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Se o resultado do terceiro trimestre de 2022 (3T22) Santander Brasil (SANB11) divulgado no fim de setembro já tinha decepcionado os investidores, os números apresentados pelo Bradesco (BBDC4) na noite da véspera seguiram a tendência, com dados que decepcionaram e muito o consenso do mercado e levaram a novas revisões de recomendações para baixo.
Isso em um contexto em que as projeções para o segundo maior banco privado do país já tinham sido reduzidas com uma visão de piora da qualidade do crédito, o que suscitou revisões de recomendação para BBDC4 no mês passado pelo JPMorgan e pelo Itaú BBA.
Na noite da última terça-feira (8), o Bradesco reportou uma queda surpreendente no lucro do terceiro trimestre, com rápida piora na qualidade da carteira de crédito levando a ampliar as provisões para perdas esperadas com calotes, cenário que deve durar até 2023.
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O lucro recorrente do período foi de R$ 5,22 bilhões, queda de 22,8% ante mesma etapa de 2021 e bem abaixo da previsão média de analistas consultados pela Refinitiv, de R$ 6,76 bilhões. A rentabilidade sobre o patrimônio, que mede como um banco remunera o capital de seus acionistas, desabou 5,1 pontos percentuais no comparativo anual, para 13%.
Em meio aos números decepcionantes, o início da manhã desta quarta-feira (9) já apontava para uma sessão muito negativa para o Bradesco, como indicavam os seus ADRs (American Depositary Receipts, na prática, os ativos negociados na Bolsa americana) caindo cerca de 10%.
Os ativos BBDC4, por sua vez, abriram em queda de cerca de 10% e, ao longo do dia, passaram a ter perdas ainda mais expressivas, fechando em queda de 17,38%, a R$ 15,35. Segundo levantamento de Einar Rivero, do TradeMap, esta é a maior baixa diária para a ação desde 10 de setembro de 1998, quando os papéis desabaram 19,49%. Com isso, o valor de mercado da instituição “evaporou” R$ 30,69 bilhões, indo de R$ 183,19 bilhões para R$ 152,5 bilhões em só um pregão, também segundo a TradeMap.
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Com uma visão mais pessimista para as operações de crédito, o Bradesco fez uma provisão extraordinária para perdas (PDD) de cerca de R$ 1 bilhão no terceiro trimestre. De julho a setembro, essa provisão do banco deu um salto de 116,4% ano a ano, para R$ 7,27 bilhões. Além disso, elevou a estimativa dessas provisões para o acumulado de 2022, da faixa de R$ 17 bilhões a R$ 21 bilhões, para R$ 25,5 bilhões a R$ 27,5 bilhões.
O índice de atrasos acima de 90 dias subiu na base sequencial pelo quinto trimestre consecutivo, chegando a 3,9%, voltando ao maior nível em quatro anos. O Bradesco ainda fez cessões de carteiras ativas e baixadas no período e seguiu renegociando com clientes em atraso. O banco, por sua vez, notou que o índice 15 a 90 dias manteve-se estável pelo terceiro trimestre seguido, “o que pode indicar o pico da inadimplência nos próximos trimestres”.
“Os resultados fracos do Bradesco no 3T22 foram impactados principalmente pela margem financeira (NII) com o mercado abaixo do esperado e maior provisionamento, que levou seu resultado para R$ 5,2 bilhões e um ROE médio de 13% no período. Além disso, o banco revisou para cima seu guidance de provisões em 2022, o que implica em resultados ainda pressionados no 4T22. Com isso, esperamos uma reação negativa do mercado e reiteramos nossa visão conservadora para suas ações”, apontou a XP, que possui recomendação neutra para as ações, com preço-alvo de R$ 22,00 por ativo.
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O NII do Bradesco ficou em R$ 16,3 bilhões, relativamente estável no trimestre, mas 5% abaixo da estimativa da XP, pressionado principalmente por um NII com o mercado abaixo do esperado no 3T22.
A Genial Investimentos avalia que o resultado do 3T22 do Bradesco, bem abaixo também das suas expectativas, foi impactado principalmente por três itens: perdas na margem com mercado (tesouraria), aumento substancial na provisão de devedores duvidosos (PDD) e queda no resultado financeiro da seguradora por conta da deflação ocorrida no período.
“Dos três itens, tesouraria e seguros devem gradualmente melhorar nos próximos trimestres. No entanto, a piora da qualidade de crédito e consequentemente o aumento das provisões foi a maior surpresa negativa do trimestre, forçando o banco a revisar seu guidance com um aumento substancial na expectativa de provisão de crédito (..). Isso significa que as despesas com provisões devem aumentar de R$ 7,3 bilhões no 3T22 para algo entre R$ 8,1 bilhões a R$ 10,1 bilhões no 4T22. Ou seja, os resultados com baixa rentabilidade devem continuar”, avalia a casa de análise.
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Para a Genial, que aponta que os números podem piorar antes de melhorar, provavelmente a PDD continuará assombrando o banco pelos próximos trimestres devido a maior exposição a empréstimos relacionados a pessoa física baixa renda e pequenas empresas, mais sensíveis ao ciclo de crédito, juros e inflação.
Mais revisões para baixo
Após o resultado, o Credit Suisse fez um duplo rebaixamento de recomendação para as ações BBDC4, de outperform (desempenho acima da média do mercado) para underperform (desempenho abaixo da média do mercado), enquanto reduziu o seu preço-alvo de doze meses para BBDC4 de R$ 23 para R$ 19.
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“Embora acreditemos que o baixo ROE de 13,5% não deva ser visto como o nível sustentável para o banco, o aumento das provisões e o ainda fraco NII no mercado devem continuar pesando na rentabilidade, levando o Bradesco a apresentar um ROE abaixo do potencial nos próximos trimestres, o que justifica o rebaixamento”, avaliam os analistas Marcelo Telles e Daniel Vaz, do banco suíço.
Os analistas do Credit reduziram as projeções de lucro líquido gerencial em 13% para 2022 e em -5% para 2023, para R$ 24,043 bilhões e R$ 26.313 bilhões, respectivamente, com ROE projetado de 16% para o próximo ano.
“A maior incerteza em relação ao início de um potencial ciclo de flexibilização monetária no país também torna um argumento otimista sobre o Bradesco menos atrativo”, destacam, apontando acreditarem que o Itaú Unibanco (ITUB4) continua oferecendo o melhor risco-retorno no ambiente atual, seguido pelo Banco do Brasil (BBAS3).
A Eleven Financial também cortou a recomendação de compra para a neutra, com preço-alvo de R$ 21 (ou upside de 13%) ao atualizar as premissas macro, além de incorporar o novo guidance de provisões. As receitas de serviços seguem pressionadas com apenas a renda com cartões apresentado evolução tanto no comparativo trimestral quanto anual, avaliam os analistas. No aspecto positivo, destacaram: (i) boa evolução de 24,7% ao ano da margem com clientes; e (ii) manutenção pelo terceiro
trimestre consecutivo da inadimplência antecedente, o que sinaliza que o ciclo de inadimplência pode estar próximo do fim.
O Itaú BBA também destacou que o balanço foi “muito mais fraco” do que o previsto em diversos pontos, com um lucro líquido bem abaixo da estimativa já conservadora do banco de R$ 6,5 bilhões. As decepções já começaram com a receita, em queda de 2% na base de comparação trimestral, enquanto as despesas com custos de crédito foram o maior destaque negativo.
Os analistas destacam que o ROE de 13% é o menor visto para o Bradesco em muito tempo e provavelmente “não há solução rápida” para a retomada da rentabilidade. O BBA lembra que o recente rebaixamento de recomendação dos ativos, em outubro, foi feito também de forma a refletir a piora na qualidade do crédito e na dificuldade na melhora do NII. Assim, após o resultado, reforçam recomendação neutra para o papel, com preço-alvo de R$ 21 para 2022.
O Morgan Stanley, em relatório ontem à noite, apontou suspeitar que os números de consenso já seriam drasticamente reduzidos no 4T22 e talvez no 1T23 depois da decepção com o balanço.
Contudo, avalia, a maior parte de diversos indicadores operacionais do negócio – crescimento de empréstimos, receitas financeiras, despesas operacionais, entre outros – tiveram um bom desempenho neste trimestre, mas que não deveriam compensar os efeitos negativos da contração do ROE. O Morgan segue com recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra), com preço-alvo de US$ 6 para o ativo, ou potencial de valorização de 66% frente o fechamento da véspera.
A Genial destaca ainda que, apesar do resultado fraco no trimestre, vê as ações do Bradesco como descontadas e, portanto, enxerga potenciais quedas da ação como oportunidade de montar posição. Assim, reitera recomendação de compra, com preço alvo de R$ 24,00 para final de 2023.
Apesar de algumas visões positivas para o banco perdurarem, a expectativa é que as ações da empresa sigam pressionadas, com investidores tentando entender qual será o passo para a recuperação dos níveis considerados “normais” de rentabilidade da companhia, mais próximos de 20% do ROE.
Pode piorar antes de melhorar
Durante o dia, executivos do Bradesco fizeram teleconferências com o mercado e imprensa, apontando que os números da companhia podem piorar antes de melhorar.
Segundo o presidente-executivo do banco, deve levar alguns trimestres para superar o cenário atual de piora nos índices de inadimplência, menor crescimento do crédito e resultados fracos na tesouraria, sinalizou nesta quarta-feira o presidente-executivo do banco.
“O lucro do Bradesco deve seguir pressionado por alguns trimestres”, disse Octavio de Lazari Junior, em conferência com jornalistas . O executivo afirmou que a carteira de crédito do banco deve fechar 2022 na parte inferior da projeção de crescimento de 10% a 14%, o que indica desaceleração nesta reta final do ano, já que a expansão até setembro foi de 13,6% em 12 meses.
Lazari disse também esperar que o índice de inadimplência siga pressionado por alguns trimestres, começando a melhorar na segunda metade de 2023.
O presidente do Bradesco comentou que, em geral, períodos de piora na inadimplência são compensados por melhores resultados na tesouraria.
Mas desta vez, com o breve período de deflação, títulos detidos pelo banco atrelados ao IPCA afetaram a margem com o mercado, que teve uma perda superior a 1 bilhão de reais no trimestre. Além disso, houve impacto também no resultado financeiro do braço de seguros do grupo. “Tivemos uma tempestade perfeita”, disse Lazari.
Após a forte queda, é hora de comprar?
Apesar da queda expressiva desta quarta, os analistas da XP não acreditam que seja o momento de comprar o papel.
“Diante da perspectiva ainda bastante desafiadora pela frente, impactando os resultados do banco no curto prazo e da falta de catalisadores positivos relevante para a ação, mantemos uma visão mais cautelosa para o papel”, avaliam os analistas da casa.
Além disso, veem a dinâmica da inadimplência mantendo a trajetória de crescimento gradual e que pode continuar pressionando os resultados do setor por um período mais longo. “Diante desse cenário, continuamos preferindo bancos com maior índice de cobertura e/ou com carteiras mais defensivas. Por esse motivo reiteramos a nossa preferência por Itaú Unibanco entre os grandes bancos”, destacou.
(com Reuters)
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