechamento de ontem. Os papéis da C&A tem uma recomendação de compra, com cinco neutras e uma de venda, e preço-alvo médio em R$ 6, downside de 25,9%. Os papéis do Soma, por fim, têm 10 recomendações de compra e uma neutra, com a média do alvo em R$ 11, upside de 66,6%.

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