Analistas divergem sobre o impacto das mudanças na taxa de juro sobre o câmbio

Alta em torno de 0,5 p.p. na Selic manteria cenário intacto, mas aumento de 0,75 p.p. aumentaria o fluxo de capital no País

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – Entre tantos eventos esperados para esta semana, a agenda desta quarta-feira (28) deverá ser o principal foco de atenção dos mercados, já que nesta data, tanto o Copom (Comitê de Política Monetária) quanto o Fomc (Federal Open Market Committee) anunciarão o futuro das políticas monetárias brasileira e norte-americana, respectivamente.

Enquanto que o consenso dos analistas projeta um cenário “estável” nos Estados Unidos – isto é, juro básico mantido na faixa entre 0% e 0,25% ao ano e sem muitas novidades no comunicado emitido após a decisão -, as opiniões sobre o que ocorrerá por aqui mostram divergência quanto à intensidade do ajuste na Selic.

A expectativa que envolve esses dois anúncios não é por acaso. Nas últimas seis reuniões, o “spread” (diferença) entre os juros praticados em cada um dos países tem se mantido inalterado, em torno de 8,5% (Selic – Fed Fund Rate), desconsiderando os impactos inflacionários. Qualquer modificação que ampliasse essa distância poderia acarretar num maior fluxo de capital estrangeiro no País, assim como um encurtamento nesse espaço possa provocar o contrário.

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Com um desses cenários se confirmando, a expectativa gira em torno da trajetória da divisa norte-americana em relação ao real. Afinal, até que ponto a decisão a ser anunciada pelas autoridades monetárias de Brasil e Estados Unidos poderá impactar na razão de preço entre as moedas dos dois países?

Divergência está na intensidade
Como foi dito, analistas apresentam pontos de vista divergentes em relação a essa questão. Contudo, todos apontam para o mesmo sentido – alta da Selic e queda do dólar no médio prazo. A diferença está na intensidade projetada, sendo que, quanto maior a previsão de elevação na taxa de juro, maior deverá ser a depreciação da moeda norte-americana perante o real.

Cenário I: Selic precificada
Uma das interpretações dos analistas é a de que uma provável alta da Selic já esteja dentro do esperado. É o que enxerga a diretora de câmbio da AGK Corretora, Miriam Tavares, que prevê uma elevação de 0,5 ponto percentual na Selic nesta reunião, patamar este que já está precificado pelo mercado, na visão dela.

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Com isso, Miriam acredita em um cenário de “acomodação”, onde as coisas deverão se manter como estão. “Ou seja, com uma moeda brasileira em tendência de valorização por causa da expectativa que se tem de fluxo de recursos estrangeiro para o Brasil”, afirma.

Contudo, ela diz que, mais importante do que avaliar de quanto será a alta da Selic é analisar o comunicado emitido pelo Banco Central após o final do encontro. “Se ele [o comunicado] estiver sinalizando um aumento mais agressivo da Selic nos próximos meses, o real pode se apreciar um pouquinho mais em relação ao dólar”, diz Miriam.

Em meio ao cenário desenhado para a moeda norte-americana, a analista acredita que a cotação não fique abaixo do patamar de R$ 1,70 em 2010. “Mesmo que o cenário externo não se deteriore e vier bastante recursos pra cá, o governo deve acionar o Fundo Soberano e outros mecanismos para segurar a cotação”, explica Miriam.

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Cenário II: Maior exposição externa; dólar pressionado
Por outro lado, existem aqueles que enxergam uma inclinação do BaCen em aumentar a Selic mais agressivamente. “Depois da declaração do Meirelles [na segunda-feira], eu acredito que os mercados já tiveram se posicionado entre 0,75 p.p. e 1 p.p.”, afirma Reginaldo Galhardo, da Treviso Corretora de Câmbio.

Segundo Galhardo, tanto o presidente do BC quanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, têm se pronunciado sobre a importância de manter a inflação dentro da meta para o manter o fluxo de investimento estrangeiro no País, considerado um importante atrativo para o investidor internacional. “O descontrole da inflação tira todo o rendimento e tira também toda a possibilidade de crescimento da empresa dentro do país”.

Se por um lado assim a inflação permanece sob controle, o “porém” dessa história é que isso aumentará a exposição do Brasil no mercado internacional, diz Galhardo. Operações como de carry trade, onde o investidor busca auferir lucros com a diferença entre as taxas de juros, deverão ser mais vistas no mercado cambial brasileiro, por conta do distanciamento entre os benchmarks.

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Com isso, o fluxo de divisas internacionais no País deverá aumentar, pressionando as cotações do dólar a patamares abaixo de R$ 1,70. “Pra um mercado global que está com juro praticamente zerado no mundo inteiro, exceto algum outro país que está com 3% ou 4% de juro, 1 p.p. (de alta) é muito representativo. Isso força teoricamente a ninguém perder essa oportunidade”, conclui.

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Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers