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Os motivos para um sentimento mais pessimista com o Bradesco (BBDC4) se concretizaram na noite desta quinta-feira (9), com a divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2022 (4T22). Depois de um terceiro trimestre desastroso, que levou a ação do banco a fechar em queda de 17,38% na sessão pós-balanço, os números do quarto trimestre repetiram o quadro desanimador e as perspectivas para 2023 também não animaram.
Assim, as reações iniciais do mercado aos resultados foram bastante negativas. No after market da Bolsa de Nova York na noite de quinta-feira (9), os ADRs (na prática, os ativos da companhia brasileira negociados nos EUA) BBD chegaram a cair mais de 7%, minutos após a divulgação do resultado. O movimento persistiu nas negociações pré-mercado desta sexta (10), com o ADR em queda que chegou a ser de 9% durante a manhã. Já na B3, as ações BBDC4 tiveram queda forte ao longo de todo o dia, fechando em baixa de 8,19%, a R$ 12,67.
O Bradesco fechou o quarto trimestre de 2022 com lucro líquido recorrente de R$ 1,595 bilhão, uma queda de 75,9% em relação ao mesmo período de 2021, e de 69,5% em relação ao trimestre imediatamente anterior. O resultado do banco foi fortemente afetado por um cliente de atacado, que não teve o nome citado e que teve todo o crédito provisionado – pelo movimento, é possível inferir que trata-se da Americanas (AMER3).
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“Com os recentes eventos envolvendo um cliente Large Corporate específico, ocorridos no início de 2023, a Administração reavaliou os riscos inerentes e, de forma prudencial, provisionou 100% da operação, afetando o lucro do 4T22”, afirma o banco em informe de resultados. De acordo com o Bradesco, o crédito junto a esse cliente era de R$ 4,9 bilhões.
Este fator fez com que as provisões do Bradesco contra a inadimplência tivessem um salto para R$ 14,881 bilhões no trimestre, mais de quatro vezes o volume registrado no mesmo período do ano anterior. Sem este caso, teriam sido de R$ 10,030 bilhões, refletindo o aumento da inadimplência. O resultado operacional do Bradesco no trimestre ficou negativo em R$ 99 milhões. No ano anterior ficou positivo em R$ 10,283 bilhões.
Com isso, o retorno médio sobre patrimônio líquido (ROAE, na sigla em inglês), que mede como um banco remunera o capital de seus acionistas, foi a 13,1% no acumulado em doze meses. No trimestre, fechou a 3,9%, baixa de 13,6 pontos porcentuais em um ano e de 9,1 pontos em três meses, o menor da história moderna. Sem levar em conta a provisão de Americanas, o ROAE do trimestre teria sido de 10,3%.
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Para a XP, um lado bom do provisionamento total de Americanas foi eliminar totalmente possíveis impactos deste caso em 2023.
Adicionalmente, a margem de lucro de mercado apresentou alguma melhora trimestral e os resultados de seu segmento de seguros melhoraram consideravelmente.
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De acordo com a Genial Investimentos, não fosse a unidade de Seguros, o Bradesco apresentaria um prejuízo no 4T22. Com um lucro de R$ 1,9 bilhão no 4T22 e ROE de 21,2%, “a seguradora salvou o trimestre”, avalia. O lucro da unidade cresceu 26,6% no trimestre e 24,8% no ano, fruto da soma de um bom resultado operacional, somado a evolução do resultado financeiro, não mais impactado pela deflação que impactou o 3T22. No ano, o resultado das operações de seguros cresceu 28,9%, bem acima da faixa do guidance de 18%-23%.
Porém, esses números são ofuscados pelos pontos negativos do balanço.
Conforme destaca a XP, a inadimplência continuou crescendo e pressionando os resultados trimestrais.
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As despesas com Provisões para Devedores Duvidosos (PDD) continuaram sendo o principal detrator do resultado, alcançando R$ 10 bilhões sem o efeito da Americanas, marcando um crescimento expressivo de 38% na base trimestral e 134% na anual, consequência da estratégia começada em 2018 de migração para carteiras mais arriscadas e exposição a PF baixa renda, onde o impacto de inadimplência foi maior, destaca a Genial.
