Bitcoin disparou no mês de outubro em 8 dos últimos 12 anos; o que esperar dessa vez?

Histórico positivo é desafiado por cenário macro em meio à primeira grande crise vivida pela criptomoeda

Paulo Alves

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Após um trimestre decepcionante para investidores de criptomoedas, o Bitcoin tem pela frente um mês considerado majoritariamente positivo para a moeda digital. Em oito dos últimos 12 anos, o ativo entregou um retorno médio de cerca de 30%, de acordo com dados históricos provenientes da plataforma de gráficos TradingView.

Em outras palavras, outubro gerou retornos positivos em 66% das vezes desde que o BTC surgiu, em 2009, o que eleva as expectativas para uma possível recuperação. Mas, será que a cripto mostrará força mesmo em meio a um cenário macro cada vez mais incerto?

“O mercado de cripto está muito imprevisível esse ano. Todas as análises fundamentalistas e técnicas não têm conseguido prever do mesmo jeito que foi feito no passado”, explica Lendel Lucas, CEO da IVI Technologies. “Isso porque o Bitcoin nunca passou por um momento de recessão, um período de queda de mercado. Ele nasceu durante a última grande recessão, que foi a de 2008, e desde lá tem vivido em um grande ciclo de alta”.

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Para o especialista, dificilmente o desempenho do Bitcoin neste mês que se inicia será influenciado por seu histórico, levando em conta o peso do cenário macro. Por isso, aposta Lucas, a criptomoeda seguirá dependendo do fim do ciclo de alta dos juros dos Estados Unidos para mostrar mais fôlego. “Aí é quando veremos um evento mais forte de retomada muita rápida dos ativos de risco como o Bitcoin, e o seu preço voltar aos patamares anteriores”.

Para o trader e investidor Vinícius Terranova, o histórico do Bitcoin é pequeno demais para ter relevância em um momento delicado da economia global, que afasta os investidores de ativos de risco.

“Nesses anos nós não tivemos o início de uma grande crise e recessão [como está acontecendo agora]. O Bitcoin surgiu depois de uma crise, mas se tornou mainstream depois disso, quando parou de ser colocado como uma moeda de mercado negro, e virou algo especulativo e que poderia se tornar moeda. Não tem histórico [para apostar em alta no mês de outubro]”, contou Terranova ontem durante participação no Cripto+ (assista à íntegra abaixo).

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Apesar disso, existe um consenso entre analistas de que o Bitcoin pode estar muito próximo do fundo do poço. “Se houver o rompimento nessa região [de US$ 21.100], será um forte sinal de que você pode começar a pensar em comprar”.

As impressões são similares às de Israel Buzaym, executivo do marketplace de criptomoedas brasileiro BitPreço. “Enxergamos o momento atual como oportunidade de acumulação de satoshis (frações de Bitcoin) para o próximo movimento de alta”, aponta.

“O brasileiro, em geral, continua gostando das criptomoedas, ainda que o volume tenha reduzido bastante desde o início do ano”, conta Buzaym, ressaltando que a quantidade crescente de exchanges estrangeiras abrindo operações no Brasil é sinal de que o mercado nacional segue promissor.

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“Mantendo nossa linha estratégica ao investidor que já faz aportes em criptomoedas, sugerimos que tenha cautela sem exagerar na exposição, investindo apenas parte do capital disponível, por causa da grande volatilidade”, diz. “Mas, que continue acumulando criptomoedas, principalmente Bitcoin, através de aportes periódicos, pelo potencial de alta que enxergamos para os próximos anos”.

Vem mais queda por aí?

Especialistas não apostam suas fichas em uma disparada do Bitcoin em outubro. Mas, será que vem mais queda pela frente? Segundo Lendel Lucas, da IVI Technologies novas altas de 50 ou 75 pontos-base nos juros americanos já estão precificadas e, por isso, este mês pode ser de mais marasmo.

“Em relação ao preço de outubro, acho que vai ficar lateral como tem ficado neste último ano. Então, eu esperaria entre US$ 17.500, que tem sido um suporte forte, e US$ 22.500, que tem também demonstrado uma grande resistência”, conta. “Se conseguir passar disso, acho que pode chegar facilmente a US$ 30.500, mas acho que isso não vai acontecer em outubro”.

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No entanto, investidores podem preferir ter mais cautela para se posicionar no mercado, levando em conta a influência que a falta de dólares disponíveis podem exercer sobre o Bitcoin, pressionando o preço para baixo.

Um indicador que acompanha a liquidez da moeda americana chamado Índice de Condição de Liquidez do Dólar caiu para uma mínima dos últimos 19 meses, a US$ 5,7 trilhões, de acordo com o TradingView.

“A liquidez do Fed [em dólares] está despencando, um claro desafio para os preços dos criptoativos”, avalia Lewis Harland, pesquisador da Decentral Park Capital.

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O índice avalia o grau de liquidez do dólar com base na interação de três fatores: o tamanho do balanço do Federal Reserve, a Conta Geral do Tesouro (TGA) dos EUA e o saldo de acordos de recompra no Fed de Nova York.

Por regra, a liquidez diminui quando o balanço do Fed contrai, e o TGA e os saldos de recompra aumentam. Por outro lado, uma expansão do balanço do Fed e um declínio nos saldos de TGA e de recompra indicam um aumento na disponibilidade da moeda no mercado.

O Fed iniciou seu ciclo de aperto monetário em março de 2022 e elevou os custos dos empréstimos em 300 pontos-base desde então. Após dados recentes mostrando a persistência da força na economia americana, o mercado espera que o banco central suba os juros ainda mais, elevando a taxa básica para 4,7% nos próximos meses. Além disso, o Fed está reduzindo o tamanho de seu balanço a um ritmo mensal de US$ 90 bilhões.

Desde 2021, os principais topos e fundos dos preços do Bitcoin coincidiram com picos e vales locais no índice de liquidez do dólar. Diante disso, Arthur Hayes, o polêmico cofundador e ex-CEO da exchange de criptomoedas BitMEX, defende que o Bitcoin é “uma medida de alta potência da liquidez do dólar”.

Dessa maneira, com o índice a caminho de uma nova mínima anual, um cenário negativo começa a se impor sobre o Bitcoin – mesmo que a sazonalidade nesse período esteja ao seu lado.

“Pode ser a gota d’água”, projeta Harland, da Decentral Park Capital, referindo-se à possibilidade de um último mergulho da criptomoeda em meio à continuidade do aperto monetário.

Luz no fim do túnel

Em tom mais otimista, José Artur Ribeiro, CEO da corretora Coinext, diz que “o sentimento de recuperação começa a se fazer presente e uma arrancada positiva para um final de ano positivo passa a ser uma possibilidade”.

Para o executivo, mesmo diante de um momento complicado economicamente e teses de recessão, já existem indícios de que o “inverno cripto” possa estar se aproximando do fim.

“Há uma expectativa sobre a resiliência desse ativo que foi testada no final de setembro e foi aprovada, visto que, após a divulgação da decisão do FED [de aumento dos juros em 75 pontos-base pela terceira vez], a cripto conseguiu manter suportes importantes”, explica Ribeiro.

Segundo o CEO da Coinext, o Bitcoin pode ver outras quedas pela frente, mas dificilmente perderá o suporte de US$18 mil. “Muito pelo contrário, o histórico positivo e a força de baleias (grandes detentoras de BTC) pode fazer com que o patamar de US$25 mil volte a ser uma constante”.

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Paulo Alves

Editor de Criptomoedas