Após o Chipre, Eslovênia será o próximo país a ameaçar a zona do euro?

Economistas e analistas se dividem sobre a situação econômica da Eslovênia, que enfrenta problemas políticos e econômicos; entretanto, situação é diferente do Chipre

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Há três semanas, poucos tinham conhecimento sobre os problemas do pequeno país de Chipre. Até então, a nação era mais conhecida pela situação de tensão e guerra entre as comunidades grega e turca, que levou a uma guerra civil que perdurou de 1963 até 1974 do que por sua situação econômica.

Entretanto, esta pequena ilha, de cerca de 800 mil habitantes, passou a dominar o noticiário atual do grande continente europeu, em meio às negociações para um plano de resgate para o país, devido à situação quase falimentar dos bancos e da própria ilha.

Apesar de alguns analistas avaliarem que o Chipre recebeu destaque por um tempo e será fadado ao esquecimento após a conclusão do plano de resgate, a verdade é que o pequeno país ameaçou a unidade da zona do euro, que já estava fraca em meio à situação econômica crítica do bloco econômico e, principalmente, de grandes países, como Itália e Espanha.

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O fundador da Pimco, maior gestora de fundo de renda fixa do mundo, Mohammed El-Erian, destaca que a maior parte dos analistas econômicos procura se concentrar na situação das economias maiores. Entretanto, avalia, ao fazer isso, eles também devem manter os olhos atentos sobre o que seria considerado normalmente como riscos não-sistêmicos, que podem se espalhar facilmente pela economia.

Neste cenário, avalia El-Erian e outros analistas econômicos internacionais, está a Eslovênia, outro pequeno país europeu que pode afetar a estrutura já bastante frágil do bloco econômico do Velho Continente. A situação bancária do país é bastante complicada.

Graças à especulação que o pequeno país do leste europeu sofre, os preços dos títulos de dívida da nação estão crescendo alarmantemente, deixando os investidores preocupados. O país precisa refinanciar cerca de € 1 bilhão em notas do Tesouro até junho. Seus bancos têm um buraco em seus balanços patrimoniais de cerca de € 4 bilhões.

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O FMI (Fundo Monetário Internacional) estima que a nação precise de cerca de € 3 bilhões a € 3,9 bilhões de financiamento neste ano. Em relatório de junho, a autoridade destacou que bancos eslovenos possuíam uma carteira de € 7 bilhões em dívidas, montante que representa 20% da economia do país, em uma proporção que alimenta o sentimento do mercado sobre a necessidade do país de pedir por ajuda internacional. 

Desafios no campo político e econômico
Além disso, o país passa por uma mudança de governo bastante desafiadora. Alenka Bratusek se tornou a nova primeira-ministra da Eslovênia em meados de março, após um governo marcado por corrupção. Bratusek terá muito trabalho ainda a ser feito. Enquanto do lado político o cenário é bastante conturbado – sendo o terceiro governo do país em apenas dois anos – por outro, a expectativa de queda de 2% do PIB no ano, um setor bancário em crise e o alto déficit orçamental colocam em xeque a economia do país.

Parte desta mudança dependerá de Uros Cufer, o novo ministro das finanças, que precisa tranquilizar os investidores que a Eslovênia segue no caminho da consolidação fiscal e de reformas. De acordo com Cufer, o país não precisará de um resgate financeiro, à medida que pode esperar por taxas menores de empréstimos antes de fazer nossas emissões de dívida. “Não vamos precisar de um resgate esse ano. Estou calmo”, afirmou na última semana. 

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No entanto, segundo avalia o Financial Times, a agenda do novo governo é bastante vaga, com o projeto do governo não incluindo um compromisso concreto com a recuperação econômica e para a estabilização do setor bancário, que perdeu € 664 milhões em 2012.

Neste sentido, o antecessor de Cufer, Janez Sustersic, destaca que uma reestruturação bancária é urgente, uma vez que os bancos eslovenos estarão incapacitados de se financiarem internacionalmente daqui a algum tempo. Neste sentido, a agência de classificação Moody’s rebaixou o rating dos três maiores bancos eslovenos, citando a falta de capital sendo que, em um deles, o governo do país aumentará a sua participação. 

”Eslovênia não é o Chipre”
Os analistas do instituto de pesquisa Markit, segundo divulgado pelo blog Barron’s, ressaltam que a situação da Eslovênia não é tão complicada e que está longe de ser um Chipre. Gavan Nolan, diretor de pesquisa de crédito do instituto, destaca que o setor bancário representa 125% do PIB, bem abaixo da média da União Europeia e longe do Chipre, Irlanda e Reino Unido, assim como uma relação entre dívida e PIB abaixo da média.

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O BCE (Banco Central Europeu) expressou recentemente confiança de que a Eslovênia pediria um resgate. Entretanto, para isso, seria necessário que a nação emita dívidas a rendimentos mais razoáveis, o que parece ser difícil. De acordo com Adrian Miller, diretor de estratégia de renda fixa da BPF, em entrevista para o Barron’s, o ”tempo dirá o que irá acontecer com a Eslovênia, assim como para outros países da zona do euro”, destacando que os custos crescentes de captação pode tirá-la rapidamente do mercado. Os títulos de 10 anos estão rendendo acima de 6% e indo para 7%, um valor considerado insustentável. Enquanto isso, a bolsa do país também vai mal, caindo mais de 14% em 2013.

No entanto, como observou o presidente da Fundação Robert Schuman, Jean-Dominique Giuliani, a situação é bastante diferente da enfrentada pelos cipriotas atualmente. ”O sistema bancário descontrolado que tornou o Chipre insolvente ao atrair grandes quantidades de capital com impostos e taxas de juros irreais assemelham-se a um paraíso fiscal”.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.