BRF (BRFS3), Minerva (BEEF3), JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3): o que esperar dos resultados das companhias?

Frigoríficos com maior exposição aos EUA, como JBS e Marfrig, devem ser novamente o destaque positivo, mas Minerva também pode se destacar

Lara Rizério

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A temporada de resultados ganha força nesta semana e, entre os setores que começam a divulgar seus resultados, estão o de proteínas, com Marfrig (MRFG3) inaugurando a temporada, divulgando os dados no próximo dia 3, após o fechamento do mercado, enquanto BRF (BRFS3) revela seu resultado na sessão seguinte, dia 4 de maio.  Já JBS (JBSS3) e Minerva (BEEF3) têm divulgação prevista para 11 de maio.

Cabe ressaltar que as ações das companhias registram um movimento bem distinto na Bolsa brasileira neste ano: enquanto BRF registra uma das maiores baixas do Ibovespa no acumulado de 2022, com queda de cerca de 42%, Marfrig tem desvalorização de 12% até o começo da tarde desta segunda-feira (2). JBS, por sua vez, tem perdas de 2%, enquanto Minerva é o maior destaque positivo, com avanço de 25%.

As recentes revisões de recomendação ajudam a explicar essa diferença de desempenho, que podem ser reiteradas com a divulgação dos resultados até a próxima semana.

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O Morgan Stanley, por exemplo, mantém sua preferência pelas ações da Minerva (BEEF3) no setor, destacando que ela possui a melhor narrativa com exportações, escala, menor risco externo, além de possui um fluxo de caixa forte e uma diversificação geográfica. A recomendação é overweight (exposição acima da média do mercado), com preço-alvo de R$ 20, ou potencial de valorização de 52% frente o fechamento de sexta-feira.

O Itaú BBA também tem recomendação equivalente à compra para a Minerva, com preço-alvo de R$ 16 ao fim deste ano, ou upside de 22%. “A empresa possui grande exposição na América do Sul através da Athena. Entendemos que a exposição ao mercado brasileiro pode ser favorável para a empresa com a entrada de um ciclo mais positivo na região. Somado a esse fator, acreditamos que a Athena deve continuar performando bem na região, impulsionada principalmente pela operação do Uruguai, que deve mitigar o desempenho mais fraco das operações do Paraguai e da Argentina”, apontou o BBA.

No mesmo relatório, contudo, o BBA reiterou a JBS como preferida do setor com preço-alvo de R$ 54 por ação. Dada a diversificação regional da companhia e sua forte conversão de Ebitda-to-FCFE (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, na sigla em inglês, em fluxo de caixa para o acionista), os analistas entenderam que os impactos da virada de ciclo nos EUA não terão grandes efeitos para a empresa. Além disso, a companhia tem conseguido alocar seu capital nas três frentes possíveis (recompras, dividendos e aquisições) ao mesmo tempo em que tem conseguido desalavancar suas operações, apontaram.

Por outro lado, reduziram sua recomendação para Marfrig de “compra” para neutra, com preço-alvo de R$ 26, destacando que as incertezas de médio prazo relacionadas à maior concentração das operações da empresa nos Estados Unidos e à virada de ciclo na região nos trazem maior cautela.

“Além disso, avaliamos que as margens nos Estados Unidos retornando à normalidade e os investimentos feitos na BRF podem causar um aumento no endividamento da companhia e reduzir sua competitividade frente a outros nomes do setor”, apontou o BBA.

O que esperar para os balanços? 

Já sobre a BRF, recentemente, em meados do mês passado, o Goldman Sachs reduziu a recomendação para as ações de neutra para venda, com o preço-alvo sendo reduzido de R$ 21,40 para R$ 14,50. “Embora reconhecendo o potencial de crescimento de longo prazo, o forte valor da marca Sadia e Perdigão, e a qualidade dos ativos operacionais, notamos que o impulso dos lucros perdeu força e acreditamos que isso pode pesar no desempenho da ação nos próximos 12 meses”, explicam os analistas.

Além disso, o banco elenca outros fatores como a inflação de custos, que não está mostrando sinais de normalização, o cenário ruim para o consumo doméstico, o espaço limitado para o repasse dos preços, com consumidores já optando por categorias de proteínas mais baratas, e a concorrência intensa.

Antes dos resultados, o Bradesco BBI atualizou as suas estimativas para a BRF, mantendo a recomendação de compra, mas reduzindo o preço-alvo de R$ 32 para R$ 27, devido ao impacto negativo da recente valorização do real frente ao dólar (ainda que em grande parte revertida nas últimas sessões), afetando a rentabilidade das exportações, e o efeito negativo do aumento da taxa de desconto devido às estimativas para a taxa livre de risco e risco-país.

