Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4): pressão por queda no preço das passagens pode impactar a recuperação das aéreas na Bolsa?

Governo quer que empresas repassem redução de combustível às tarifas, mas analistas avaliam que custos seguem elevados e que empresas manterão racionalidade

Mitchel Diniz

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As companhias aéreas listadas na Bolsa brasileira chegam à metade de 2023 com ganhos superiores aos do Ibovespa. As ações da Azul (AZUL4) acumulam alta de mais de 90% no ano e ontem superaram os R$ 20, o que não acontecia desde o começo de junho de 2022. A Gol (GOLL4) sobe mais de 40% no período e chegou a ser negociada acima de R$ 10 na sessão desta quarta-feira (10).

Analistas falam em uma tempestade perfeita às avessas para as companhias. Desde o final do ano passado, as aéreas vem apresentando números operacionais fortes, amparados pela forte demanda por voos, que ficou represada durante a pandemia.

Azul e Gol também avançaram nas negociações de suas dívidas bilionárias com credores, diminuindo, em parte, o ceticismo dos investidores. Houve ainda um alívio nos custos, com dólar e combustível em queda no acumulado do ano. De acordo com a Petrobras (PETR3;PETR4), o querosene de aviação (QAV) ficou 35% mais barato em 2023.

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Por fim, o governo sancionou a lei que reduz impostos federais para aéreas, zerando alíquota de PIS/Cofins sobre receitas de passageiros, até dezembro de 2026.

” Os planos de redução de alavancagem da Azul e da Gol, a valorização contínua do real frente ao dólar americano e a queda nas taxas de juros são apenas alguns dos gatilhos que também podem movimentar a alavancagem dessas operadoras aéreas”, avaliaram os analistas do Citi.

O banco reiterou nesta semana recomendação de compra para os ativos de ambas as empresas. Elevou o preço-alvo dos ADRs (recibo de ação, papéis da empresa negociados na Bolsa americana) de Azul de US$ 17 para US$ 20,50; para Gol, o preço-alvo foi elevado de US$ 6,75 para US$ 7,75.

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Ygor Bastos, analista de transportes da Genial Investimentos diz que a casa continua com visão conservadora em relação ao setor, ao menos por enquanto. A recomendação, para as duas empresas, é de manutenção do papel, com preço-alvo de R$ 22 para Azul e de R$ 8,20 para Gol.

Bastos explica que o mercado não comprou totalmente o discurso otimista das próprias companhias aéreas sobre o rumo dos negócios até o final do ano. Ainda há uma série de fatores de riscos que podem mexer com o câmbio e preço dos combustíveis e que são difíceis de prever.

“Os Estados Unidos podem voltar a subir juros, o que é um viés negativo para o câmbio”, afirma Bastos, lembrando que a maior parte dos custos das aéreas é dolarizado. A guerra da Rússia contra a Ucrânia, segundo ele, ainda tem potencial para mexer tanto no câmbio quanto no preço do petróleo.

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Outra preocupação é sobre até quando a demanda vai suportar os preços elevados das passagens aéreas. “Estamos em um cenário que a economia está desacelerando, pois os juros estão muito altos. Não sabemos até que ponto o consumidor vai ter apetite para pagar tarifas elevadas”, diz o analista.

Governo quer redução de tarifas

Segundo o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, o governo pretende cobrar que as petroleiras apresentem uma mudança no preço do querosene de aviação. E disse que também haverá conversas com empresas aéreas.

“Agora vamos cobrar também de forma muito rigorosa das empresas aéreas, para que se chegue na ponta (a redução de custo), porque não basta um esforço nosso na diminuição de preço dos combustíveis se essas reduções não forem capturadas na cadeia”, disse o ministro, em evento na Paraíba, na semana passada.

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Renato Hallgren, analista do BB Investimentos, explica que as tarifas estão elevadas porque os custos estão elevados, mas o que predomina é a relação de oferta e demanda. “Não é algo binário. Não é cair o preço de combustível que cai o preço da passagem aérea”, afirma.

Se, por um lado, a demanda está aquecida, a oferta de voos está limitada.

“As companhias aéreas estão usando praticamente 100% de suas frotas e não observamos um crescimento delas de forma rápida no curto prazo. Existe um cronograma de entrega das fabricantes, mas o que temos visto é uma substituição das aeronaves”, diz Hallgren.

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Na teleconferência de resultados do primeiro trimestre, o CEO da Azul, John Peter Rodgerson, disse que, além da redução no preço dos combustíveis, a oferta de assentos precisa aumentar para que a tarifa fique mais barata.

“Historicamente, é a demanda que faz o preço de passagem cair”, explica Bastos, da Genial. Na visão do analista – e das próprias companhias aéreas – os custos das companhias seguem elevados e precisam cair mais para chegar a um ponto de equilíbrio. “Mesmo com toda a queda no preço do combustível, o preço continua acima de 2019”.

Previsão de tarifas mais baixas no 2º semestre

Vale lembrar que as companhias aéreas se preparam para praticar tarifas a preços populares por meio do programa Voa Brasil, do governo federal, e que prevê passagens a R$ 200. A versão piloto da iniciativa está prevista para o segundo semestre deste ano.

“O importante do programa é que ele utilize momentos de baixa sazonalidade e dê acesso a clientes que não está voando”, disse Celso Ferrer, CEO da Gol, durante teleconferência de resultados do primeiro trimestre deste ano.

Ferrer defendeu a manutenção do conceito de liberdade tarifária e disse que a empresa vê com bons olhos o programa do governo, desde que não haja uma canibalização de demanda.

Os analistas confiam que, independentemente de pressões, as companhias aéreas vão manter a racionalidade.

“A precificação de tarifa aeroportuária é uma ciência e, se for desrespeitada, a companhia quebra”, diz Hallgren. “Não vai ser destruindo margem que elas vão conseguir sustentabilidade”.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados