Combustível da aviação fica mais barato a partir de hoje, mas não consegue aliviar custos das aéreas

Para os analistas, as empresas ainda não tem espaço para reduzir o preço das passagens aéreas, mesmo com a redução no preço do querosene de aviação

Mitchel Diniz

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A partir desta quinta-feira (1) entra em vigor a redução de 10,4% no valor do Querosene de Aviação (QAV), anunciado pela Petrobras (PETR3;PETR4) na semana passada. O desconto é sobre o preço de venda para as distribuidoras. Esta é a segunda queda consecutiva no valor do combustível, que já havia sofrido uma redução de 2,6% em agosto.

O QAV responde por, aproximadamente, 50% dos custos de companhias como Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4), de acordo com cálculos da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear). A entidade afirma que a redução de preço, no entanto, não chega a ser um alívio sobre os gastos.

Com base em dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), a Abear argumenta que o preço do combustível de aviação subiu 168,7%, entre 1º de julho de 2019 e 18 de julho de 2022. No mesmo intervalo, o valor do diesel subiu 126%, enquanto o da gasolina e do GLP (gás liquefeito de petróleo) avançaram, respectivamente, 126%. “A situação de intensa volatilidade impossibilita projeção de impacto nos preços”, disse a associação, em nota.

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InfoMoney procurou saber o posicionamento das companhias aéreas sobre os recentes ajustes nos preços do QAV e seus possíveis impactos nos preços das passagens aéreas. A Gol, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que segue o mesmo posicionamento da Abear sobre o cenário volátil. A Azul, por hora, não comenta o assunto. A Latam, por meio de nota, disse que é cedo falar em tarifas mais baixas.

“Os preços do Querosene de Aviação (QAV) e da taxa de câmbio têm oscilado e o cenário ainda está volátil. Diante disso, é prematuro fazer qualquer projeção de queda dos preços das passagens neste momento”, diz a nota da companhia aérea.

Leva tempo para sentir a redução

No início do mês passado, os executivos da Azul, durante teleconferência de resultados trimestrais, explicaram que a empresa demora, em média, 45 dias para sentir a redução no preço do QAV. “Até lá, temos que ter tarifas altas”, explicou John Rodgerson, presidente da companhia. À época, a Petrobras ainda não havia anunciado a redução de mais de 10% no preço do combustível.

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Mas analistas que acompanham ações do setor acreditam que os custos das companhias vão seguir pressionados, mesmo com o QAV tendo um preço menor. “O cenário continua sendo desafiador para as aéreas. Elas ainda estão negociando o valor de aluguel das aeronaves do período da pandemia. As despesas continuam altas e seguem impactando os números”, afirma Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management.

Por conta disso, as empresas ainda não teriam espaço para reduzir o valor da tarifa aos passageiros. Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, acredita que isso não deve ocorrer tão cedo. “Por mais que o petróleo tenha caído bastante, o cenário estrutural para a commodity é bastante altista”, afirma.

Ainda que a produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) tenha atingido, em agosto, seu maior nível desde o início da pandemia, ela não tem muito mais para onde crescer, explica Komura. “O setor praticamente não recebeu investimentos nas últimas décadas e dificilmente irá receber, com a tendência ESG. E ainda que se começassem a construir refinarias hoje, levariam de três a cinco anos para ficarem prontas”, argumenta o analista.

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Para ele, ainda que a economia global passe por uma recessão, que reduza a demanda pela matéria-prima, o petróleo tende a voltar a subir de preço no futuro. “Acredito que as aéreas estão corretas em não reduzir o preço da tarifa, porque a queda do petróleo é temporária. Talvez, com uma redução, o combustível não responda mais a 50% dos custos, mas deve ficar acima dos 30%”, afirma Komura.

Para o JPMorgan, o ambiente é nebuloso para as companhias aéreas da América Latina como um todo. “Estamos cientes de que essas empresas ainda estão entre as ações que pior performaram no nosso universo de cobertura, o que poderia indicar um ponto de entrada interessante. Porém, ainda não nos sentimos encorajados a lidar com os riscos macroeconômicos relacionados ao câmbio e ao preço de combustíveis”, escreveram os analistas do banco.

O JP Morgan tem avaliação neutra para AZUL4, com preço-alvo de R$ 24,50, potencial de alta de 48,6% em relação ao preço de fechamento do papel no pregão de ontem (31). Para a Gol, a classificação é underweight, exposição abaixo da média do mercado, com preço-alvo de R$ 12,50 (upside de 23,7%).

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados