Atacarejos e supermercados diminuem estoques de olho na deflação

Produtos presos nos galpões em momentos de queda do preço tendem a impactar negativamente margens das companhias

Vitor Azevedo

(Divulgação)
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A deflação vista no Brasil nos últimos meses foi apontada pelos executivos de companhias como Assaí (ASAI3) e Carrefour (CRFB3) como um dos principais fatores para a redução de estoque vista nas companhias no segundo trimestre.

Em junho, último mês do período, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) trouxe que os preços recuaram 0,08%. Nos alimentos, principais produtos vendidos pelas varejistas citadas, a queda foi de 0,66%. Produtos como o óleo de soja perderam quase 9% e o leite, quase 3%,

Essa desvalorização causa um efeito negativo para as varejistas e atacarejistas: os seus estoques também passam a valer menos, gerando um efeito contábil negativo. O produto adquirido um mês atrás pode, por exemplo, valer menos no momento da sua venda.

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Com isso, obviamente, as companhias se movimentam para não perderem dinheiro durante processo.

No Carrefour, dono do Atacadão, os estoques ficaram em R$ 8,6 bilhões, ou 45 dias, contra R$ 12 bilhões, ou 64 dias, no primeiro trimestre. No mesmo período de 2022 esse número era de R$ 9,3 bilhões ou 49 dias. No Assaí, os estoques no balanço patrimonial saíram de R$ 6,46 bilhões em dezembro último para R$ 6,3 bilhões.

O recuo dos estoques se dá em um momento em que as duas companhias passam por expansões dos seus negócios – o primeiro grupo convertendo unidades compradas do Grupo BIG e segundo, do Extra.

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Ainda no Carrefour, a situação foi comentada pelo diretor executivo (CEO) Stéphane Maquaire, que explicou que o modelo atacarejo sofre do lado da sua receita em um momento de deflação.  “Se a gente fica com um estoque grande no momento em que cada dia ele vale menos, você tem uma situação que é negativa para as margens”, comentou na teleconferência de resultados da companhia.

Belmiro Gomes, CEO do Assaí, lembrou que as vendas no segmento business to business (B2B) fica prejudicada porque donos de negócios como restaurantes e bares também observam a questão e acabam “levando apenas o necessário” – uma vez que sabem que os preços estão com tendência de queda.

Redução de estoques gera caixa

“A lógica dessas empresas diminuírem os seus estoques é a mesma da que se eu olhasse para o lado inflacionário. Na época de inflação muito alta, as pessoas saíam do supermercado com quatro carrinhos porque era vantajoso estocar. Agora estamos absolutamente no momento inverso”, comenta Ana Paula Tozzi, CEO e sócio-fundadora da AGR Consultores.

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“Existe uma pressão na indústria para tentar capturar um preço médio entre a inflação e a deflação que ajude os empresários e no fechamento das contas”, fala Tozzi.

O atacarejo acaba sendo mais impactado pela deflação do que varejistas, uma vez que os empresários ficam mais atentos ao cenário macro e por eles terem, normalmente, a tendência de formar estoques maiores do que as famílias, ou business to consumer (B2C).

As reduções do consumo, porém, faz empresas como Assaí e Carrefour terem uma melhora no seu capital de giro. As companhias, com menor estoque, liberam parte do caixa gasto com esses produtos.

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O Assaí teve uma geração de caixa de R$ 1,8 bilhão de reais vista como positiva pelos analistas, com uma “melhor dinâmica de capital de giro na linha de fornecedores”.  No Carrefour, os executivos falaram durante a reunião com analistas que a redução de estoque ajudou a companhia a ter um bom resultado caixa, também de R$ 1,8 bilhão, apesar dos gastos com as conversões.

Caroline Sanchez, analista de varejo da Levante, no entanto, chama atenção para o fato de que a melhora pode ser pontual.

“As redes acompanham o comportamento do consumidor, porque a lógica é a mesma. Essa melhora que a gente viu no capital de giro, principalmente na linha de fornecedores, e estoque diminuindo nos dias é pontual. Ela acompanha esse contexto da inflação”, comenta.

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