A casa de research também destaca que, ao resolver passar 100% da carteira de Americanas, gerou-se um impacto adicional de R$ 4,85 bilhões, levando a provisão para um avanço trimestral de 104,8%. Ao contrário do Itaú, o Bradesco não usou provisão complementar previamente feita para provisionar especificamente parte da exposição a Americanas.
Outro destaque foi o indicador de inadimplência acima de 90 dias, que mostrou piora em todos os segmentos, chegando em 4,3%. Ainda puxado principalmente por Pessoa Física e Micro, pequenas e médias empresas (MPME), segmentos mais afetados pelo cenário mais adverso, respectivamente evoluiram 0,4 ponto percentual (p.p) e 0,8 p.p. na base trimestral. Além disso, a empresa realizou a cessão de uma carteira no montante de R$ 2,8 bilhões, sendo responsável por derrubar 0,6 p.p. o índice de inadimplência de 90 dias; sem a cessão, o indicador estaria em 4,9%, com evolução de 0,5 ponto percentual na base trimestral.
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Conforme destaca a XP, apesar de 2022 já ter sido fortemente afetado pelo aumento da inadimplência, espera-se que os resultados continuem pressionados nos próximos trimestres devido ao ambiente macro desafiador previsto para 2023. Por outro lado, apesar do maior provisionamento, seu índice de cobertura (que representa a proporção que a provisão para risco de crédito é capaz de cobrir os créditos inadimplentes) se recuperou levemente para 204,2% (alta trimestral de 3,5 ponto percentual), o que considera ainda saudável.
O Itaú BBA avalia que, mesmo excluindo o “efeito Americanas” do balanço, o lucro de R$ 4,3 bilhões também teria ficado aquém das suas estimativas com a tendência de crédito pior.
O Citi, por sua vez, aponta que, sem o impacto da varejista, o lucro teria ficado 3% acima de suas projeções e 8% além do consenso de mercado. Mas, mesmo assim, os dados não foram positivos, uma vez que o custo de risco foi de R$ 10,5 bilhões, acima do guidance de R$ 8 bilhões a R$ 10 bilhões.
O Credit Suisse aponta que o Bradesco vem de uma sequência de resultados e eventos bastante desafiadores; na visão dos analistas, os números do trimestre reforçam a visão mais negativa, também reiterando recomendação underperform (desempenho abaixo da média do mercado) para o papel dado os resultados pouco animadores (também ressaltando que mesmo ajustados pelas provisões relacionadas à Americanas) e as projeções fracas para 2023.
Os analistas do banco suíço destacam que a qualidade dos ativos foi muito ruim, com a deterioração na formação de inadimplência indicando que a normalização dos índices deve levar muito mais tempo para acontecer.
Para o JPMorgan, o trimestre foi feio e frustrante, pior do que as estimativas mais negativas e um dos piores da história do Bradesco.
O banco destaca que a margem financeira (NII) total caiu 2% no ano e ficou abaixo de suas estimativas em 1,5% devido à margem pior do que a esperada com clientes de R$ 17,5 bilhões, com alta anual de 18%, mas 3% abaixo de suas expectativas. A margem líquida de juros (NIM) com clientes, por sua vez, “não teve brilho”, caindo 30 pontos-base na comparação trimestral, para 9,8%.
“Não fosse o provisionamento de Americanas, o banco teria entregue um lucro líquido acima da expectativa. Mas, olhando as outras linhas, o resultado foi ruim, a inadimplência continua alta, e o ROE, que figurava entre os melhores junto com Itaú, acabou decepcionando”, aponta André Fernandes, head de Renda Variável e sócio A7 Capital.
Além disso, aponta o analista, inadimplência continua sendo a maior dentre os seus concorrentes, enquanto o Retorno sobre o Patrimônio também foi o pior entre os bancos que divulgaram seus balanços. “Com isso, Bradesco, em comparação a Itaú e Santander (SANB11), obteve o pior resultado do 4° trimestre de 2022″, avalia.
