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Uma sessão memorável para as aéreas após um fevereiro para ser esquecido. Com alto endividamento no radar, as companhias aéreas Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) deram boas notícias aos investidores sobre o tema no fim da última semana e fizeram as ações disparar no começo desta, uma vez que afastaram temores de recuperação judicial que andam assolando as companhias desde o início do ano.
Com isso, os ativos AZUL4 fecharam com uma disparada de 37,98%, a R$ 9,99, em um pregão marcado por leilões e com a ação da companhia chegando a disparar impressionantes 58,70% na máxima do dia, a R$ 11,49. Com ganhos um pouco mais modestos, mas ainda assim representativos, estiveram as ações GOLL4, fechando com salto de 23,78%, a R$ 6,35, depois de uma máxima de 30,99%, a R$ 6,72.
Em c0mum, o avanço na reestruturação de dívida que tanto tirava o sono dos investidores, enquanto a Azul ainda divulgou o resultado do quarto trimestre de 2022 (4T22) na manhã desta segunda, com projeções que ajudaram a animar o mercado (apesar de não ser o grande foco dos investidores na sessão).
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Na noite de domingo, a Azul disse que chegou a acordos com arrendadores de aeronaves responsáveis por 90% de seus passivos de arrendamento que dariam a eles ações e dívidas negociáveis em troca de pagamentos mais baixos.
A aérea disse que o acordo incluiu termos em que os arrendadores eliminaram diferimentos relacionados à pandemia, bem como a diferença entre suas taxas contratuais de arrendamento e as taxas atuais de mercado.
O acordo inclui: 1) a reprogramação dos pagamentos do leasing, incluindo os adiamentos durante a pandemia da Covid-19; e 2) o fechamento do descasamento entre as taxas de leasing contratadas pela Azul e as taxas de mercado atuais. Em troca, os arrendadores devem receber um título (bond) com vencimento em 2030, mais uma parcela em ações (equity). A Azul ainda não divulgou nenhum detalhe financeiro. A empresa também está em negociações com os arrendadores e fabricantes remanescentes.
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O Bradesco BBI apontou que a notícia é positiva para a Azul, pois espera que a reestruturação do passivo de leasing compense o fluxo de caixa negativo esperado para 2023. No 3T22, a Azul informou um passivo total de leasing de aeronaves de R$ 13,6 bilhões, equivalente a 80% de sua dívida total, dos quais R$ 4,1 bilhões originalmente previstos para vencer em 2023.
“Buscamos mais detalhes sobre as condições do acordo, mas avaliamos que deve ser positivo para a companhia, já que acreditamos que risco de crédito tem sido um tema chave para o setor aéreo”, escreveram os analistas do Goldman Sachs.
Já sobre o resultado do quarto trimestre de 2022, a companhia teve prejuízo líquido ajustado de R$ 610,5 milhões, montante 40% superior ao reportado no mesmo intervalo de 2021. Sem ser em termos ajustados, a companhia teve lucro líquido de R$ 231,2 milhões no quarto trimestre de 2022, revertendo o cenário de perda registrado no mesmo período de 2021, quando teve prejuízo de R$ 954,7 milhões.
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A geração de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) alcançou R$ 1,097 bilhão no quarto trimestre, alta de 70,7% sobre o mesmo intervalo do ano passado. Com isso, a companhia encerrou o período com margem Ebitda de 24,6%, queda de 2,9 pontos na comparação anual.
A Genial apontou que a surpresa positiva veio com margens operacionais fortes. “Mesmo as margens operacionais ajustadas da Azul superaram as nossas expectativas e as do mercado, com destaque para as margens Ebitda e Ebit”, apontou.
Analistas do Itaú BBA afirmaram em relatório que os resultados da Azul vieram em linha com o esperado, reforçando tendências positivas de demanda e de preços de passagens aéreas.
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“O ponto alto, porém, foi a reestruturação de dívida, que deve aliviar o fluxo de recursos relacionados aos leasings das aeronaves”, disse Daniel Gasparete, do Itaú BBA. “Entretanto, notamos que a companhia não forneceu detalhes numéricos sobre cronograma de amortização e diluição de acionistas para entendermos potenciais desvantagens”, acrescentou.
Na teleconferência, a companhia destacou mais informações e afirmou que o acordo deve ser concluído nas próximas semanas.
“Mas há zero pressão para a gente terminar em um certo prazo. Até aqui nos aguentemos a pressão do mercado, a volatilidade, fazendo a coisa certa para Azul. Não vamos correr ou nos comprometer com um cronograma”, complementou Alex Malfitani, CFO da companhia.
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A Azul preferiu não der mais detalhamentos financeiros enquanto o acordo não for fechado com 100% dos credores. No entanto, adiantou que, com o sucesso das negociações, o caixa da companhia deve terminar 2023 em break even – ante uma expectativa de rombo de R$ 3 bilhões.
“Estamos muito comprometidos em melhorar o fluxo de caixa da companhia ao mesmo tempo em que seguimos o principio de uma recuperação de 100% para os nossos parceiros”, afirmou Malfitani.
Gol: reestruturação com Abra Group
Já a Gol anunciou, após o fechamento do mercado da última sexta-feira (3), a conclusão de sua reestruturação de títulos (bonds) com a Abra Group e um grupo de credores.
De acordo com o documento, a Abra assinará até US$ 1,4 bilhão de secured notes sênior para 2028 (SSN) e secured notes sênior intercambiáveis para 2028 (ESSN) que serão usadas para: (i) aumentar a posição de caixa em até US$ 451 milhões; e (ii) refinanciar o capital de US$ 1,077 bilhão de notas da GOL adquiridas pela Abra Group com um desconto de R$ 312,6 milhões.
A estrutura está detalhada abaixo, como aponta o Bradesco BBI:
1) Para financiar a reestruturação, a Abra levantou US$ 552 milhões de capital com certos acionistas (US$ 172,5 milhões), um grupo de credores (US$ 330 milhões), e outros credores (US$ 49,5 milhões) e emitiu notas com garantia conversível (CSSN) e notas com garantia sênior (SSN).
2) O valor nominal de US$ 1,077 bilhão em bonds da GOL virá de um grupo de credores da GOL, bem como de outros credores fora deste grupo, a um preço de US$ 0,71. Estes títulos serão cancelados. Os bonds da GOL entregues por estes credores representam 83% de títulos com vencimento em 2024, 47% de outras emissões com vencimento em 2025, 61% das de vencimento em 2026 e 10% dos títulos perpétuos.
3) As novas SSNs da GOL com vencimento em 2028 à Abra serão emitidas com um valor principal de até US$ 1,4 bilhão a uma taxa de juros de 18% (4,5% à vista e 13,5% capitalizadas), com a marca Smiles, propriedade intelectual, listas de clientes, marcas registradas, bem como peças de reposição servindo como garantia. A Abra pode solicitar a troca destes bonds por emissões intercambiáveis (ESSNs) também com vencimento em 2028. O prêmio de conversão da dívida em capital pode variar de 15% a 35% e o preço base ainda não foi fechado.
Com isso, é concluída a reestruturação da dívida de US$ 1,4 bilhão pela aérea, que fornece à empresa US$ 451 milhões em caixa e prolonga seu perfil de dívida. O custo destas novas emissões com garantia sênior e notas com garantia sênior intercambiáveis ficou acima dos juros pagos nestes títulos, mas bem abaixo do rendimento dos mesmos títulos no mercado secundário, aponta o BBI.
Portanto, sem o apoio da Abra Group, a Gol enfrentaria ainda mais dificuldades para reestruturar estes passivos. Além disso, o perfil do fluxo de caixa deveria melhorar, dado que os juros de caixa são de 4,5% e os 13,5% restantes serão acumulados no principal.
Além disso, os termos finais da reestruturação da dívida significam que a maior parte do desconto de 29% ao par dos títulos que a Abra comprou será repassada para a GOL, dado que a empresa concedeu um desconto de emissão original de 0,15 ponto percentual (p.p.) a Abra.
“Os termos são mais positivos do que inicialmente esperado, mas a Abra pode captar a maioria destes ganhos com esta reestruturação, dada a possibilidade de converter a dívida em ações em relação ao valor de mercado atual da Gol de US$ 413 milhões”, afirmam os analistas.
De acordo com os analistas do BBI, a conclusão bem sucedida desta reestruturação deverá facilitar as negociações entre a Gol e os demais credores para refinanciar R$ 2,8 bilhões e R$ 2,4 bilhões de pagamentos de leasing em 2023 e 2024. De qualquer maneira, os analistas ainda mantêm recomendação neutra para GOLL4 e o preço-alvo de R$ 11,00 (ainda que com um upside de 114% em relação ao fechamento de sexta).
Para AZUL4, a recomendação do BBI é outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra), com preço-alvo de R$ 32, ou upside de 342% também frente o fechamento de sexta.
O Morgan Stanley, por sua vez, manteve a recomendação neutra para AZUL4 após avanços na negociação da dívida da empresa. O preço-alvo para o papel é de R$ 16.40, upside de 126,5%.
(com Reuters)
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