Auxílio Brasil fora do teto abala mercado, reforçando percepção de crescimento baixo e juros mais altos

Investidores repercutem possibilidade do novo auxílio estourar teto de gastos do governo; veja quais seriam as consequências

Mitchel Diniz

(Getty Images)
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SÃO PAULO – Ainda que não confirmadas oficialmente pelo governo, as notícias sobre o Auxílio Brasil, novo nome do programa Bolsa Família, azedaram o humor dos investidores e derrubaram a Bolsa brasileira nos negócios desta segunda-feira (19). De acordo com apuração da Reuters e também do jornal O Estado de S. Paulo, o novo valor pago a partir de 2022 será de R$ 400, cifra ainda maior do que a que vinha sendo especulada nos últimos dias. Ontem, João Roma, ministro da Cidadania, disse em entrevista à TV Brasil que o programa de transferência de renda beneficiaria aproximadamente 17 milhões de pessoas e ficaria, na média, em R$ 300 ao mês.

“De certa forma, o mercado assimilou bem o auxílio nesse valor [de R$300], pois a PEC dos precatórios abriria espaço para uma despesa de adicional de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões. O que o investidor não está gostando, é que agora seriam outros R$ 30 bilhões ou mais”, afirma Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos.

Outro receio é que uma parcela desse benefício seja contabilizado fora do teto dos gastos públicos. Segundo a apuração da Reuters, para robustecer o valor pago aos beneficiários, um auxílio temporário seria criado, ao custo de cerca de R$ 50 bilhões. Parte do auxílio será pago dentro do teto de gastos e parte fora. Por ter duração delimitada, esse gasto não precisa, pela Lei de Responsabilidade Fiscal, de compensação.

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Os analistas explicam que, caso a informação seja confirmada pelo governo, a situação fiscal do país vai piorar significativamente e o cenário para o ano que vem seria uma combinação explosiva: crescimento baixo, inflação alta e juros ainda maiores.

“Com os juros subindo, a Bolsa perde atratividade. As empresas precisam ajustar seus fluxos de caixa, seus custos sobem, elas lucram menos e as ações também perdem upside (tendência de valorização)”, explica Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo.

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A possibilidade do Senado retirar a taxação sobre dividendos da reforma do Imposto de Renda, conforme destacou o senador Angelo Coronel (PSD-BA), seria uma notícia para animar os investidores. Porém, a declaração do relator da reforma perdeu força diante da preocupação com o aumento dos gastos públicos que um novo auxílio traria.

“A retirada dos dividendos mantém a atratividade do investimento em Bolsa como alocação por investimento. Mas de nada adianta ter essa atratividade, diante do risco fiscal fiscal brasileiro, que eleva o dólar e os juros também”, afirma Franchini.

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“É uma questão sensível principalmente para o investidor internacional. Se a gente dá uma sinalização de que o teto dos gastos não será respeitado, isso abre um precedente muito perigoso. Hoje furamos o texto para o Auxílio Brasil, ano que vem para passar alguma isenção para algum setor. O teto vira apenas teórico e voltamos a uma escalada de irresponsabilidade fiscal”, complementa Juan Espinhel, especialista em investimentos da Ivest Consultoria.

Para a economista da Reag Investimentos, a reação do mercado pode piorar nos próximos dias, a depender de como ficar a proposta. “O que incomoda os investidores é a tendência populista eleitoral muito forte que está se sobressaindo aos interesses econômicos e sociais. Além disso, o Congresso poderia buscar um espaço fiscal ainda maior, o que preocupa bastante o mercado”, conclui Simone Pasianotto.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados