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SÃO PAULO – As criptomoedas são bastante conhecidas por sua volatilidade, podendo em questão de horas passarem de uma queda de mais de 10% para ganhos expressivos, e vice-versa. O Bitcoin, por exemplo, até o começo de maio, registrava fortes altas, chegando a sua máxima de cerca de US$ 64 mil, mas então iniciou um movimento de correção e já perdeu quase 50% de valor.
Parte dessa volatilidade é intrínseca ao Bitcoin, ou seja, tem relação direta com seu funcionamento e por ser um ativo ainda novo e que está evoluindo no mercado. Mas um outro fator tem ganhado destaques nos debates como algo que impulsiona ainda mais essa oscilação dos preços: a alavancagem.
Esse mecanismo não é exclusivo de criptomoedas, sendo bastante usado também no mercado de ações, por exemplo. Com ele, investidores tentam buscar retornos ainda maiores em sua operações. Mas o processo também eleva bastante o risco do negócio.
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Basicamente, nessa estratégia, um investidor pega “emprestado” com a corretora uma quantia para operar no mercado com mais dinheiro do que ele realmente tem.
No caso do Bitcoin, algumas corretoras permitem que se opere com uma alavancagem de até 100 vezes, ou seja, com o preço de um Bitcoin você consegue operar até 100 bitcoins. Com isso, caso ocorra uma valorização, o lucro será sobre este valor mais alto, possibilitando um ganho maior.
Existem diferentes formas de se operar alavancado. No caso das criptomoedas são usadas principalmente operações no mercado futuro e também em day trade (com compra e venda no mesmo dia).
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Por mais que a alavancagem pareça bastante atrativa, para utilizar esse tipo de estratégia, o investidor precisa de muito estudo, já que os riscos de se perder todo o capital investido também aumentam bastante, uma vez que os mecanismos da operação permitem também que se perca todo o investimento rapidamente.
Alavancagem prejudica o Bitcoin?
Recentemente, durante uma live realizada pela XP, Stefano Sergole, sócio e diretor de distribuição da Hashdex, afirmou que hoje a alavancagem faz um “desserviço para o Bitcoin”.
Segundo ele, essas operações acabam promovendo fortes variações nos preços, tanto para cima quanto para baixo. Sergole afirma que mesmo na máxima histórica atingida em abril, havia um exagero de posições alavancadas, que acabaram levando o preço para níveis exagerados.
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“O fato de conseguir alavancar em 20 ou 30 vezes um ativo pode realmente levar o preço para níveis que, em teoria, não deveriam ser atingidos”, explica o diretor.
Evitando entrar na questão de regulações, porém, Sergole levantou a necessidade de que algum tipo de amadurecimento na indústria é necessário, principalmente por ser ainda um momento de “descoberta de preço” do Bitcoin, que, segundo ele, está “longe de atingir um preço justo”.
Por ainda não ter uma regulação, as regras para alavancagem acabam dependendo apenas das corretoras, permitindo que em alguns locais se possa realizar operações muito alavancadas. Além disso, por ser um ativo negociado no mundo todo, o Bitcoin precisaria sofrer algum tipo de regulamentação que abrangesse todos os países para realmente evitar esse impacto, o que é mais complicado do que acontece com ações.
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Vale lembrar que no mercado acionário brasileiro, por exemplo, apesar das corretoras terem liberdade para definirem algumas regras, como as margens de garantia, a B3 tem normas gerais que precisam ser seguidas como forma de garantir o bom funcionamento do mercado e evitar distorções exageradas nos ativos.
Com a disparada dos preços do Bitcoin desde o fim de 2020, essas operações alavancadas tiveram um forte crescimento no mercado de criptoativos, ajudando a moeda a atingir sua máxima histórica, conforme investidores se empolgavam e tentavam ganhar ainda mais com a possibilidade da valorização continuar.
Porém, com a derrocada iniciada em maio em meio a declarações do CEO da Tesla, Elon Musk, e a China perseguindo empresas que atuem no mercado cripto, esse mecanismo também acabou ajudando a puxar ainda mais os preços para baixo, já que conforme o preço recuava, esses investidores alavancados precisavam zerar suas posições, levando a um grande volume de vendas no mercado.
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“Tem esse fator de manada – o preço de liquidação de todo mundo tende a ser um pouco próximo ao de outras pessoas – quando o mercado cai, todas essas ordens de venda automática entram e o preço simplesmente cai em cascata”, explicou Brian Kelly, CEO da BKCM, durante a queda no início de junho.
Na última semana, Michael Burry, investidor que ficou famoso por ganhar antecipando a crise de 2008 e foi personagem do livro e filme “A Grande Aposta”, também comentou esse cenário: “O problema com cripto, assim como em muitas coisas, é a alavancagem. Se você não sabe quanta alavancagem existe em cripto, você não sabe nada sobre cripto, e não importa o quanto você pensa que sabe”, disse no Twitter antes de excluir sua conta na rede social.
Já Devin Ryan, analista da JMP Securities, também reforça que, principalmente no lado do varejo, a alavancagem tem sido um grande fator que acentua a volatilidade. “Venda gera mais venda até que você encontre um equilíbrio na alavancagem do sistema”, explica ele.
Nessa linha, diversos especialistas citaram que no último mês, após esse movimento de queda, houve uma “limpeza” no mercado, conforme essas posições alavancadas foram liquidadas, o que pode ajudar a trazer mais maturidade para o mercado de criptoativos, sem distorções de preços muito grandes. Mesmo assim, a volatilidade do Bitcoin ainda deve demorar para reduzir.
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