BRF (BRFS3) reforça visão do “básico bem feito” e usará venda de ativos para reduzir dívida; ações fecham em alta de 5,36%

Nova gestão da companhia defendeu foco em sua operação principal e quer recursos de ativos não-essenciais para diminuir sua alavancagem

Rikardy Tooge

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Na teleconferência de resultados do terceiro trimestre de 2022, realizada em novembro, o CEO da BRF (BRFS3), Miguel Gularte, repetiu por diversas vezes que a empresa precisava “back to the basics. Em bom português, focar em seu negócio principal, a produção e venda de carne de frango e suíno, em detrimento de outros investimentos.

Passado um trimestre, a companhia dona da Sadia e da Perdigão incorporou a orientação de sua nova administração, encabeçada pela Marfrig (MRFG3), e caminha para um retorno ao básico. Prova disso foi o anúncio de que está em curso um plano de desinvestimentos que pode levantar até R$ 4 bilhões ao caixa da BRF.

A despeito de um prejuízo de R$ 956 milhões no quarto trimestre de 2022, o projeto de venda de ativos foi bem avaliado pelo mercado, já que a BRF iniciou o pregão desta quarta-feira (1) subindo forte e chegando à máxima de 13,47% de alta, a R$ 6,99. Os papéis amenizaram os ganhos, mas ainda fecharam com valorização de 5,36%, a R$ 6,49, enquanto o Ibovespa fechou em queda de 0,52%.

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O destaque do pipeline de desinvestimento é a operação de pet food, que a companhia havia feito pesados investimentos nos últimos anos. A gestão da BRF sinaliza que recebeu “sondagens interessantes” pelo negócio e o mercado avalia que é possível arrecadar R$ 2 bilhões. O capital restante do plano viria da negociação de outros ativos não-essenciais e créditos tributários.

O recurso, afirma o CFO Fábio Mariano, será utilizado para amortizar a dívida da BRF. “Toda e qualquer injeção de liquidez da companhia será destinada para reduzir o endividamento”, reforçou Mariano, em teleconferência com analistas nesta quarta-feira. Vale destacar que a companhia encerrou 2022 com dívida líquida estimada em R$ 14,6 bilhões.

Na avaliação do executivo, existem oportunidades para a BRF quitar parte de seus títulos de dívida no mercado secundário com um “bom desconto”. Cerca de 80% do endividamento da companhia está no mercado de capitais.

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Além de focar no core business, a venda de ativos considerados não-essenciais visa a redução da alavancagem da empresa, que terminou 2022 em 3,75 vezes a dívida líquida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebtida, em inglês).

A gestão da BRF informou que o objetivo da companhia é alcançar o índice de 2 vezes Ebitda. No entanto, o CFO lembra que a redução será gradual e não deu guindance (projeção) de quando poderá chegar neste índice. De qualquer forma, o pipeline de desinvestimentos consegue acelerar essa desalavancagem.

“São operações de execução rápida que melhoram nossa estrutura de capital e a permitem a desalavancagem”, afirmou Fábio Mariano.

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Desempenho misto nas vendas

Nas vendas de produtos, o CEO da BRF, Miguel Gularte, apontou o crescimento do Ebitda das vendas no mercado brasileiro entre trimestres, de R$ 458 milhões no terceiro trimestre de 2022 para R$ 685 milhões no quarto trimestre, com a margem avançando 2,1 pontos percentuais, para 8,8%. Em relação a igual período de 2021, o resultado foi inferior aos R$ 865 milhões de Ebitda e 12% de margem.

Para o Credit Suisse, tanto o resultado no Brasil como o maior volume comercializado no exterior ajudaram a compensar a queda no preço de exportação de carne de frango. Por outro lado, os preços mais altos da soja (insumo fundamental na alimentação de frangos e suínos), juntamente com as pressões inflacionárias, resultaram em uma compressão de margem bruta.

O Itaú BBA destacou que o Ebitda ajustado da BRF veio 10% abaixo de sua estimativa, para algo em torno de R$ 1 bilhão. A quebra nos números consolidados deveu-se sobretudo às unidades de negócio internacional, na sequência da normalização dos spreads de exportação. Por outro lado, a divisão brasileira superou as estimativas em 26% com lucratividade acima do esperado.

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No contexto internacional, a BRF apontou uma grande pressão nas margens obtidas na Turquia, um dos principais mercados de frango halal da companhia, por conta do cenário de hiperinflação. No quarto trimestre de 2022, o Ebitda da operação halal somou R$ 245 milhões, ante R$ 301 milhões de um ano antes, com a margem ajustada recuando de 12,4% para 4,5% no mesmo período.

A XP destacou que 2022 foi “um ano para a BRF esquecer”, diante de um prejuízo líquido de R$ 3,2 bilhões no exercício, revertendo um lucro líquido de R$ 517 milhões de 2021. Em uma nota positiva, a melhora nos indicadores operacionais, com captura de R$ 210 milhões em eficiências, foi considerado um bom alento.

“Ainda assim, o macro manterá as finanças da BRF estressadas e a alavancagem líquida de 3,75x nos manterá acordados à noite”, afirmam os analistas da XP.

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O Credit Suisse tem recomendação outperform (equivalente à compra) para a BRF, com preço-alvo de R$ 22 por ação. O Itaú BBA tem orientação market perform (neutro), com valor-justo de R$ 9 por papel. A XP tem recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 20,60.

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Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br