Beneficiadas com reabertura, ações ligadas ao esporte devem dar ‘volta olímpica’ com Jogos de Tóquio

No exterior, Nike chama atenção dos analistas, mas companhias brasileiras listadas na B3 também estão nos holofotes

Alexandre Rocha

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O avanço da vacinação e o relaxamento das restrições impostas pela pandemia de Covid-19 estão beneficiando empresas ligadas ao esporte, como varejistas e marcas de material esportivo. Além disso, a volta dos grandes eventos, como a Eurocopa, realizada recentemente, e as Olimpíadas, a partir desta sexta-feira (23), serve como estímulo extra para o desempenho dessas companhias.

No cenário externo, a reabertura e o verão no Hemisfério Norte aumentam a demanda por produtos esportivos em mercados como Estados Unidos, China e Europa. O calor e a redução das restrições estimulam as pessoas a saírem de casa e a praticarem atividades físicas.

Vale lembrar, porém, que os casos da doença voltaram a aumentar na Europa e nos EUA, e há apreensão global com a circulação da variante delta.

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“As empresas [desse setor] tendem a se beneficiar bastante [com a abertura]”, disse Carlos Daltozo, chefe de pesquisas em renda variável da Eleven, casa de análises financeiras. “Esperamos que no Brasil o efeito da vacinação traga uma abertura maior da economia neste segundo semestre”, acrescentou.

A multinacional Nike (NYSE: NKE) é um dos destaques do ramo neste momento de retomada. A companhia anunciou um resultado recorde de US$ 12,3 bilhões em faturamento no quarto trimestre do ano fiscal encerrado em maio, valor 96% superior ao registrado no mesmo período de 2020 e 21% acima do total do mesmo trimestre de 2019, antes da pandemia. Após o anúncio, as ações da marca dispararam e atualmente estão na casa de US$ 160,00.

Seguindo a tendência, as BDRs da Nike (NIKE34) negociadas na B3 avançaram significativamente. Estavam cotadas a R$ 83,45 na terça-feira (20). “A Nike passou a integrar nossa carteira de BDRs em junho e capturou cerca de 20% de alta”, afirmou o analista da Eleven.

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Sócio diretor da gestora de fundos GeoCapital, Arthur Siqueira acrescenta que a Nike promove desde 2017 uma mudança de canais de venda com foco na relação direta com os clientes, por meio de lojas próprias e plataformas digitais, ampliando a fidelização e reduzindo sua dependência em diferentes varejistas. A pandemia acelerou o processo.

De acordo com Siqueira, as vendas diretas representavam 20% do faturamento da empresa antes da pandemia, mas agora são 40% – e até 2025 a expectativa é chegar a 60%. “Nos momentos de crise, as empresas que têm pilares sólidos se saem melhor”, observa. Além disso, com menos intermediários, a companhia aumenta sua margem.

Siqueira ressalta que a Nike, com o uso de aplicativos de corrida e treino, está mais próxima de seus clientes, conhece suas demandas e consegue oferecer produtos que têm maior valor para o consumidor, o que deixa a empresa numa posição vantajosa dentro da nova realidade do mercado.

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O executivo informa, no entanto, que a GeoCapital não tem papeis da Nike em seus fundos, mas por causa do preço e não pela qualidade do negócio.

A abertura é importante também para outra gigante do setor, a Adidas. “Metade da receita da Adidas vem da Europa e dos Estados Unidos, regiões onde a vacinação está caminhando mais rápido”, afirmou Rodrigo Lobo, sócio da Nextep, gestora de fundos que tem papeis da empresa de origem alemã em seu portfólio.

Segundo Lobo, a marca manteve abertas somente 30% de suas lojas no auge da pandemia, mas agora as unidades em funcionamento chegam a 90%. Ao mesmo tempo, a participação do comércio eletrônico no faturamento saltou de 11% para 20%. As ações da companhia acumulam valorização de 3,4% neste ano e estavam cotadas a 305,40 euros na terça-feira (20).

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Para o sócio da Nextep, a empresa tende a seguir em ritmo de crescimento. Ele conta que a Adidas anunciou recentemente seus planos para os próximos cinco anos, prazo em que pretende dobrar suas receitas com vendas diretas (lojas próprias e comércio eletrônico), elevar o faturamento total de 10% a 20%, ter 90% de sua linha composta de produtos reciclados ou 100% recicláveis e investir 1 bilhão de euros em tecnologia.

Além da maior demanda por comercio eletrônico, a pandemia aumentou a procura por roupas confortáveis que servem para esportes, lazer, ficar em casa e trabalho remoto, segmento que ganhou o apelido de “Athleisure”, uma combinação das palavras em inglês “athletic” (atlético) e “leisure” (lazer). Tipo de vestuário de produzido por marcas como Adidas e Nike.

O crescimento desse segmento é uma das tendências apontadas pela consultoria McKinsey numa pesquisa sobre marcas esportivas divulgada em janeiro de 2021. O estudo informa também que o faturamento do setor de material esportivo caiu em 2020 pela primeira vez desde a crise financeira internacional de 2008. De forma geral, a pandemia acelerou mudanças que vieram para ficar, como o fortalecimento do comércio eletrônico e o aumento da demanda por produtos sustentáveis.

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Olimpíadas

Quando a pesquisa foi publicada, a vacinação estava apenas começando ao redor do mundo, e os números de novos casos de Covid-19 e de mortes batiam recordes nos Estados Unidos. Mas a McKinsey já previa oportunidades para o setor com a eventual reabertura e a volta de grandes eventos, incluindo os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio.

“As Olimpíadas colocam o esporte em evidência, geram mais engajamento da população e esta exposição é benéfica para todos”, comentou Siqueira. A avaliação sobre o impacto dos Jogos, porém, não é unânime.

“As empresas ligadas ao esporte tendem a ter bom desempenho em época de Olimpíadas, e principalmente de Copa do Mundo, mas em Tóquio há a diferença de fuso e não haverá torcida [presencial]”, observou Daltozo. “Eu não vejo tanta euforia”, disse.

Lobo fica no meio do caminho. “Não conseguimos ver os efeitos este ano ainda, mas em 2012, com as Olimpíadas [de Londres] e a Eurocopa, o lucro da Adidas teve um crescimento de 20% no segundo trimestre”, observou. Ele reconhece que os Jogos deste ano vão ser diferentes, por causa da pandemia, mas ressalta que a exposição das marcas em eventos do gênero é bastante intensa. “Na Eurocopa de 2021, oito das 24 seleções foram patrocinadas pela Adidas”, exemplificou.

Brasil

As perspectivas de reabertura refletem positivamente em negócios do setor inclusive no Brasil. A Eleven, por exemplo, recomenda a compra de ações da fabricante de calçados Vulcabrás (VULC3), que tem atuação forte na área de esportes com as marcas Olympikus (própria), Under Armour (licenciada pela matriz norte-americana) e agora com a Mizuno, recentemente licenciada pela matriz japonesa. A XP também recomenda a compra dos papéis da empresa.

“A Vulcabras incorporou a marca Mizuno e reduziu sua dependência nos calçados femininos [com o licenciamento da marca Azaleia para a Grendene]. O segmento esportivo tem uma rentabilidade melhor”, comentou Daltozo.

De acordo com ele, em 2020 a empresa sofreu um tombo considerável, mas aproveitou o momento de crise para mudar sua estratégia, teve uma retomada forte em 2021 e deve voltar ainda este ano ao patamar de receitas de 2019, com perspectivas de crescimento no ramo esportivo. As ações da Vulcabras registram valorização acumulada de 28,2% desde o início de 2021.

Na mesma linha, a Eleven recomenda compra de papeis do Grupo SBF (SBFG3), controlador da rede varejista de material esportivo Centauro. A companhia adquiriu o licenciamento da Nike no Brasil e deve se beneficiar disso.

“A Centauro fez o acordo com a Nike um pouco antes da pandemia, sofreu um pouco, mas este ano está em nossa cesta de empresas de varejo que devem se beneficiar mais da retomada”, declarou Daltozo. Os papeis da SBF acumulam valorização de 32,25% no ano.

A rede de academias Smart Fit (SMFT3) estreou na B3 em 14 de julho, após uma oferta pública inicial de ações que movimentou R$ 2,3 bilhões. Os papeis tiveram valorização de quase 35% no primeiro dia. Daltozo diz que a Eleven recomendou aos seus clientes participação na oferta.

Ele avalia que a cadeia tem bom potencial de crescimento nos próximos anos, especialmente em outros países da América Latina. “Há muita demanda represada por academias por causa da pandemia, não só no Brasil, mas na América Latina”, observou.

Já para a Track & Field (TFCO4), outra empresa brasileira do ramo de esportes listada, a Eleven está com recomendação neutra. A companhia abriu seu capital no ano passado e, de acordo com Daltozo, sofreu pouco na crise, portanto o analista não vê tanto potencial de avanço, pois a retomada já foi “precificada”.

Longo prazo

Siqueira comenta ainda a perspectiva para a VF Corporation (VFCO34), companhia norte-americana que controla marcas como Vans, Timberland e The North Face. Ele acredita que a reabertura da economia deve ter um impacto ainda maior nesta empresa, pois ela depende bastante das vendas em lojas físicas. “São marcas bastante importantes que podem se beneficiar da reabertura”, ressaltou.

Para Siqueira, empresas estrangeiras como a Nike e a VF Corporation têm condições de surpreender no longo prazo. “São empresas muito boas e que têm possibilidade de surpreender para cima em termos de retorno médio em cinco anos”, afirmou.

No mesmo sentido, Lobo avalia que a Adidas tende a aumentar de valor no futuro, pois a gestão atual tem uma filosofia de longo prazo com prioridades importantes como o crescimento em mercados como China e EUA, investimentos em tecnologia e processos mais eficazes, vestuário confortável e canais de venda que permitam maior margem. “A tendência do mercado favorece os produtos que a empresa vende”, concluiu.

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Alexandre Rocha

Jornalista colaborador do InfoMoney