A Levante também destaca que o ponto mais preocupante é a incessante trajetória da qualidade de crédito do banco, enquanto a deterioração do segmento Pessoa Física e PMEs não apresenta esboços de melhoria. Em paralelo, a margem financeira do banco já sente os impactos diretos de uma menor originação de produtos de risco e menores spreads.
“Além disso, o setor como um todo está sendo abalado por incertezas relacionadas à política monetária que será adotada pelo governo atual, trajetória de juros futuros e risco creditício no mercado corporativo aflorado pelo caso Americanas. Dito isso, vemos se reafirmar fortemente o prêmio de avaliação dado ao Itaú e a superioridade de execução para navegar cenários adversos”, aponta.
2022 desafiador? 2023 também não será fácil
Além do resultado pouco animador do quarto trimestre, as perspectivas para 2023 também não são positivas.
O banco projeta um crescimento da carteira de crédito total entre 6,5%-9,5%; uma NII de clientes com crescimento entre 7,0%-11%; um crescimento das Receitas de Seguros entre 6,0%-10,0% e um custo do crédito entre R$ 36,5 bilhões e R$ 39,5 bilhões.
“Vemos [o guidance] como tímido, mas necessário para retomar o rumo neste ano desafiador que se inicia”, avalia a XP.
O Itaú BBA aponta que as projeções do Bradesco indicam que os desafios continuarão, com o NII total definido para crescer cerca de 10% na base anual versus despesas de provisão com crescimento de até 20%.
“Estimamos cerca de R$ 20 bilhões de lucro líquido (um ROE de 12%) no ponto médio do guidance, abaixo das estimativas do mercado em R$ 25 bilhões e dos nossos R$ 20,4 bilhões. Observamos que o NII fraco e as altas despesas de provisão provavelmente manterão os ROEs abaixo do custo de capital em 2023 e 2024”, avaliam os analistas. O BBA, dessa forma, reiterou a sua recomendação underperform para os ativos, apontando que demorará até que o Bradesco recupere dos atuais múltiplos de 0,9 vez o P/VPA (Preço/Valor Patrimonial por Ação).
O JPMorgan também destaca que o principal ponto negativo deve ser visto pelos investidores como o guidance que, notavelmente, implica em um ROE de cerca de 12% para 2023. “Prevemos grandes ajustes no consenso de lucro nas próximas semanas, mas o valuation atual deve impedir uma liquidação mais agressiva”, apontam os analistas.
O Citi ressalta ainda, em relatório chamado “as coisas continuam piorando” que o guidance para 2023 traz indicações de um ambiente ainda mais duro pela frente, com a projeção de custo de risco mostrando deterioração na formação da inadimplência, que já estava a níveis altos. “Ainda que acreditemos que o Bradesco será capaz de voltar a um ROE perto dos 20% em 2024, os próximos trimestres devem ser desafiadores”, avaliam, reiterando recomendação neutra para o ativo, com preço-alvo de R$ 19.
A Levante, assim como o BBA, estima um lucro líquido por volta de R$ 20 bilhões para 2023, o que resultaria num múltiplo de preço sobre o lucro para 2023 de aproximadamente 7 vezes, o que não torna-se justificável levando em consideração a proximidade para o mesmo múltiplo para um banco de trajetória bem mais engajadora como o Itaú, com um múltiplo de 7,2 vezes. “Dessa forma, acreditamos que deverá haver correção considerável nos preços da ação da companhia nos próximos pregões”, avalia.
Já a VG Research aponta que, apesar de o banco ter reportado o pior resultado trimestral desde 2006, é interessante ponderar que se não fossem as provisões referentes a Americanas, o lucro da instituição seria de aproximadamente R$ 6,4 bilhões e ROEA teria sido de 10,3%. “Acreditamos que os esforços do Bradesco no aperfeiçoamento da análise da concessão de crédito renderão resultados mais positivos a partir de meados de 2023”, avalia a casa.
Nesta sexta, em conferência com o mercado, o presidente do Bradesco, Octávio de Lazari, afirmou que o segundo maior banco privado do país deveria ter limitado mais a política de concessão de empréstimos no quarto trimestre, em meio ao impacto do caso Americanas. Ele ainda estimou que a provisão para perdas com inadimplência seguirá elevada no primeiro semestre.
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