Banco do Brasil (BBAS3) está barato demais para os resultados que mostra? Analistas destacam visão sobre ação após forte 1º tri

Credit Suisse destaca que, mesmo que retorno sobre o patrimônio cair, valuation justifica recomendação de compra, enquanto BBI mostra ceticismo

Lara Rizério

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Banco do Brasil ([ativo-BBAS3]): maior retorno sobre o patrimônio líquido do setor (ROE) com valuation barato tornando o papel uma oportunidade única, ou um trimestre já começando a mostrar tendências negativas?

Os números do primeiro trimestre de 2023 do BB são monitorados de perto do mercado, com os números se apresentando como destaque do setor e analistas vendo os números como fortes, ainda que sem grandes surpresas, enquanto uma parcela do mercado mostra maior ceticismo com setor. No início da sessão desta terça-feira (16) pós-balanço, os ativos registravam leve queda de 0,99%, a R$ 44, mas que se intensificou ao longo do dia, com o papel fechando em baixa de 2,88%, a R$ 43,16.

O banco estatal divulgou lucro líquido ajustado de R$ 8,55 bilhões no período. A cifra é 28,9% maior que a registrada no 1T22, ainda que em queda de 5,4% frente o 4T22. O consenso Refinitiv previa lucro líquido de R$ 8,688 bilhões no período, abaixo dos R$ 9,04 bilhões do quarto trimestre de 2022, mas bem acima dos R$ 6,613 bilhões registrados um ano antes.

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No período, o Retorno sobre o Patrimônio Líquido (RSPL, ou ROE, na sigla em inglês) ajustado foi a 20,8%, alta de 2,9 pontos percentuais (p.p.) em base anual, e baixa de 1,8 p.p. em três meses.

O BB ainda aprovou ainda a distribuição de R$ 351.037.065,11 a título de remuneração aos acionistas sob a forma de dividendos e R$ 1.867.567.877,05 sob a forma de Juros sobre Capital Próprio (JCP), ambos relativos ao primeiro trimestre de 2023. Com isso, a estatal aprovou mais de R$ 2,2 bilhões em dividendos e JCP.

A XP destaca que o lucro ficou 10% acima de sua previsão e, por mais um trimestre consecutivo, o perfil defensivo de sua carteira continua prevalecendo e resultando em um índice de inadimplência de 2,6% (+11 pontos-base na comparação trimestral), muito abaixo de seus pares.

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Por outro lado, apesar de ter superado muitas de suas projeções, o BB manteve suas estimativas para 2023, o que, dada a atual velocidade, leva a crer que os resultados possam desacelerar nos próximos meses. “No entanto, isso não deve enfraquecer a inércia de resultados positiva. Como resultado, esperamos uma reação positiva e reiteramos nossa visão construtiva sobre o banco, com recomendação de compra, com preço-alvo de 61 por ação”, avaliam os analistas da casa.

Entre outros pontos que chamaram a atenção, a XP destaca que a carteira de crédito ampliada acelerou para alta de 16,8% ano a ano (+2,7% no trimestre) e atingiu R$ 1,03 trilhão. O destaque foi, mais uma vez, a carteira do agronegócio (+4,1% no trimestre e +26,7% de alta anual).

Sobre a inadimplência, mais uma vez, o BB se posicionou com a menor taxa de inadimplência entre os bancos incumbentes. O BB registrou um Índice de Cobertura de 202,7% (-24,4 pontos-base na base trimestral), o que os analistas da XP ainda consideram saudável. “Vale ressaltar que, no trimestre, os resultados financeiros do BB foram impactados pela renegociação da dívida de um cliente específico, em um processo de reorganização judicial desde 2019. Desconsiderando esse efeito, o índice de cobertura seria de 213,3% (-13,8 pontos-base na comparação com o 4T22)”, destaca.

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A Margem Financeira (NII) do BB alcançou R$ 21,2 bilhões, registrando um sólido crescimento de 38,0% ano a ano  (superando as expectativas da XP em +8%), impulsionado por: i) receitas de operações de empréstimo (+35,1% na base anual), beneficiadas pelo crescimento e reprecificação da carteira de empréstimos; e ii) resultado da tesouraria (+72,1% na base anual), principalmente devido ao resultado da carteira de títulos de renda fixa.

