Brasil precisa recuperar a credibilidade para “postergar” rebaixamento, diz Barclays

De acordo com o economista Marcelo Salomon, políticas monetária e fiscal devem andar juntas; Brasil deve crescer 2,7% em 2013 e 2,2% no próximo ano

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O Brasil tem que recuperar a credibilidade para que o mercado volta a investir no Brasil, avalia o economista-chefe para a América Latina do Barclays, Marcelo Salomon, que prevê uma desaceleração do crescimento econômico nacional entre 2013 e 2014. Para este ano, a expectativa do banco é de que o crescimento tenha uma alta de 2,7%, para um crescimento menor de 2,2% no próximo ano.

E, de acordo com o economista, a expectativa é de que haja um rebaixamento de rating do Brasil por agências de classificação de risco já por volta do primeiro trimestre deste ano. Os fatores por trás do downgrade são a incapacidade da economia crescer associada à deterioração da política fiscal. 

Por outro lado, o fato do Banco Central brasileiro estar mais agressivo no aperto monetário em meio à preocupação com o cumprimento das metas de inflação, é um fator positivo. “O BC sinalizou que não há patamar sagrado para a elevação da taxa Selic e que ela pode subir para um valor acima de dois dígitos.

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De modo a ajustar as estimativas com relação à última ata do Copom (Comitê de Política Monetária), o economista elevou a sua projeção para Selic para 10,25% antes de começar a baixá-la, ante uma perspectiva de elevação para 9,75%. A expectativa é de que haja uma elevação na 50 pontos-base na próxima reunião de 27 de novembro com um novo ajuste para cima no próximo encontro em janeiro de 2014. 

Ainda com relação à perspectiva do Brasil ter sua nota de crédito reduzida, Salomon acredita que ela se dará muito mais percepção da qualidade da política do País do que pela sua solvência. O economista ressalta que a tendência é de haja uma diminuição do déficit de conta corrente em relação ao PIB, o que é positivo na percepção do investidor internacional. Porém, em meio às incertezas com relação à economia e a percepção de um excessivo intervencionismo estatal podem diminuir o apetite dos investidores ao País.

De acordo com o economista, para que se postergasse a percepção de risco com relação ao Brasil e adiar um possível rebaixamento, o governo teria que anunciar um programa para mudança do rumo da política fiscal, que convergisse para o mesmo sentido da política monetária. Um programa de metas para o superávit primário, sem contabilidade criativa nem contabilização de receitas extraordinárias seria um ponto positivo para que o Brasil recupere a credibilidade. 

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“Isto postergaria o ‘downgrade’, uma vez que a perspectiva negativa sinaliza que as políticas estão desalinhadas. O governo perdeu a credibilidade, em meio à angústia e preocupação de que o PIB não desacelere ao invés de de fazer as alterações que o mercado gostaria de ver”, aponta. 

Contudo, ele não acredita que haverá mudanças muito expressivas no Brasil no sentido de reformas tributárias e previdenciárias de modo a mudar a expectativa para o PIB potencial para o Brasil, que demandaria um espaço de tempo muito maior e mudanças mais expressivas na produtividade e elevação da poupança pública brasileira. 

Pós-eleições marcarão mudanças no lado fiscal
Com relação às eleições de 2014, Salomon avalia que, em qualquer cenário – independentemente de quem ganhar o pleito, haverá uma mudança na condução da política fiscal.

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Caso a Dilma ganhe, o que parece ser o caso mais provável de acordo com as pesquisas, a expectativa é de que o rating seja rebaixado; neste cenário, a perspectiva é de que Dilma perceba que o seu modelo de política adotada até o momento não foi bem sucedido e passe a mudar a condução de suas políticas, aponta.

E o mercado de trabalho pode ser um dos fatores-chave para a popularidade da atual presidente. Salomon enxerga uma mudança estrutural no mercado de trabalho, com uma PEA (População Economicamente Ativa) menor em meio ao menor número de trabalhadores com menos de 16 anos no mercado de trabalho, que voltará a ele mais capacitado. 

Porém, a capacidade atual bastante baixa de gerar capital humano é um grande risco e pode levar à deterioração do mercado de trabalho, mesmo se o PIB crescer. Ele cita o exemplo da indústria que, mesmo sem ter um grande crescimento e ver a sua mão-de-obra mais cara, passou a segurar a sua força de trabalho. Porém, o temor é de que, sem a elevação da produtividade, a margem de rentabilidade do setor seja contraída que tenha que haver demissões mesmo com um crescimento do PIB.

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Assim, a expectativa é de que as concessões de crédito caiam e, consequentemente, haja um ritmo menor de atividade. “Este é um dos pontos cruciais para a popularidade de Dilma Rousseff”, avalia.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.