“Além disso, reduzimos significativamente nossas estimativas para os resultados do 1T22, pois nossas fontes setoriais indicaram que o excesso de oferta de carne suína, frango e alimentos processados resultou em descontos significativos, levando nossa estimativa de Ebitda para o 1T22 35% abaixo do consenso”, aponta o banco, com projeção de Ebitda a R$ 638 milhões.

No entanto, reforçam a recomendação de compra apontando que o cenário está mais do que precificado nas ações. Além disso, esperam que as margens melhorem nos próximos trimestres, pois refletem uma recuperação nos preços spot domésticos de frango (aumento de 24% no ano e 40% acima do fundo diário no 1T22) e suíno (aumento de 4% no ano e 32% acima do que o fundo diário no 1T22), provavelmente porque a indústria cortou a produção para reverter o excesso de oferta, enquanto os custos de grãos também mostraram um leve alívio (os preços estimados de alimentação spot caíram cerca de 2% no acumulado do ano).

Leia mais: Confira o calendário de resultados do 1º trimestre de 2022 da bolsa brasileira

Para o Itaú BBA, o ambiente de consumo desfavorável no Brasil somado ao aumento de custos deve manter a pressão nas margens (rentabilidade) da companhia no 1T22. “Dito isso, entendemos que a empresa deverá reportar um cenário ainda desafiador”, avalia. Na divisão brasileira, a dinâmica de oferta e demanda deverá se configurar como principal detratora de margem. A redução da demanda por conta da variante Ômicron no começo de 2022 desestabilizou a dinâmica de oferta resultando em um ambiente competitivo mais agressivo. Já na divisão internacional, a desaceleração da demanda Chinesa e os maiores custos para a operação Halal devem ser os principais destaques do resultado.

A XP , projeta que a BRF seja o ponto baixo no trimestre devido às pressões de custos e à piora das perspectivas macro, afetando negativamente o poder de precificação da empresa. Os analistas da casa possuem recomendação neutra para BRFS3, enquanto têm JBSS3 como top pick e possuem recomendação de compra para MRFG3.

No caso da JBS, a XP espera que mais uma vez a companhia mostre força em sua diversificação geográfica e de proteínas, e as operações nos EUA juntamente com as operações de carne bovina no Brasil mais do que compensarão a operação mais fraca da Seara no trimestre. Já a Marfrig deverá resultados fortes e acima dos níveis históricos, impulsionados pelas operações nos EUA, mas também devido aos bons resultados na América do Sul, para as quais projetam margens melhores tanto na comparação anual quanto trimestral.

Para o Itaú BBA, tanto no caso da JBS quanto para a Marfrig, a maior importância do mercado norte-americano para essas empresas permite que elas se beneficiem do momento de reabertura econômica e do bom ambiente de consumo que vem sendo desenhado na região. Além desse fator, também veem ao longo do trimestre uma boa relação dos spreads, ou seja, a diferença entre o preço que os frigoríficos conseguem comprar o gado versus o preço que conseguem vender as carcaças, possibilitando uma expansão do Ebitda de 38% para a JBS e de 52% para a Marfrig, de acordo com suas estimativas. Já a divisão brasileira das duas companhias será afetada pela baixa disponibilidade de gado no Brasil, resultando em um custo mais elevado, e por uma apreciação do real no período, pressionando a rentabilidade.

Já com relação à Minerva, o BBA espera que a maior exposição ao mercado brasileiro deve segurar a escalada nos resultados positivos da companhia quando comparada à JBS e à Marfrig. A menor disponibilidade de gado no mercado doméstico deverá manter o custo do gado em patamares elevados, reduzindo o potencial de crescimento da empresa.

“Por outro lado, a divisão Athena deve mais uma vez apresentar resultados acima dos números históricos puxados principalmente pelos preços positivos de exportação e por uma disponibilidade de gado benéfica ao negócio. Apesar das restrições argentinas terem impactado os volumes operados pela divisão, entendemos que um aumento nos preços mitigue esse ponto”, avaliam os analistas do banco.

Confira as recomendações dos analistas para as ações de empresas de proteínas, segundo consenso Refinitiv:

Empresa Compra Neutra Venda Preço-alvo médio Upside
BRF 5 6 2 24,57 80,93%
JBS 13 2 0 51,7 36,59%
Marfrig 8 7 0 30,99 65,28%
Minerva 9 4 0 15,89 21,02%
*em relação ao fechamento de sexta-feira, 29 de abril

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.