Esses efeitos foram parcialmente compensados pelo aumento das despesas de captação comercial (+52,2% na base anual). “Embora marginalmente abaixo do nosso número (-1%), as receitas de tarifas também contribuíram para o trimestre, com um aumento de 8,1% na base anual, influenciado pelo desempenho comercial, com destaque para o desempenho nas linhas de seguros, planos de previdência e títulos de capitalização (+10,7%); receita de cartões (+20,4%); e gestão de ativos (+4,9%)”, destaca a XP.

A Genial destaca que o BB fechou o 1T23 com o maior lucro do setor no trimestre e alcançando um ROE de 20,5% — rentabilidade um pouco abaixo dos 22,5% de ROE postados no 4T22 por conta de alguns itens não-recorrentes ajudando o resultado do trimestre passado, como bonificação de bandeira de cartões e reversão de provisões de folhas de pagamento.

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A casa destaca que o trimestre foi marcado por um forte crescimento da margem financeira (NII) de 38% ao ano, bem acima do topo do guidance. O resultado das subsidiarias e coligadas 57% maior ano a ano também ajudaram o resultado do trimestre. A carteira de crédito expandida cresceu 17,9%, acima do guidance de 2023 de 8% a 12%, com destaque para a carteira de agronegócio que continua crescendo em ritmo acelerado de 26,7% a/a, mas que deve desacelerar até o final do ano.

Do lado um pouco mais negativo, as provisões de crédito ampliadas de R$ 5,9 bilhões continuam em patamares elevados e o banco deve terminar o ano na faixa mais alta do guidance de R$ 19 bilhões – 23 bilhões.

“Continuamos otimistas com os fundamentos do BB. A sequência de trimestres positivos deve continuar até o fim do ano. Dessa forma, reiteramos nossa recomendação de comprar, com preço alvo de R$ 55,70”, apontando o grande desconto ante seus pares privados.

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O Credit Suisse avalia que o 1T23 deve ser neutro para o papel dado que o lucro veio em linha com sua projeção e consenso (apesar da receita de recuperação de crédito menor que o esperado). Ajustando para uma reversão de provisão de R$ 2,6 bilhões, o custo de risco ficou em 4,1% e cobrindo 85% da formação de inadimplência de 90 dias, levando a uma queda do índice de cobertura.

Do lado operacional, o banco continuou a registrar um momentum forte para lucros, o que, combinado a uma qualidade de ativos controlada, fez que o o lucro (pré-provisão) ficasse em linha com suas estimativas e atingisse um ROE perto de 21%.

“Esse nível de rentabilidade claramente não está precificado olhando o valuation do papel, mesmo considerando uma desaceleração do ROE em 2024 e 2025 (resultado principalmente de juros mais baixos), e portanto esse colchão de valuation nos dá conforto para reforçar o outperform [desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra] para o papel”, avalia.

Já na visão do Bradesco BBI, mais cético, o Banco do Brasil apresentou algumas tendências negativas no 1T23. Primeiro, o resultado de intermediação financeira contraiu, devido principalmente a ganhos mais fracos relacionados à marcação, o que pode indicar que o banco pode ter atingido um ponto de inflexão de resultados no 4T22.

Em segundo lugar, o índice de cobertura caiu significativamente para 203% (de quase 230% no 4T22), “o que vemos como um potencial subprovisionamento no trimestre, especialmente porque a formação de cobertura do banco diminuiu para
empréstimos individuais e corporativos”, aponta.

Em terceiro lugar, embora tenha visto uma leve deterioração da inadimplência no trimestre, acredita que a deterioração corporativa pode ter começado, o que reforça a tese de um ambiente macroeconômico mais desafiador para 2023, aponta. O BBI tem recomendação neutra para o ativo, com preço-alvo de R$ 48, ou potencial de valorização de 9% frente o fechamento da véspera.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.